Não que você já não tivesse essa suspeita, mas Elon Musk só comprou o Twitter porque ele achou que seria judicialmente forçado a isso. Quem admite esse fato é o próprio Musk, que concedeu entrevista à BBC por meio da ferramenta Twitter Spaces.

Conversando com o jornalista James Clayton, o CEO da rede social foi pressionado a falar do momento de aquisição – no início de 2022, Elon Musk fez uma proposta de US$ 44 bilhões (R$ 217,58 bilhões) pela aquisição da empresa, apenas para desistir dela.

O Twitter, então, acionou a justiça americana para validar a proposta, com o bilionário efetivando a compra em outubro do mesmo ano (e perdendo US$ 200 bilhões nos meses seguintes).

Elon Musk compra o Twitter

Imagem: Shutterstock

Pela transcrição no trecho abaixo:

“Clayton: Então você mudou de ideia de novo, e decidiu pela compra – foi você quem fez isso?

Musk: Bom, eu meio que tive de fazer isso.

Clayton: Certo. Você fez isso porque achou que uma corte judicial obrigaria você a fazê-lo?

Musk: Sim.

Clayton: Certo.

Musk: Sim, esse é o motivo.

Clayton: Então você ainda estava tentando escapar da compra. E aí você foi aconselhado por advogados a ‘Olha, você vai comprar’. Foi isso?

Musk: Sim.”

Elon Musk, Twitter e eternas polêmicas

O TecMasters cobriu os procedimentos do assunto ao longo do ano passado, mas vale refrescar a memória: entre março e abril, Musk, pelo seu perfil no Twitter, afirmou a intenção de formalizar proposta de aquisição da rede social de microblogs. Falamos “entre março e abril” pois foi esse o tempo entre o primeiro tuíte [dele] sobre o assunto, e a formalização da proposta por vias legais.

Do final de abril até meados de setembro, foram várias idas e vindas na Justiça, com acionistas de outras empresas de Musk – sobretudo, a Tesla Motors – tentando desfazer o negócio. O próprio bilionário acusou o Twitter de maquiar números em relação à incidência de contas fake na rede, como uma tentativa de argumentar um escape da proposta já formalizada.

No começo de outubro, embora ele tenha tentado fazer parecer que mudou de ideia, a negociação voltou sob ameaça de sério processo e multa bilionária incidindo sobre a fortuna de Musk caso a negociação não fosse para frente. Aqui fica o “pulo do gato”: a realidade é a de que Musk se viu contra a parede – ou ele finalizaria a compra que ele mesmo sugeriu fazer, ou teria um golpe forte nos seus ativos financeiros judicialmente forçado em processo movido contra ele pelo Twitter.

Ao final de outubro, a novela teve seu capítulo final e Elon Musk efetivamente tomou seu lugar como CEO do Twitter.

Desde então, o bilionário vem se preocupando em criar várias formas de monetizar a sua compra a fim de fazê-la gerar lucro: a mais notável é a remoção dos selos de verificação de identidade para usuários legado, agora com a função sendo relegada a qualquer um que assine o Twitter Blue, a parte “paga” da plataforma.

Fora isso, várias outras vias de faturamento foram criadas ou alteradas: a verificação em dois passos via SMS passou a ser tarifada para o usuário, o “selo dourado” de identidade, voltado a empresas de alto renome ou entidades governamentais, passou a ser cobrado também, e várias ferramentas que asseguravam mais privacidade aos perfis foram mudadas – a mais recente, segundo reclamações, é a eliminação da “Roda de Amigos”, onde apenas pessoas aprovadas por você poderiam ver ou interagir com seus tuítes. Esta última, no entanto, ainda não tem confirmação oficial.

Na época do debate judicial, no entanto, o discurso “oficial” da equipe de Musk era o de que o caso que ele tentava fazer na Justiça era fraco e, portanto, não compensaria levar a briga adiante. Em resumo: “eu vou perder de qualquer jeito, então vou seguir em frente com a compra”.

Não foi bem assim: o Twitter processou Musk, e o sistema judiciário acatou a argumentação do Twitter. Entre uma coisa e outra, no entanto, Musk notou a iminente derrota e decidiu – antes de ser condenado a fazê-lo – prosseguir.

Com a entrevista à BBC, Elon Musk enfim admitiu o que já era óbvio: sua ideia impulsiva de março/abril foi imposta a ele pela Justiça.

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