O anúncio da releitura de Call of Duty: Modern Warfare 2, da publisher norte-americana Activision, pegou…exatamente zero pessoas de surpresa. Considerando a chegada e o imenso sucesso de seu predecessor, bem como o próprio histórico da empresa, a chegada de uma sequência não era apenas uma sólida expectativa, mas uma certeza inegável.

Entretanto, obviedades à parte, é evidente que Modern Warfare 2 teria um imenso legado para respeitar. Além de ser a sequência direta de um mega sucesso lançado em 2019, este jogo também é uma releitura da história inaugurada em Call of Duty 4: Modern Warfare – tido por muita gente como o melhor jogo de toda a franquia desde seu lançamento em 2009. Felizmente, o jogo não faz feio frente à enorme responsabilidade e, embora cometa algumas faltas, entrega uma experiência que agrada a fãs veteranos e casuais em todos os pilares.

Call of Duty: Modern Warfare 2

Índice

Enredo

Começando pelo pano de fundo, Call of Duty: Modern Warfare 2 se ambienta três anos após os eventos do jogo de 2019. Agora, a chamada Task Force 141 é uma unidade coesa, bem estabelecida e sinérgica, com seus membros (o tenente Simon “Ghost” Riley, o sargento Kyle “Gaz” Garrick e o capitão John “Soap” MacTavish, liderados pelo capitão John Price) sendo vulgarmente – no bom sentido – apresentados aos novos aliados das Forças Especiais Mexicanas, o sargento Rodolfo Parra e o coronel Alejandro Vargas. Ah, Phillip Graves e sua…ahem…”empresa privada de ação militar” (entenda: “mercenários”) também dão as caras.

O enredo do jogo é bem simplista, não mentiremos: um fundamentalista iraniano, líder de uma facção armada auxiliada por um cartel de drogas mexicano, colocou suas mãos em três mísseis de alta capacidade…fabricados nos EUA. Obviamente, o homem quer detoná-los em alvos chave dentro do território norte-americano e, você, alternando o controle entre os personagens titulares, percorre o mundo tentando encontrar o inimigo e os mísseis, além desvendar o mistério de como os inimigos conseguiram armamento estadunidense em primeiro lugar.

Como dissemos: típico, previsível, até. Mas esse é um panorama que permite aos seus personagens titulares crescerem à medida em que você avança na história. Ao menos, esse design batido abre espaço para a introdução de velhos conhecidos, como o general Shepherd. Sim, “aquele” general.

Pegar gosto por personagens específicos não é nada novo nos videogames, mas é algo relativamente recente em Call of Duty: desde o reboot da série em 2019, a Activision investiu forte no desenvolvimento de seus protagonistas, resultando num apreço bem grande da comunidade pelo capitão Price.

Essa ideia é levada adiante aqui: se no título predecessor, o personagem ficou conhecido como o “todo poderoso” que formou a Task Force 141, em Modern Warfare 2, ele agora comanda um time de elite que possui uma sincronia fora do comum, abrindo espaço para que Gaz, Soap e – de longe o mais agradável de todo o jogo – Ghost cresçam e apareçam.

Call of Duty: Modern Warfare 2 (2022)

(Imagem: Activision/Divulgação)

O argumento mais interessante nisso, no entanto, é o fato de que esse crescimento se dá justamente quando os personagens estão sempre em segundo plano. Explicando: em boa parte das missões, você vai controlar Soap ou Gaz, mas serão seus mentores (respectivamente, Ghost e Price) quem vão roubar a cena mesmo não estando presentes na hora.

Um grande exemplo disso vem em uma missão onde Soap, desarmado, deve trafegar “na surdina” por uma vila cheia de inimigos. Ghost o espera do outro lado, mas está constantemente conversando com seu protegido no rádio – e esse bate-papo o faz se destacar de uma forma que sua icônica máscara de caveira jamais conseguiu.

Uma mecânica aparentemente inócua, mas que ressalta bem isso, é a árvore de diálogos que aparece em (pouquíssimos) certos momentos do jogo, com seu personagem podendo escolher uma entre duas ou três opções de “conversa fora” a ser jogada com outro protagonista – aumentando o tom de sinergia entre os participantes da missão: destaque para, de novo, Soap e Ghost e as dificuldades em um entender o que o outro fala (Soap é escocês e Ghost, inglês). Nada irreversivelmente hilário, mas tão longe quanto a comédia pode ir dentro de uma missão militar virtual, é divertido.

