Aparentemente, publicar tuítes relacionados ao hábito de contratar jatos particulares de Elon Musk faz com que você seja suspenso do Twitter. Foi o que aconteceu com pelo menos seis jornalistas de grandes veículos da imprensa internacional, que viram suas contas serem desativadas após produzirem postagens que revelassem a localização do jato.

De acordo com o The Verge, todos os suspensos ainda conseguem acesso a algumas funções – como o Twitter Spaces – e usaram desta premissa para organizar uma conversa: durante o bate-papo, uma transmissão com dois dos jornalistas em questão, além da conta “@ElonJet”, Musk acabou acusando todos de “evasão de banimento”. Vale citar, a própria conta “ElonJet” também foi suspensa.

“ElonJet” é como ficou conhecido o hábito de Elon Musk de contratar jatos particulares para viajar pelos EUA – a conta com o referido nome postava a localização do CEO do Twitter sempre que algum jato do tipo era contratado por ele.

A situação é meio nebulosa: por um lado, jatos privados também são publicamente monitorados e seus dados – incluindo GPS – são publicamente compartilhados. Por outro, quem contrata esses serviços ou compra um jato particular pode requisitar à agência regulatória de aviação civil dos EUA – a FAA – que “alguns” desses dados sejam resguardados em nome da privacidade, mas não há informação sobre “quais” dados.

O entendimento de Elon Musk é o de que ele foi vítima de “doxing” – uma modalidade de cibercrime cuja natureza é a divulgação pública de informações pessoais de alguém, como endereço residencial ou números de documentos, por exemplo. Entretanto, os jornalistas têm dois argumentos fortes a seu favor: o primeiro é o de que não foram eles a divulgar a informação, apenas repercuti-la na mídia (algo assegurado como um dos direitos de imprensa); e a segunda é a de que a informação divulgada não é exatamente privada.

“Você faz doxxing, você é banido. Simples assim.” – Elon Musk, CEO do Twitter

Entre os fãs de Elon Musk, a medida encontrou amplo apoio, com o bilionário chegando até a publicar uma enquete sobre quando ele deveria permitir que os jornalistas suspensos voltassem à rede. A enquete não acabou como ele esperada, e a maioria dos votantes selecionou a opção de que o retorno fosse imediato. Posteriormente, ele acabou refazendo a enquete, adicionando mais opções e, novamente, ele acabou derrotado, com internautas votando pela restauração imediata dos perfis suspensos.

Vale ressaltar: Musk admitiu em um passado recente que toma decisões baseadas em resultados de enquetes. Foi assim que ele decidiu, por exemplo, trazer o ex-presidente Donald Trump de volta à rede. O perfil do antigo mandatário estadunidense foi restaurado ao final de novembro, embora Trump já tenha falado que não voltará a usar a plataforma.

Captura de tela mostra enquete feita por Elon Musk no Twitter, onde ele questiona se deve ou não restaurar perfis críticos a ele banidos pelo Twitter

Imagem: The Verge/Reprodução

Em um e-mail enviado ao Verge, Ella Irwin, chefe de segurança e confiabilidade do Twitter, mencionou uma nova política da empresa, na qual ela proíbe a “informação de localização em tempo real, incluindo a informação compartilhada no Twitter, seja diretamente ou por meio de links de empresas terceirizadas”. O The Verge ressaltou, no entanto, que a nova regra é, literalmente, “nova”, sendo implementada no começo desta semana. Os tuítes dos jornalistas afastados foram ao ar antes disso.

“Sem comentar sobre nenhuma conta específica, eu posso confirmar que nós vamos suspender quaisquer contas que violem as nossas políticas de privacidade e coloquem outros usuários em risco. Nós não fazemos exceções a esta política para jornalistas ou qualquer outro tipo de conta.” – Ella Irwin, Head de Segurança e Confiabilidade do Twitter

Em um tuíte publicado mais cedo, Musk chegou a dizer que os jornalistas “postaram a minha localização exata em tempo real, basicamente, coordenadas de assassinato, em uma (óbvia) violação direta dos termos de uso do Twitter”. Os parênteses são dele. Como o The Verge explica e nossa pesquisa já mostrou, contudo, que as informações compartilhadas são públicas, e não veiculam dados mais exatos, como o manifesto de um voo.

Contas como a ElonJet e outras anteriores com a mesma finalidade são amplamente usadas por ambientalistas para medir o volume de poluição ejetada pelos hábitos de voo de bilionários. No passado, Bill Gates, as irmãs Kendall e Kylie Jenner e o próprio Elon Musk foram criticados por isso, aliás.

Inclusive, a conta ElonJet e o CEO já tiveram problemas no passado: em algum momento no passado, Elon Musk admitiu ter oferecido US$ 5 mil (R$ 26,46 mil) para que o dono da conta a removesse do ar, o que não foi aceito. Musk chegou a dizer que os dados que a conta compartilhava levaram um stalker a subir no capô de um carro onde estariam seus filhos, mas não ofereceu provas de que isso aconteceu nem tampouco como a localização de uma viagem aérea dele levou alguém a chegar aos filhos dele (eles não estavam juntos).

Tudo isso, no entanto, ocorreu antes de Musk comprar o Twitter.

A situação coloca mais uma controvérsia na conta de Elon Musk, que desde que assumiu o controle da rede social, vem promovendo um discurso de que “ele” quem trouxe de volta a “liberdade de expressão” à plataforma, mas suas ações mostram justamente o contrário, com o CEO deliberadamente – e, por vezes, publicamente – atacando críticos ao seu trabalho.

Até agora, Ryan Mac (New York Times), Donie O’Sullivan (CNN), Drew Harwell (Washington Post), Micha Lee (The Intercept), Matt Binder, Aaron Rupar e Tony Webster (Mashable) estão entre os perfis suspensos. Musk também suspendeu a conta do Mastodon, a rede social descentralizada que concorre com o Twitter, após acusá-la de publicar informações sobre seus voos.

via The Verge

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