Mesmo sendo avesso às partidas multiplayer, eu sou um dos jogadores que fica bem ansioso por um novo Call of Duty pela sua forma inteligente de contar histórias. Com Modern Warfare III não foi diferente: obviamente, a franquia não traz um “nível cinematográfico a la Federico Fellini”, mas consegue traduzir bem a ideia de que um jogo de ação não precisa ser um festival descerebrado de tiros e, em algum lugar nele, tem um enredo cativante. Ao menos, foi por isso que eu torci.

Infelizmente, não foi o caso: quando a Activision decidiu relançar a linha Modern Warfare em 2019, ela o fez com maestria. Seu sucessor, Modern Warfare II, seguiu esse padrão ao unir o gameplay que todos nós conhecemos com uma história cadenciada que dava um gancho para o terceiro jogo. E ele veio…e destruiu esse legado por completo: pois é, já adianto por aqui – Call of Duty: Modern Warfare III é uma decepção em todos os sentidos.

Modern Warfare III corta, sem nenhum motivo, uma história que não precisava mudar

O jogo um certo tempo após os eventos de Modern Warfare II, reintroduzindo o terrorista russo Vladimir Makarov na posição central de antagonista. Novamente, você assume o papel de todos os membros da Task Force 141 – Price, Soap, Gaz, além do famoso (e, aqui, deveras apagado) Ghost – enquanto percorre várias localidades do mundo para…fazer alguma coisa? É, os objetivos super lineares fazem pouco em esclarecer um pano de fundo decente e se limita apenas a repetir a mensagem do “russo mal, vamos matá-lo”.

O que não é de todo ruim: como disse antes, Call of Duty não é Final Fantasy, então ninguém espera uma grande história. Mas Makarov é dono de algumas das memórias mais impactantes dos fãs da marca – certamente, os mais velhos se lembrarão dos eventos que impactaram grandemente o time de protagonistas sob seu controle em Call of Duty: Modern Warfare 2 (o original de 2009), a trama de traição, quem viveu, quem morreu, a lendária “fase do aeroporto” (No Russian)…

Modern Warfare III tenta repetir essa dose, apelando para um tom soturno e denso sempre que Makarov aparece em tela…e falha miseravelmente: o que a Activision buscava como algo impactante acabou saindo como um vilão toscamente mal escrito que mais parece um adolescente com raiva do mundo, não muito diferente de qualquer um de nós dentro de uma “fase emo” recém-descoberta no Ensino Médio.

As viradas da trama também se fazem presentes aqui, mas chegam sem sal, sem tempero e sem sabor. A Activision ao menos teve a decência de alterar algumas coisas – ao invés de um aeroporto, a fase derradeira é um estádio de futebol, por exemplo – mas no geral, a coisa toda fica devendo e não por pouco.

Ao final de tudo, o ritmo parece picotar a apresentação original, costurando uma roupagem nova para dizer que é diferente, mas no final entrega algo inferior não só ao título de 2009, mas que também falha em continuar o ritmo bem estabelecido dos dois jogos passados.

Imagem mostra cena do jogo Call of Duty: Modern Warfare III

Imagem: Activision/Divulgação

Gameplay inova pouco e o que tem de novo, ou já existia em Warzone, ou você nem vai perceber

A jogabilidade de Modern Warfare III também é outro ponto que ficou bem aquém do que um fã da franquia Call of Duty espera: o “charme” deste ano são as missões “Open Combat” (“Combate Aberto”, na tradução). A ideia é que algumas fases do jogo – eu chutaria algo perto de um terço delas – coloquem você em um ambiente falsamente aberto, teoricamente permitindo abordagens diferentes para cumprir seus objetivos.

Entretanto, mesmo isso foi deveras mal implementado: bebendo da fonte de Warzone e seu atual sucessor, Modern Warfare III permite algumas abordagens furtivas a fim de fugir da receitinha “atira em todo mundo, anda um pouco, atira em todo mundo de novo”. E os elementos mais óbvios estão lá: “caminhar agachado” para não fazer barulho, matar inimigos desprevenidos com um só golpe, facas de atirar à distância, silenciadores…até a mecânica de “sumir” ao agachar em gramas altas, inaugurada no jogo anterior, faz um retorno insosso aqui.

Entretanto, a inteligência artificial (IA) do jogo meio que tira o gosto de atacar uma missão assim: não há incentivo algum em sair atacando inimigos com um rifle de longo alcance apenas para vê-los correr feito baratas “suspeitando” da sua presença por uns dois minutos, e voltar ao normal – cadáveres, explosões e tudo o que aconteceu antes – como se nada tivesse acontecido.

