Elon Musk é um cara popular, mas não popular assim. Essa é uma verdade desconfortável para ele, que obrigou engenheiros do Twitter a criar um sistema que força os usuários a verem os tuítes dele primeiro, e o de outras pessoas depois.

O motivo: aparentemente, Musk não gostou nada de saber que suas publicações sobre o Super Bowl (o maior evento do futebol americano) do último domingo tiveram uma audiência pior que as feitas pelo presidente dos EUA, Joe Biden, sobre o mesmo assunto.

Elon Musk - Twitter

Imagem: Shutterstock

Sim, é sério: tal qual o Quico, que tinha que mostrar um brinquedo melhor porque viu o Chaves brincar com a sua versão “pobrinha”, Musk, por pura birra, ordenou a criação de um formato de exibição onde o Twitter vai mostrar primeiro os tuítes de seu próprio CEO – ao invés de dito CEO, de repente, lidar com o fato de que popularidade na internet é algo que vem e vai dependendo de contexto e momento.

De acordo com o Platformer, que entrevistou envolvidos no projeto em caráter de anonimato, a ordem veio de James Musk – primo “do homem” – após aparente frustração do CEO. Pelo site, James disse o seguinte no grupo de trabalho da empresa no Slack:

“Precisamos fazer o debug de um problema de engajamento por toda a plataforma. Qualquer um que trabalhe na criação de painéis de controle e escrevam softwares por favor nos ajudem a resolver este problema. Isso é de alta urgência” – James Musk

Conforme os engenheiros se apresentavam à convocação, o problema foi explicado: enquanto Biden tuitou dizendo que torceria para o time do Philadelphia Eagles em favorecimento à sua esposa e primeira dama, Jill Biden; Musk também publicou seu apoio ao time da maior cidade do estado da Pensilvânia.

O “terrível” suplício: Biden teve aproximadas 29 milhões de visualizações em seu tuíte. Musk teve “apenas” nove milhões.

Assim como o Eagles perdeu para os Chiefs de Kansas City, Musk entrou em seu jatinho “perdendo” para Joe Biden – o mesmo jato que rendeu banimento de uns jornalistas do Twitter – e se dirigiu à sede da rede social em São Francisco. O chefão tinha perguntas a serem feitas. Uma coisa levou à outra e James, um dos dois primos que Musk contratou para cargos de confiança no Twitter, convocou a equipe (mesmo ele próprio não sendo da equipe).

Segundo os entrevistados, a manhã seguinte viu vários usuários questionando o motivo de Elon Musk estar tão evidente na rede social – alguns casos, inclusive, viram publicações do CEO serem levadas a perfis onde ele estava silenciado, ressaltando uma ferramenta que já falamos aqui no TecMasters. Isso não foi à toa: o algoritmo que determina o que será exibido na linha do tempo de um usuário foi forçadamente alterado para…favorecer Musk.

Mais ainda: o próprio CEO ameaçou demitir engenheiros que não participassem da alteração, ou que o questionassem. Na semana passada, ele inclusive fez isso, quando um engenheiro respondeu que o interesse no chefe vinha diminuindo simplesmente porque nem tudo o que ele faz precisa ser uma notícia gigante – algo natural, aliás.

“Na madrugada de domingo para segunda, Musk falou ao seu time pessoalmente. Cerca de 80 pessoas foram incumbidas de trabalhar no projeto, que rapidamente se tornou a primeira prioridade da empresa. Funcionários trabalharam ao longo da noite, investigando várias hipóteses sobre o que levou os tuítes de Musk a não atingirem tantas pessoas quanto eles achavam que deveriam, além de testar várias soluções.

Uma possibilidade, disseram os engenheiros, é a de que a popularidade de Musk pode ter sido reduzida por ele ter sido bloqueado e silenciado por muita gente nos últimos meses. Mesmo antes dos eventos do último final de semana, a longa jornada de Musk como personagem principal do Twitter (…) levou um grande número de pessoas a filtrá-lo para fora de seus próprios feeds.” – Platformer

Montagem colocar Joe Biden e Elon Musk lado a lado

Imagem: Matt Smith Photographer/Shutterstock/Noah Berger/Bloomberg

No alvor da segunda-feira (13), a solução encontrada: toda e qualquer publicação assinada pelo perfil de Elon Musk tem sinal verde automático, efetivamente passando por cima dos filtros de moderação de conteúdo do Twitter.

Explicando: o algoritmo do Twitter – em condições normais – “segura” uma publicação sua para que as ferramentas de moderação possam avaliá-la. Isso é feito para impedir que discursos racistas, nazistas, misóginos ou de qualquer outro preconceito ou ódio não circulem na rede (sim, “mas na prática” etc.: sabemos). Mas também servem para impedir que poucos perfis circulem para gente demais – o chamado flood de postagens.

Musk não precisa mais obedecer a nada disso. Independente do que ele falar, a publicação vai passar. Porque é do Musk. E Musk pode.

E sim, o próprio CEO reconheceu isso: na tarde de segunda-feira, ele postou um meme legendado do “leite forçado”, com a sugestiva legenda dos seus tuítes sendo o leite, e o Twitter, a pessoa bebendo leite “na marra”.

A ferramenta, inclusive, tem um nome – ainda que não oficial: “multiplicador de usuário com poder” – e sim, apenas Musk desfruta desse benefício. Justiça seja feita, porém, ele próprio disse que ajustes seriam feitos e, ao menos em parte, a ferramenta seria retirada ou diminuída. Na terça (14), isso pareceu se confirmar: Musk ainda apareceu pacas, imprimindo 42 milhões de visualizações entre algumas poucas postagens – essa é a parte alta de sua média de audiência, mas não é o exagero do dia anterior.

Imagem da página inicial do Twitter em um smartphone

Imagem: Sattalat Phukkum/Shutterstock

A situação não desceu bem aos usuários do Twitter: alguns levantaram preocupações sobre o potencial de desinformação a ser veiculado pelo CEO. Musk teve problemas com isso no passado, tendo até que pedir desculpas por certas palavras mentirosas. Mas agora, figurativamente e literalmente “sem filtros” para fazê-lo pensar duas vezes antes de escrever (ou falar), o CEO da empresa tem realmente poucas amarras para colocar seu discurso em xeque.

Verdade seja dita, esse é um contexto que aparece em qualquer rede social: todas as plataformas priorizam a exibição de publicações vindas de perfis populares – influenciadores, celebridades, empresas famosas e programas de TV, por exemplo – e a ciência por trás disso não é das mais exatas, variando de rede para rede.

Além disso, a audiência do próprio Elon Musk é incrivelmente flutuante: com quase 130 milhões de seguidores, seu tuíte sobre o “leite forçado” rendeu quase 151 milhões de visualizações até o fechamento desta matéria. O tuíte seguinte a este – uma piada sobre histórico de navegação em browsers e o nome do ex-presidente Abraham Lincoln – ainda não chegou a 60 milhões.

Um entrevistado do Platformer sintetizou a situação melhor que qualquer analista poderia:

“Ele [Musk] comprou a empresa, ressaltou o que ele achava que estava quebrado e manipulado pela gestão anterior, mas daí ele vira e manipula a plataforma para forçar o engajamento de todos os usuários a ouvir apenas a voz dele. Eu acho que já passamos do ponto de acreditarmos que ele de fato quer o que é melhor para todos aqui.”

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