A chamada Creator Economy (ou Economia de Criadores, em tradução livre) está, a cada ano que passa, ganhando não apenas novos adeptos, mas também musculatura. Se antes ser criador de conteúdo era visto como um “hobby”, hoje é fonte de renda primária de um em cada três produtores brasileiros, segundo dados de pesquisa realizada pela consultoria YOUPIX, em parceria com a agência Brunch, especializada em marketing de influência.

Além de ganhos financeiros, os criadores de conteúdo também estão mais profissionais — no sentido literal da palavra. Mais da metade deles (54,5%) relata que possuem CNPJ e emitem nota fiscal para os trabalhos realizados, da mesma forma que autônomos, microempreendedores (MEIs), ou empresas em geral, que seguem todas as burocracias e deveres estabelecidos no País.

A formalização da profissão de criador de conteúdo, registrada oficialmente em 2022 pelo Ministério do Trabalho, por certo colaborou com a estruturação desses novos profissionais no mercado.

Homem de camiseta azul e fones de ouvido está sentado, apoiando os antebraços em uma mesa branca. Ele está de frente para um suporte no qual está acoplado um smartphone que, por sua vez, está realizando uma gravação dele; representando criadores de conteúdo, também conhecidos como influenciadores digitais

Imagem: DC Studio/Shutterstock

Ainda de acordo com a pesquisa, a valorização do trabalho também pode ser vista na mudança dos valores cobrados pelos influenciadores por suas horas trabalhadas. O número de creators que cobram até R$ 500 pelo combo de conteúdo produzido — que era um valor médio há alguns anos — reduziu de 53,7% em 2021 para 28,9% em 2022.

Hoje, 71,3% dos criadores possuem renda individual entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, 24,2% entre R$ 5.000,01 e R$10 mil e 13,4% possuem renda maior do que R$ 10 mil — sendo 4,5% desses criadores com renda ainda maior, acima de R$20 mil mensais.

“Há ainda um longo caminho para promovermos um ambiente digital cada vez mais igualitário e respeitoso socialmente, mas acreditamos que é o tipo de caminho que vale a pena ser trilhado. Seja por meio de marcas fomentando ações afirmativas ou pelo apoio e aceleração de carreira de criadores de conteúdo diversos. Precisamos fazer parte de conversas relevantes para a sociedade, usando da nossa voz para alcançar cada vez mais espaço”, afirma Bia Granja, cofundadora e CCO da YOUPIX.

As mídias sociais preferidas dos criadores de conteúdo

Quase dois terços (60,8%) da renda de criadores de conteúdo se concentram em publis e jobs distribuídos por meio de mídias digitais — plataformas como YouTube, Instagram e TikTok.

O Instagram, no entanto, ainda encabeça a lista de plataformas mais usadas por criadores de conteúdo e marcas, com 75,2% dos entrevistados afirmando que é nessa rede que conseguem fechar mais negócios.

Os dados da mídia social, de operação da Meta, corroboram com a afirmação: a plataforma registrou um crescimento de 9% no caso específico de uso para fins comerciais na comparação com 2021.

TikTok

Imagem: Shutterstock

O TikTok, embora consolidado e inovador para a dinâmica de viralização, ocupa o terceiro lugar na lista de redes mais utilizadas, com 11,8%, atrás do YouTube, com 12,7%.

Segundo Bia, esses números refletem a migração da economia da “Influency Economy”, ou Economia da Influência em tradução livre, para a Economia de Criadores.

“É impactante ver essa mudança, pois ela é fundamental para a evolução do mercado, tanto para marcas quanto para influencers. Estamos tomando cada vez mais consciência da diferença de influenciador e criador, e com isso novas métricas, mais voltadas ao negócio e menos ao alcance, estão ganhando espaço.”

O perfil dos criadores de conteúdo brasileiros

A pesquisa “Creators e Negócios“, da YOUPIX e Brunch,  foi apresentada durante a 8ª edição do YOUPIX Summit, que aconteceu nesta terça-fera (13), em São Paulo e virtualmente. O estudo foi realizado de forma on-line e avaliou as respostas de 314 criadores de conteúdo de todo o Brasil.

A maioria do grupo entrevistado é composta por brancos (63,1%). Boa parte (63,4%) desses profissionais se identificam como mulheres, cerca de um terço (34,1%) se identifica como pertencente ao grupo LGBTQIA+ e outros 9,2% ao grupo representados por PDCs.

Perfil dos criadores de conteúdo brasileiros, de acordo com a pesquisa feita por YOUPIX e Agência Brunch

Imagem: divulgação/YOUPIX e Brunch

Quase metade (46,2%) está no estado de São Paulo, sendo a maioria (77,1%) de capitais ou regiões metropolitanas. Os nichos são mais variados, mas o maior é o de Moda, Beleza e Estilo, com 29,3% de representação.

O perfil em termos de tamanho da audiência também varia bastante, sendo que a fatia mais expressiva (32,5%) tem entre 10 mil e 50 mil seguidores.

As novas categorias de criadores de conteúdo: os infocreators

Ana Paula Passarelli, COO e cofundadora da Brunch, acredita que monitorar a profissionalização desse mercado é essencial para não apenas “consolidar novos indicadores de avaliação para campanhas de influência, mas, principalmente, para atestar que o mercado vem tomando cada vez mais consciência da diferença de influenciador e criador”.

Ela também ressalta que, da mesma forma que “influenciador digital” se consolidou como uma nomenclatura que define uma nova gama de profissionais digitais, outros nomes devem surgir dessa raiz “creator”, enfatizando as múltiplas potencialidades da profissão.

Nesse sentido, o chamado “Infocreator” ganha tração: são os criadores de conteúdo que utilizam-se de plataformas para promover negócios e conhecimentos, mas não necessariamente têm os conteúdos digitais como fonte de renda primária — na verdade, esse tipo de creator se vale de plataformas para criar novas formas de fazer dinheiro.

“O infocreator é o criador que possui especialidade em uma determinada categoria, o que lhe garante a possibilidade de diversificar seu modelo de receita para a criação de infoprodutos, cursos, mentorias, consultorias e demais atividades remuneradas que dependem da sua expertise”, explica Ana Paula.

Em resumo, “uma nova categoria de creators que vai além do compartilhamento do seu próprio estilo de vida e foca no seu conhecimento e especialidade para ensinar algo”, completa. Nessa categoria se encontram, por exemplo, dentistas, dermatologistas e até mesmo advogados.

Hoje, esse tipo de produtor, vale dizer, responde por 21,6% da fatia de profissionais digitais. Em 2021, o percentual era de 9,1%.

Nesse contexto, o TikTok assume a liderança como principal plataforma, com 37,8% dos entrevistados com outro trabalho não relacionado — ou seja, produzem o conteúdo como renda extra. Outros 48,6% têm até 50% da renda oriunda da criação e 21,6% têm 100% da renda relacionada à produção de conteúdo.

Apesar da maioria dos criadores de conteúdo afirmar que adapta peças e criações de acordo com a plataforma, há um formato preferido de repostes (usados em vez de fazer criação exclusiva): vídeos curtos ou short videos — 42,3% usam o mesmo clipe em todas as redes em que atuam.

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