Essa mecânica stealth, no entanto, é muito bem aplicada em Warzone: no jogo online, matar seus oponentes de maneira furtiva lhe confere ótimos benefícios e até a boa e velha chance de se gabar para cima deles. E seu uso em sistemas de arena multiplayer é uma agradável surpresa a um jogo de partidas até então bastante lineares.

Outro elemento que vem de Warzone, mas fica estranho e meio “fora de lugar” na campanha, é o resgate de loot – armas e itens especiais, aqui – dentro dos cenários. Por todo lugar, você encontra esses benefícios sem razão aparente, reduzindo o realismo da partida a um compêndio porcamente implementado de recursos que não têm qualquer razão para estar ali (por que raios uma socialite dona de uma ilha particular teria um lança-foguetes EM SEU QUARTO?).

Não conseguir reproduzir esses elementos mais empolgantes na campanha single player é a maior falha das missões de combate aberto: independente de qual abordagem você queira usar, inevitavelmente será forçado pelo jogo a voltar para o padrãozinho mencionado acima, desestimulando a experimentação de novas formas de progredir.

Imagem mostra cena do jogo Call of Duty: Modern Warfare III

Imagem: Activision/Divulgação

Visual e adaptação sonora seguem poderosas, mas nada inéditas

Modern Warfare II foi um primor em atuação de seus atores, juntamente com uma habilidade de pesquisa de sons que adicionava tons de impacto muito bem colocados à partida: a cena da traição de Graves contra Ghost e Soap é particularmente empolgante por casar esses dois pilares.

A Activision até conseguiu reproduzir esse esmero técnico em Modern Warfare III, mas sem muita inovação: se no jogo passado, os personagens tinham um tempo similar de estrelato, ajudando você a se conectar com todos, aqui há um apagamento inexplicável de alguns em benefício de outros que, sinceramente, poderíamos passar sem.

Como dizer isso de forma simples? Soap é incrivelmente chato, e por alguma razão, ele é a todo momento “empurrado” como uma espécie de “herói em construção” do time de soldados, mas falha em entregar qualquer compatibilidade com o imaginário do jogador.

Por outro lado, Ghost – de longe o favorito de 9 a cada 10 jogadores da marca – só aparece sob seu controle em uma única missão extremamente curta e sem graça, e mesmo suas “entradas” no rádio em outras missões se limitam a relatar situações para as quais você não dedicará nenhuma atenção. Esqueça as piadas ácidas inseridas com inteligência por ele…aqui, Ghost é chutado para escanteio sem cerimônia ou explicação.

O visual segue firme e forte, mas, de novo, isso faz muito pouco frente às outras falhas: sim, a fase da represa é bem bonita de se ver, as águas correntes são fidedignas ao que se vê na realidade, mas e daí? Tão logo, você abre mão desses pequenos deleites, pois há um jogo para se jogar, afinal.

Imagem mostra cena do jogo Call of Duty: Modern Warfare III

Imagem: Activision/Divulgação

Flop do ano?

É difícil afirmar “um” único motivo pelo qual Call of Duty: Modern Warfare III fracassou com tanta força. O jogo claramente foi apressado pelo estúdio Sledgehammer para ser entregue dentro de um timing que agradaria…sei lá, os acionistas da Activision, talvez? Fato é que ele poderia sim passar mais um tempo dentro do forno para evitar de sair tão cru.

Claro, existem relatos de que Modern Warfare III, na verdade, deveria ser apenas uma expansão do jogo passado, e se isso for verdade, ninguém sabe o motivo pelo qual essa “DLC glorificada” foi elevada ao status não só de jogo completo, mas de uma continuação direta de um dos games mais interessantes do ano passado.

Felizmente para a Activision, 2023 foi um ano de muitos lançamentos e, com isso, algumas falhas notáveis: Starfield, por exemplo, foi um jogo em que muitos apostavam a ficha de “Game do Ano” antes de seu lançamento, e o hype acabou se provando um balde de água fria. E nem precisamos falar de Redfall e todos os problemas em seu desenvolvimento, certo?

Por isso, eu acho pouco provável que Modern Warfare III acabe sendo o fracasso de 2023 para a indústria dos games. Mas existe um abismo entre “não ser o pior” e “dominar todas as premiações”: estamos mais que acostumados a ver Call of Duty dominando categorias de prêmios variados, mas por alguma razão, neste ano, eu não vejo isso acontecendo com tanta intensidade.

Em suma, ele não vale o seu investimento.

Galeria de imagens

[Review] Deixando muito a desejar, Call of Duty: Modern Warfare III não brilha e entrega campanha bem sem graça
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