A compra do Twitter por Elon Musk foi possivelmente o acontecimento do ano para quem acompanha o bilionário, mas está longe de ser o único em sua vida. Durante o período em que ele propôs a aquisição, passando por quando tentou correr dela até, efetivamente finalizá-la, uma série de escândalos tomou conta do noticiário envolvendo o nome daquele que já foi o homem mais rico do mundo.

Evidentemente, grande parte disso é culpa de…Elon Musk: muitas controvérsias que acometeram sua vida em 2022 vieram por seu afã por publicar, de forma descontrolada, materiais controversos, desmentidos ou simplesmente estranhos no caráter opinativo – e assim como qualquer pessoa pública, o que ele fala, rapidamente viraliza.

Imagem mostra o bilionário Elon Musk, sentado com o queixo pousado sobre as mãos, com um rosto contemplativo

Imagem: Noah Berger/Bloomberg

Em janeiro deste ano, a primeira “rusga” veio pelo próprio Elon Musk: o bilionário abordou Jack Sweeney, o internauta por trás da conta “ElonJet” no Twitter. O perfil acompanhava as atividades dos voos de avião alugados por Musk, divulgando as informações abertas – nada privado – horas depois da realização da viagem. Musk lhe ofereceu algo perto de R$ 30 mil para que ele parasse, mas foi prontamente recusado.

Guardem esse episódio, pois ele voltará daqui a pouco.

Ao longo de fevereiro e março, Musk ficou relativamente quieto, publicando postagens voltadas à Tesla ou à SpaceX, as duas principais empresas de muitas que ele comanda. Em 31 de março, no entanto, Musk já estava prometendo criar uma rede social própria para contornar o Twitter, que segundo a sua percepção, não dava espaço à liberdade de expressão.

O bilionário, a rede social e…minha nossa, que novela!

Estava posicionado o pano de fundo que ditaria o rumo das conversas ao longo do resto do ano: em abril, Musk afirmou a compra de quase 10% das ações do Twitter, tornando-se o maior acionista da empresa e, esperava ele, quase conseguiu uma cadeira no board de conselheiros e diretores, o que não aconteceu.

A fim de colocar um limite no controle de Musk, o Twitter adotou uma estratégia conhecida como poison pill (“pílula envenenada”, na tradução livre): essencialmente, a empresa abriu maiores possibilidades de compras de ações, barateando o valor unitário de cada papel e, consequentemente, diluindo os quase 10% controlados pelo bilionário. A resposta de Musk: “vamos atirar mais dinheiro no Twitter”.

Isso foi feito…por meio de uma proposta de US$ 44 bilhões que levaria Elon Musk à cadeira de CEO do Twitter meses mais tarde. Entre a proposta, a aceitação dela, o contrato que firmava a negociação, a tentativa de fugir da compra que ele mesmo sugeriu e sua aceitação para impedir mais uma derrota na justiça, em outubro de 2022, Elon Musk torno-se o dono do Twitter, imediatamente pedindo a cabeça de Parag Agrawal, então líder da rede social e escolhido do próprio Jack Dorsey, criador da plataforma.

A linha dura de “limpeza” continuou na semana seguinte: no primeiro final de semana como CEO, Musk confirmou a demissão em massa de milhares de funcionários, entrando em discordância com o Ato de Notificação de Ajuste e Retreinamento do Trabalhador (WARN, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Elon Musk compra o Twitter

Imagem: Shutterstock

Pelo que rege a lei americana, demissões motivadas por reestruturação empresarial – ou seja, sem justa causa direta de erro do funcionário ou da empresa – devem obrigatoriamente ser notificadas com 60 dias de antecedência. Assim, foi instaurado o primeiro inquérito de investigação trabalhista contra o Twitter pós-Elon Musk.

O que veio em seguida foram meses de dúvidas, questionamentos e um massivo abandono de gente graúda, que passou a ver a nova gestão como problemática, permissiva com desinformação e abuso que, há muito, consideravam excluídos ou, no mínimo, minimizados: Musk permitiu a volta de gente nociva – Andrew Tate, por exemplo, o influenciador foragido dos EUA e preso nesta semana na Romênia, acusado de crime de estupro e de gerenciar uma operação de tráfico humano e exploração sexual.