Você precisa disso? Não. Para todos os efeitos, você pode escolher não fazer nada (e o jogo vai respeitar isso, ao invés de “escolher” uma opção forçada para você). Mas essa tentativa breve de humanização dos personagens envolvidos em um determinado contexto certamente agradam.

Lamentavelmente, não se pode dizer o mesmo do antagonista primário do jogo: Hassan Zayni é, de todas as formas e análises, um personagem esquecível – nem bom, nem ruim, ele só…está lá, no meio do “bolo”, jurando “vingança contra a América” ou algo suficientemente manjado do tipo. Outros vilões que dão as caras durante a partida são bem mais legais e mereciam um protagonismo maior.

Call of Duty: Modern Warfare 2 (2022)

(Imagem: Activision/Divulgação)

Visual

Não há muito o que dizer aqui: visualmente falando, Call of Duty: Modern Warfare 2 impressiona em todos os aspectos. Todos. Não conseguimos encontrar uma falha gráfica (e, acredite, tentamos). Isso pode não valer para a versão PC (a Activision nos disponibilizou uma versão do jogo para consoles, então sabe como é, “caixinha fechada” e tudo o mais), mas podemos falar com total segurança que seus olhos vão apreciar muito o show.

Neste novo jogo, houve um investimento maior em exibir mais das pessoas que aparecem em plano fechado durante as missões, o que por si já indica um empenho acrescido em sistemas de captura de imagem e animação dos modelos 3D baseado em captura de movimentos: isso é especialmente evidente nas cenas reproduzidas por Glenn Morshower, o ator que vive Shepherd; e Alain Mesa (coronel Vargas). Não só o visual deles, que imediatamente passam a sensação de “eu conheço esse cara”, tamanho o realismo; mas também na reprodução de seus diálogos – é perfeitamente casado, sem atrasos entre o modelo virtual movimentando a boca e a narração de suas vozes.

E aí partimos para a ambientação: Modern Warfare 2 vai levar você para vários cantos da Terra, desde zonas desérticas do México e da fronteira com os EUA, até grandes metrópoles como o centro de Chicago e uma pracinha incrivelmente bem detalhada e cheia de becos em Amsterdã – já falamos dela aqui, aliás. Efeitos de luz e sombra se misturam perfeitamente com interrupções temporárias, como o brilho forte e súbito das granadas de atordoamento ou a lenta mas cada vez mais grossa ofuscada de visão causada pelas bombas de fumaça. Até mesmo o incêndio que sucede uma explosão persiste na cena, adotando o realismo com um pilar central do título, funcionando como uma iluminação que rasga o “breu” das missões noturnas com maestria.

Digam o que quiserem da Activision e da Infinity Ward, mas elas sabem fazer uma apresentação visual como poucos.

Som

Aqui é onde a análise exige uma dedicação próxima de um cientista forense: a princípio, Modern Warfare 2 é só mais um jogo de guerra. Tem tiros, explosões, socos, facadas, granadas e gente falando palavrão com sotaque carregado. Facilmente, um crítico mais desavisado pararia esta parte do review por aqui. Mas dado o empenho dos desenvolvedores em outros pilares audiovisuais, é de bom tom ao menos suspeitar que tem mais coisas ao subir o pano.

Felizmente, estávamos certos: o jogo encoraja você a não depender exclusivamente do que vê, mas também do que ouve, então prestar atenção no crepitar de chamas e saber diferenciá-las, por exemplo, dos passos de um inimigo que se aproxima devagar, de surpresa, pelas suas costas, é uma das mecânicas mais interessantes, que amplia o senso estratégico de seus avanços e traz uma sensação maior de imersão graças ao áudio, não aos gráficos.

É, Modern Warfare 2 vai punir – sem clemência – o jogador “metido a Rambo”: não há exércitos-de-um-homem-só aqui e prestar atenção no diálogo entre os personagens e outros sons do ambiente é essencial para uma campanha vitoriosa. Até mesmo porque o jogo empenha um esforço ativo em dificultar a sua vida (mais sobre isso abaixo), então você vai precisar de toda vantagem que puder.

