O CEO da Sony Interactive Studios (SIE, popularmente conhecida como “PlayStation”), Jim Ryan, entregou seu depoimento à Comissão Federal de Comércio (FTC) dos EUA, em relação ao processo do órgão contra a Microsoft, sobre a sua proposta de aquisição da Activision Blizzard.

Em um vídeo pré-gravado de pouco mais de 70 minutos, o executivo abordou diversos assuntos que já vinham sendo discutidos entre a FTC e a Microsoft, oferecendo o seu ponto de vista. Obviamente, ele continua sendo contrário à aquisição, mas ele próprio admitiu que esse posicionamento só veio em agosto de 2022 e, antes disso, a Sony nem ligava para a negociação. Veja a seguir alguns pontos de interesse (via IGN):

Imagem mostra o presidente da divisão PlayStation na Sony, Jim Ryan

Jim Ryan, presidente da Sony Interactive Studios (Imagem: EssentiallySports/Reprodução)

O “problema” se chama “Phil Spencer”

Segundo o depoimento oferecido por Ryan, a Sony não teve nenhuma reação quando a Microsoft anunciou a proposta de compra da Activision Blizzard – avaliada em algo perto de US$ 70 bilhões (R$ 339,87 bilhões). Para a fabricante do PlayStation 5, era mais um dia de negócios.

Isso mudou em agosto do ano passado, quando Jim Ryan trocou e-mails com Phil Spencer, o líder global da marca Xbox. Embora o CEO do PlayStation não tenha informado o conteúdo deste e-mail, ele diz que foi essa correspondência que “acionou os alarmes” na empresa japonesa.

O relato tem mérito, haja vista que foi em meados de agosto que preocupações com a proposta começaram a ser divulgadas pela Sony – as opiniões emitidas anteriormente eram somente isso, opiniões.

O tal e-mail, aliás, pode ser a tal “carta de Phil Spencer à Sony” que noticiamos em 5 de setembro. Faz sentido que, dada a data da notícia, a correspondência tenha vindo antes: o material mencionava deliberações das duas empresas para a manutenção da franquia Call of Duty nos consoles PlayStation. Em seu depoimento, Jim Ryan afirmou que “os alarmes” vieram quando Phil Spencer “falhou em adereçar as preocupações da Sony em seu contato”.

“Nós acreditamos que a Microsoft tem a intenção de usar o Call of Duty para causar desvantagem ao PlayStation, no que tange à disponibilidade ou à maneira pela qual o jogo seja permitido sair nos consoles PlayStation, e forçar nossos jogadores às plataformas fo Xbox – especificamente, o Game Pass.” – Jim Ryan, CEO da SIE

A exclusividade de ‘Starfield’ não é anticompetitiva, mas a Sony achava que teria o jogo antes da aquisição da ZeniMax

Confirmando o que dissemos na última semana, a Sony esperava que Redfall e Starfield, da Bethesda Game Studios, eventualmente sairiam para os consoles PlayStation. No entanto, de acordo com Jim Ryan, a empresa japonesa ficou surpresa quando a aquisição da ZeniMax (dona da Bethesda) pela Microsoft tirou esses planos dos trilhos.

Hoje, como sabemos, os dois jogos são exclusivos do Xbox:

“Eu não gosto disso, mas eu não acho que seja anticompetitivo. [Mas] praticamente todo jogo da Bethesda vinha sendo multiplataforma antes de sua aquisição.”

Embora algumas exceções – a saber, Deathloop e Ghostwire Tokyo – existam, o assunto voltou à tona com citações a Starfield, Redfall e, bem mais posteriormente, Elder Scrolls 6. Entretanto, ao menos no que tange a Starfield, é confirmado que parte dos motivos que levaram à compra da Bethesda, foi justamente a de tirar o PlayStation das plataformas contempladas pelo épico espacial.

Vale citar, no entanto, que o próprio Ryan admitiu que, no caso da Activision, ele via sim a prática como problemática e chegou até a ligar para Bobby Kotick, CEO da Activision Blizzard, para tentar barrar a aquisição da Microsoft.

