Atualmente, o lema de grandes empresas, como Apple e Meta (ex-Facebook), é a proteção da privacidade dos usuários. Isso se estende para seus principais produtos, respectivamente, iMessage e WhatsApp.

No entanto, em um documento do FBI, obtido pela Rolling Stone, a agência descreve como é fácil coletar dados desses serviços – e isso pode ser feito, inclusive, em tempo real. O texto não levanta dúvidas sobre a capacidade desses apps de impedir a invasão de hackers, mas deixa claro que agências de aplicações de lei têm várias vias legais para coletar dados confidenciais desses usuários.

Na verdade, o documento é uma espécie de guia interno do FBI que detalha quais tipos de dados agências de segurança estaduais e federais podem obter de nove dos maiores aplicativos de mensagens.

O site que obteve as informações enviou o material para especialistas jurídicos e tecnólogos para que eles analisassem a quantidade de dados que o FBI poderia coletar. Alguns se mostraram bastante surpresos com o quão detalhadas são as informações que podem ser obtidas a partir do WhatsApp.

No entanto, ao que parece, há “níveis” de dados de acordo com o tipo de solicitação. Uma intimação renderá apenas informações básicas do usuário, enquanto um mandado de busca vai oferecer a lista de contatos do utilizador.

Em nota, um porta-voz do WhatsApp reconheceu que a empresa pode colaborar com autoridades, mas que só consegue oferecer o conteúdo de mensagens de forma prospectiva, não retroativa.

Isso porque, segundo a criptografia de ponta a ponta, as autoridades não podem acessar esse conteúdo. “Analisamos, validamos e respondemos cuidadosamente às solicitações de aplicação da lei com base na legislação aplicável e somos claros sobre isso em nosso site e em relatórios de transparência regulares”, disse o porta-voz.

Mesmo sem a possibilidade de solicitar o teor das mensagens, é possível obter metadados sobre quais usuários conversam entre si, quando o fazem e quais outras pessoas eles têm em sua lista de contatos.

A grande preocupação das autoridades de segurança é com jornalistas e outros profissionais que precisam manter a confidencialidade de suas fontes. “O WhatsApp oferecer todas essas informações é devastador para um repórter que se comunica com uma fonte confidencial”, diz Daniel Kahn Gillmor, tecnólogo sênior da American Civil Liberties Union (Aclu).

Além disso, não se sabe quais os poderes de espionagem das forças de segurança. “Provavelmente para todas essas plataformas, se a polícia colocar a mão no dispositivo de alguém, nenhuma quantidade de criptografia de ponta a ponta irá proteger as informações”, comenta Nathan Freed Wessler, vice-diretor de discurso e privacidade da Aclu.

Apple e o FBI

Apple iPhone

Imagem: Gilles Lambert / Unsplash

Já no caso da Apple, quando a empresa recebe uma ordem judicial ou mandado de busca e apreensão, deve entregar informações básicas do usuário, bem como 25 dias de dados sobre consultas feitas no iMessage, como o que o utilizador buscou e com quem conversou.

Vale lembrar que, assim como o WhatsApp, isso não inclui o conteúdo real das mensagens, nem como se os textos foram compartilhados entre diferentes usuários.

No entanto, a quantidade de dados disponíveis para aplicação da lei é muito maior do que os que podem ser fornecidos pelo WhatsApp. Isso porque, se um usuário faz backup de sua atividade do iMessage no iCloud, o FBI pode solicitar esses backups do dispositivo, incluindo mensagens reais enviadas e recebidas.

Segundo Gillmor, a Apple tem a capacidade de implementar criptografia de ponta a ponta no iCloud, mas não o faz por conta da pressão imposta por agências federais que dizem que criptografar esses dados totalmente seria interferir em habilidades investigativas do governo.

Dados de outros aplicativos

Seguindo a lista de apps que podem fornecer informações está o Signal. No entanto, aqui, os dados são bastante restritos, já que a empresa oferece apenas data e hora em que alguém se inscreveu no aplicativo e quando se conectou pela última vez.

O Wickr oferece informações sobre quando alguém criou sua conta e dados básicos dos assinantes, não os metadados detalhados.

Mesmo assim, a quantidade de usuários dessas duas plataformas, como descreve o próprio FBI, é bem menor do que os que usam o WhatsApp e o iMessage, por exemplo.

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