Há também momentos em que você consegue parar e prestar atenção nos sons: jogando com um headset e cancelamento ativo de ruído, foi muito fácil nós pararmos em missões onde a progressão é um pouco mais liberal apenas para absorvermos as pessoas aleatórias (NPCs) conversando, ou então nos escondendo de inimigos que estão dialogando entre si, sobre você.

O volume de realismo sonoro é tanto que até os soldados que você derruba, quando encontrados, trazem como resposta um diálogo de seus companheiros no rádio, nas linhas de “Encontrei um corpo aqui, é um dos nossos: é Fulano” – é, até os soldados mais vagabundos têm nome – apenas para o comando inimigo do rádio emitir ordens que denunciam uma inteligência artificial (IA) avançada, anunciando para você que o jogo passará a se adaptar à sua estratégia, forçando você a se remanejar.

Call of Duty: Modern Warfare 2 (2022)

(Imagem: Activision/Divulgação)

Gameplay

Aqui é onde a coisa mais impressiona: jogar Call of Duty: Modern Warfare 2 é um deleite progressivo, com altos e baixos que se sobrepõem, efetivamente cortando a linearidade de um jogo naturalmente linear.

Não entenda de forma equivocada: você tem umas 20 maneiras diferentes de abordar o mesmo objetivo, incluindo até mesmo outros caminhos nos imensos mapas (exceto por uma única missão, mas isso é mais contextualizado), mas ao final de tudo, o jogo se resume a sair do ponto A para cumprir um objetivo no ponto B.

Só que a progressão do jogo é tão detalhada, com uma IA tão avançada que, por vezes, você se vê tendo que voltar um passo ou 50 para garantir que uma presumida vitória não se torne um desastre bem rápido.

Isso porque, como dissemos mais acima, a IA do jogo está ativamente contra você, forçando sua mão ao contornar suas estratégias de forma incrivelmente rápida. Da mesma forma que é comum a nós, jogadores humanos, darmos ou aproveitarmos cobertura para nos movermos, hoje, o inimigo já aprendeu a fazer isso – não contra seus parceiros virtuais no mesmo ambiente. Contra você, especificamente.

Em ambientes mais fechados, por exemplo, é comum o seu oponente à frente usar uma saraivada de balas para manter sua atenção tão presa que você não percebeu que o parceiro dele saiu de cena, agora avançando pelas laterais em busca de um canto onde sua cobertura não lhe protege. E sim, ele está errando de propósito: em Modern Warfare 2, ninguém é um stormtrooper cegueta de Star Wars.

Evidente, estamos falando de um jogo de tiro com perspectiva em primeira pessoa (FPS), então nossa visão periférica é impossibilitada: fosse uma luta armada de verdade, qualquer soldado poderia apontar que tais avanços poderiam sim ser detectados – ele treina para isso, convenhamos -, mas o ponto é que o jogo sabe dessa limitação e propositalmente escolhe usá-la contra você, dependendo do quão bem você estiver jogando.

Se isso não é uma inteligência de nível militar, com o perdão do trocadilho, então não sabemos o que é.

Conclusão

Call of Duty: Modern Warfare 2 é um jogo 99% lapidado, com 1% de falha no enredo e vilão incrivelmente genéricos. Felizmente, suas bênçãos superam em muito os seus pecados, entregando uma experiência tão completa que, mesmo a esta altura do ano, ainda é um forte candidato a jogo do ano – e isso, em um ano em que tivemos Elden Ring, Horizon Forbidden West e, tão logo, God of War Ragnarok.

Não é do nosso feitio trabalhar com notas – pessoalmente, elas reduzem muito uma experiência maior a meros números -, mas se usássemos desse método em nossas análises, certamente esta seria uma produção que estaria entre as maiores pontuações do ano.

Call of Duty: Modern Warfare 2 tem lançamento programado para 27 de outubro de 2022, com o multiplayer abrindo no dia seguinte. O jogo chega para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S/X e Windows (PC). O acesso antecipado da campanha, no entanto, já está disponível para quem fez a pré-venda do jogo via PlayStation Network, Xbox Live ou na página da Activision.

[REVIEW] Call of Duty: Modern Warfare 2 é uma deliciosa repaginada dos velhos tempos
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