O CEO da Microsoft Gaming, Phil Spencer, assegurou em carta enviada a Jim Ryan, CEO da Sony Interactive Entertainment, que a franquia Call of Duty continuará a ser lançada nos consoles da marca PlayStation “por vários anos”.

O executivo, que conversou com o The Verge, aliviou um medo que alguns dos consumidores dos videogames vinham enfrentando desde o começo do ano: em janeiro, a Microsoft anunciou a aquisição da publisher americana Activision, efetivamente garantindo para si todas as propriedades intelectuais da empresa – o que inclui Call of Duty, entre várias outras marcas.

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Embora o acordo de aquisição esteja sob revisão das agências reguladores do governo dos EUA (a previsão é que tudo seja finalizado em junho de 2023, apenas), assim que o anúncio foi feito, várias especulações começaram a aparecer na internet sobre como os jogos da Activision – até então, totalmente multiplataforma – se tornariam “exclusividades do Xbox.

Felizmente, segundo a tal carta, não será esse o caso:

“Em janeiro, nós enviados um acordo assinado para a Sony, para garantir [a continuidade de] Call of Duty no PlayStation, com paridade de funções e conteúdos, por pelo menos vários anos a mais além do atual contrato com a Sony, uma oferta que vai muito além dos acordos comuns da indústria de jogos.”

Em outras palavras: não só os jogos continuarão a sair para ambos os consoles, mas nada vai mudar também na oferta de conteúdos extras. Materiais lançados via download e eventuais expansões também estarão presentes nas duas máquinas.

O acordo da gigante japonesa com a Activision pré-aquisição é fechado para público, mas a Bloomberg já ressaltou no passado que ele tinha validade até 2024. Com a tal carta, a empresa de Phil Spencer promete ampliar isso.

Órgão do Brasil expôs briga entre Microsoft e Sony

A ação da empresa de Redmond não é de todo filantrópica: assegurar que as propriedades intelectuais da Activision continuem saindo em seu maior concorrente é uma forma encontrada pela empresa para “aliviar” o crivo de reguladores econômicos ao redor do mundo – em especial, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), aqui no Brasil.

Em documentos revelados pela autarquia do governo federal em agosto, há uma leva de acusações trocadas por ambas as empresas na esfera corporativa, com a Sony criticando a aquisição feita pela Microsoft, e esta última dizendo que a primeira pratica “concorrência desleal”.

Segundo a papelada, praticamente todas as empresas consultadas não tiveram objeções com a compra, com o CADE citando nomes como Ubisoft, Bandai (Namco), Riot Games e até o Google. Somente a criadora do PlayStation foi quem se dispôs de forma contrária, conforme o trecho a seguir:

“Apenas um terceiro, a Sony, apresentou opiniões materialmente diferentes em relação às Requerentes e aos demais terceiros consultados pela SG [superintendência geral]. A Sony está isolada nesse entendimento e, curiosamente, ainda se contradiz na resposta ao ofício, conforme será detalhado adiante.”

Dentro do documento, a empresa japonesa tentou justificar sua contrariedade ao alegar que Call of Duty seria “um segmento de jogos próprio, com base no entendimento de que a franquia seria um ‘blockbuster’, um jogo do tipo AAA que não tem rival e que se destaca como uma categoria de jogos em si”.

Na prática: Call of Duty é seu próprio gênero – e isso, aos olhos da Sony, seria um impeditivo para a aquisição. Imagine se a Square Enix fosse dona de todo o gênero “RPG”, por exemplo.

Battlefield é uma franquia que concorre diretamente com Call of Duty, e que encontra casa tanto nos consoles da Microsoft como nos da Sony

Battlefield é uma franquia que concorre diretamente com Call of Duty, e que encontra casa tanto nos consoles da Microsoft como nos da Sony (Imagem: EA/DICE/Divulgação)

As outras empresas citadas no documento discordam da posição da Sony – que faz bastante sentido: a franquia Battlefield, da Electronic Arts, é possivelmente o maior concorrente de Call of Duty. Ambas são jogos de guerra, com ambientações baseadas em fatos reais e extensa pesquisa histórica para jogos especificamente transcorridos em tempos passados (como a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, por exemplo).

Mais do que isso, Call of Duty é internacionalmente reconhecido como membro da categoria de “jogos de tiro em primeira pessoa” (“FPS”, na sigla em inglês). Ignorando aspectos estéticos e de mecânica de jogo, vários são os títulos que se encaixam nessa categoria – Valorant (Riot Games) e Rainbow Six (Ubisoft), por exemplo.

“A posição isolada da Sony pode ser provavelmente explicada pelo fato de que a oferta de jogos por assinatura da Microsoft, o Xbox Game Pass (‘Game Pass’), foi lançada como uma resposta competitiva da Microsoft ao insucesso do Xbox na ‘guerra de consoles’ e à necessidade de ofertar aos jogadores valor adicional em relação ao modelo ‘buy-to-play’.”

Desta forma, a Microsoft se defendeu ao CADE dizendo que o argumento da japonesa se contradiz com ele próprio, e a sua posição vem de uma preocupação econômica frente ao sucesso do Game Pass, a plataforma de assinatura que dá acesso aos jogos do Xbox e PC a preços reduzidos.

Olhando por esse ângulo, é simples de se entender o motivo pelo qual Phil Spencer assegurou a continuidade de Call of Duty no PlayStation: foi a forma que a sua empresa encontrou de dizer à concorrente que, apesar do seu argumento não ter fundamento, as suas preocupações foram ouvidas e agora a “mãe” do Xbox vem à mesa com uma solução para acalmar os ânimos.

Considerando que a carta, segundo Spencer, foi enviada em janeiro, é seguro especular que a Microsoft já esperava por essa briga.

Vale lembrar, no entanto, que toda essa celeuma vem para Call of Duty, mas nada é mencionado sobre outras propriedades intelectuais da Activision, como DestinySekiro: Shadows Die Twice, Crash Bandicoot e Spyro, The Dragon – todas, multiplataformas.

via The Verge | Bloomberg | Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)

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