Entretanto, questionado pelos advogados envolvidos se a Microsoft tornaria exclusivos os jogos da Activision, Ryan enfaticamente disse: “honestamente, eu não acho que isso vá acontecer.”

A própria Sony pode dificultar os jogos da Activision no PlayStation

Se o acordo for aprovado e a Activision virar uma propriedade da Microsoft, Jim Ryan enfatizou que a Sony deixará de fornecer kits de desenvolvimento do PlayStation 5 para a empresa.

Isso porque os kits de desenvolvimento de jogos envolvem, entre outras coisas, a abertura de segredos corporativos e de segurança de fabricantes de consoles: um devkit (antigamente conhecido como “console debug”) é essencialmente uma versão da plataforma completamente aberta, voltada a desenvolvedores. Para a Sony, fornecer algo tão precioso a, essencialmente, uma empresa concorrente seria “entregar o ouro”.

“Nós simplesmente não podemos correr o risco de uma empresa que é subsidiária de nosso concorrente direto acessar essa informação. Isso poderia vazar para outras partes da Microsoft e, potencialmente, permitir a ela desenvolver funções similares às que, podemos argumentar, nós inventamos.”

A premissa encontra reflexo na realidade: em ocasiões passadas, o próprio Phil Spencer afirmou que a Sony havia demorado em fornecer devkits para a Microsoft em outros jogos – por essa razão, não há uma versão nativa de Minecraft no PlayStation 5 (a Mojang, que fez o jogo, foi comprada pela Microsoft em setembro de 2014).

Desnecessário dizer que, devido à natureza da aquisição e como a Sony pode enfrentar a situação, os jogos da Activision podem acabar passando pelo mesmo caminho. No melhor cenário, ports e adaptações de outras plataformas chegarão bem mais tarde ao PlayStation 5, enquanto o pior é os jogos da empresa sequer saírem.

Para a Sony, a compra da Bungie foi um melhor negócio do que a Microsoft com a Activision

Jim Ryan nunca entreteu a ideia de comprar a Activision. Isso porque, por suas próprias palavras, a Sony fez um negócio melhor ao adquirir a Bungie em 2022. O estúdio por trás de jogos como a franquia Destiny e o sistema de usuários Bungie.net (similar, mas bem menor, que o Battle.net da Activision Blizzard) já foi uma propriedade da Microsoft quando fez nascer a franquia Halo, mas as companhias se separaram amigavelmente em 2007.

“Quando você olha para a proposta de US$ 70 bilhões para a Activision e a compara com a compra de US$ 3,6 bilhões da Bungie, nós acreditamos que é a Bungie quem pode oferecer mais do que os setenta bilhões da Activision. E isso vem antes de considerarmos o valor agregado dessas transações.”

De acordo com Ryan, a Bungie tem uma expertise maior no campo dos serviços em tempo real, a parte da indústria que lida com campanhas em jogos multiplayer, entre outras facetas dos jogos online.

E a Nintendo no meio disso tudo?

Jim Ryan afirmou que Call of Duty teve um desempenho ruim no Nintendo Switch, simplesmente porque o console híbrido da Nintendo tem um público-alvo diferente do tipo de jogador que compra um Xbox Series S/X ou um PlayStation 5. Por essa razão, o CEO da SIE não vê a “casa do Super Mario” como uma concorrente direta.

Esse mesmo discurso é entendido pela FTC, que aponta a natureza portátil do console nintendista como “uma plataforma de menor capacidade”. Por essa razão, a empresa está majoritariamente isolada de todo esse conflito.

O julgamento da FTC em relação à proposta de aquisição da Activision pela Microsoft está no seu terceiro dia, e deve seguir até pelo menos esta sexta-feira (30) antes de uma decisão final ser tomada. Se negada a proposta, a Microsoft pode simplesmente desistir do negócio, mas isso ainda é especulação.

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