Foi tanta coisa que fica difícil relacionar completamente neste texto: aqui no site, as quatro primeiras páginas da tag “Elon Musk” são dedicadas aos percalços dele na gestão do Twitter (isso que ainda temos a tag “Elon Musk no Twitter” como reforço para tentar segmentar ainda mais o volume de informações). Entre destaques e notas publicadas, nosso site lista 22 publicações por página interna: faça as contas.

Todo o problema de Musk com o Twitter vem da noção de que o homem decidiu mudar – para pior – coisas que já funcionavam bem antes dele: o programa de verificação de usuários, por exemplo, contemplava confirmação de identidade a criadores de conteúdo, empresas, celebridades e personalidades políticas, além de conferir confiabilidade ao perfil como uma conta que veiculava informações de fontes mundialmente reconhecidas.

Musk reformulou o processo, jogando o “selo azul de verificação” para o Twitter Blue, a parte paga da rede social: depois de três meses lançando, revogando, adiando e relançando, a plataforma foi ao ar no último dia 12, mostrando que qualquer pessoa que pagasse por ela era, automaticamente, verificada, independente da capacidade do perfil de veicular informações idôneas.

O resultado foi o mais óbvio possível: conforme levantamento feito pelo Mashable, vários perfis pagantes começaram a alterar as apresentações de suas contas, se passando por esportistas famosos e postando informações falsas – não, LeBron James não pediu transferência para nenhum time e ainda joga basquete pelos Lakers de Los Angeles, mas um tuíte verificado disse exatamente isso.

Há também o problema de Elon Musk não saber manter os assuntos internos da casa, dentro de casa: em uma interação particularmente tosca, o CEO criticou a lentidão do app oficial da rede social nos dispositivos Android, jogando a responsabilidade disso no time de desenvolvimento. O líder da equipe o respondeu, publicamente, dizendo que ele estava errado e mostrando onde estava o erro ao ser questionado pelo chefe.

É, então, Musk mandou o cara embora. E agora recém demitido, o ex-funcionário passou a responder todos os pedidos de entrevista enviados pela mídia.

Ah, sim: lembra do “ElonJet”? O assunto voltou à tona após Musk assumir o controle do Twitter: ele baniu não só o perfil mencionado, como também os de jornalistas que cobriam o assunto em veículos de alta circulação, como Washington Post e WIRED. O bilionário acusou todos de doxxing, mas esqueceu de mencionar que nenhuma informação divulgada era privada, e todo o material só entrava no ar horas depois do próprio Musk mudar seu trajeto.

Fora isso, tivemos vários outros episódios: a pequena rusga com a Apple, o próprio Musk afirmando em depoimentos que ele nem quer ser o CEO de qualquer uma de suas empresas, as falhas de segurança do Twitter sob sua gestão, ele ordenar a mudança de regras de interação de enquetes porque…não gostou do resultado de uma enquete que ele mesmo publicou

Há também que se mencionar a inadimplência do aluguel da sede da empresa, que Musk simplesmente…deixou de pagar (segundo o New York Times), a demissão de moderadores de conteúdo que impediam a circulação de desinformação (CNBC) e até o uso desenfreado de ações da Tesla para financiar a manutenção das contas do Twitter após a aquisição – sim, literalmente, usar o dinheiro de uma empresa para pagar as contas de outra, o que acarretou na queda de 28% no valor de ações da montadora automotiva, irritando investidores.

Imagem de 2018 mostra Elon Musk fumando maconha em podcast nos EUA

Imagem: The Joe Rogan Experience (2018)/Reprodução

Mas teremos mais Elon Musk em 2023?

Ao todo, o ano de 2022 foi deveras conturbado para Elon Musk – e olha que nem estamos falando dos filhos que não querem saber dele, dos outros dois filhos que ele teve com uma funcionária de outra empresa, das indiretas que ele leva da ex-esposa Grimes.

Sabe o que é mais digno de atenção? Isso está só começando: tudo o que você leu até aqui aconteceu num período de dois meses e meio, três meses no máximo. A real “ação” começa mesmo em 2023, quando Musk efetivamente ser o CEO de facto do Twitter e começar o ano já implementando as mudanças que desejar.

É, a gente ainda vai trabalhar bastante esse assunto no ano que vem…

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