Quando o Ryu Ga Gotoku Studio (RGG Studio) anunciou que a bem-sucedida e vindoura franquia Yakuza passaria a se chamar Like a Dragon no ocidente de forma definitiva, não imaginei que essa mudança fosse fazer tanto sentido jogando Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name.

O jogo serve como uma ponte entre Yakuza 6: The Song of Life — capítulo que “encerra” a jornada de Kazuma Kiryu —, e Yakuza: Like a Dragon, título que traz um sistema de batalha retrabalhado, novo enredo e protagonistas inéditos. Ao mesmo tempo, The Man Who Erased His Name traz uma história paralela aos acontecimentos deste último e o conecta diretamente com o próximo jogo da saga, Like a Dragon: Infinite Wealth.

E apesar de ser enxuto se comparado a qualquer um dos games da série Yakuza, The Man Who Erased His Name se aproveita brilhantemente de seus 5 capítulos para focar no que mais importa: a (leve) transformação de um protagonista abnegado, reativo e otimista em um personagem que, embora esteja emocionalmente quebrado, amargurado e isolado, ainda consegue cativar os jogadores ao se mostrar mais humano e vulnerável do que nunca.

Conhecido agora como Joryu, o personagem principal de The Man Who Erased His Name também é um reflexo das mudanças na franquia como um todo. A máfia japonesa, isto é, a Yakuza, ainda existe, mas está longe de exercer a influência e dominância de outrora; e o protagonista, que agora está envolvido com o perigoso e elusivo sindicato Daidoji, deseja apenas cumprir sua parte no acordo, a fim de preservar a vida das pessoas que ele ama e que deixou para trás.

Os tempos são outros. As regras mudaram. E, depois de tantas perdas, Joryu agora lida com as consequências de suas escolhas e experimenta uma vida solitária longe de suas crianças e dos amigos. Logo, ele se vê novamente em uma situação inimaginável, desta vez envolvendo tanto um dos grupos da organização Yakuza quanto a facção Daidoji — essa descrição está propositalmente vaga, pois, quanto menos você souber de um jogo da saga, melhor. Acredite.

Imagem de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name

Imagem: Sega/Reprodução

Ao contrário dos jogos passados, porém, você não acompanha Joryu reagindo conforme os acontecimentos escalam. Em The Man Who Erased His Name, o protagonista tenta tomar mais as rédeas da situação. Mesmo falhando muitas vezes devido a circunstâncias maiores do que ele, é aliviante (e refrescante) vê-lo com uma personalidade mais dinâmica desta vez.

Claro que Joryu mantém todas as características que gostamos: a lealdade, a determinação inabalável e o senso de justiça permanecem, só que com pitadas grandes de cinismo que fazem dele um personagem muito mais relacionável do que antes. É como se o RGG Studio estivesse fazendo uma homenagem ao seu personagem mais emblemático e importante de todos os tempos — e quem ganha com isso somos nós.

Estilo inédito de luta traz frescor para combate brawler clássico

A dualidade de Joryu e os constantes dilemas trazidos à tona pelo conflito entre seu conturbado passado e seu solitário presente funciona como um espelho para um dos aspectos mais divertidos de The Man Who Erased His Name: o combate.

Aqui, Joryu tem dois estilos de combate: o inédito Agente e o clássico Yakuza. Este último contém elementos já conhecidos pelos jogadores de longa data: ataques lentos, mas fortes, e golpes carregados que quebram a defesa, transformando a luta em uma experiência mais cadenciada. Já o novo modo é, pessoalmente, meu favorito.

Além do básico, ou seja, combos que mesclam socos e chutes, o estilo Agente se provou muito mais versátil em batalhas contra grupos de inimigos, uma vez que você consegue alternar entre os alvos de maneira mais rápida e natural. Além disso, os ataques desse modo são mais ágeis e causam dano moderado, e isso permite que as lutas sejam mais dinâmicas, por exemplo.

Imagem de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name

Imagem: Sega/Reprodução

Por incrível que pareça, a agilidade do estilo Agente não torna o combate mais caótico. Na realidade, você ainda consegue entender melhor o que está fazendo em batalhas que exigem mais estratégia, ou ainda, compreender o que está havendo ao redor — ao invés de esmurrar os botões de soco e chute enquanto o inimigo serve apenas de esponja de dano.

A cereja no topo do bolo, porém, é a utilização de bugigangas de espionagem durante os combates no estilo Agente. Isso significa que você pode apertar botões específicos para ativar acessórios como a “Aranha”, uma espécie de teia que prende um ou mais inimigos momentaneamente; a “Serpente” que coloca propulsores a jato nos sapatos de Joryu e o faz deslizar e atropelar os inimigos; as “Vespas” que são basicamente drones invocados para causar dano em área, e os “Vagalumes” que são cigarros explosivos usados para atordoamento.

Entretanto, com dois estilos de luta vem uma árvore de habilidades enorme. As técnicas de Joryu precisam ser compradas ou melhoradas com dinheiro, principalmente. E a boa notícia é que fazer fortuna em The Man Who Erased His Name é uma tarefa simples, mas não exatamente rápida.

Ainda assim, de forma geral os inimigos são fáceis de derrotar e os chefões muitas vezes exigem apenas paciência e estratégia. Obviamente a dificuldade escala conforme o progresso da história, mas se você investir em coletes e acessórios que ajudam a prevenir atordoamento, choque, sangramento e outros status, vai lidar bem com os desafios que o aguardam em The Man Who Erased His Name.

Mas é claro que tem atividades e missões secundárias

Embora revisitar Sotenbori seja nostálgico, em determinado momento da narrativa será preciso conhecer a promissora Akame, uma jovem que auxilia pessoas em situação de rua e possui uma rede de conexões invejável. Depois de se relacionar com ela, você abre a Akame Network, uma espécie de hub de missões secundárias, mas que também auxilia na progressão da história principal.

Imagem de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name

Imagem: Sega/Reprodução

Como já mencionado, The Man Who Erased His Name é mais centrado na narrativa e sua duração é menor que a de outros games da franquia Yakuza. Isso não significa a ausência de missões secundárias e/ou minijogos. Ainda é possível ajudar pessoas aleatórias ou realizar favores e, claro, interagir em inúmeros estabelecimentos com atividades diferentes, incluindo karaokê, sinuca, arremesso de dardos, pôquer, shogi, ou jogar games clássicos da Sega em fliperamas, por exemplo. 

Você também pode beber e conversar com hostesses em clubes — cujas intérpretes agora são mulheres reais —; ou ainda, engajar em batalhas no Coliseu, localizado no famigerado navio-cassino Castle.

O Coliseu é uma espécie de centro de entretenimento que pode recompensá-lo com muito dinheiro. Afinal, é com esse recurso que você pode tanto comprar roupas, alimentos, bebidas, cigarros e outros itens, como também adquirir e evoluir as habilidades de Joryu, como já mencionado anteriormente.

São inúmeros desafios, brigas em equipes e classificações que aumentam conforme a dificuldade (mas que oferecem prêmios enormes, claro). Além do Coliseu, você também pode comprar roupas e personalizar a aparência de Joryu durante as lutas na arena.

Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name vale a pena?

Muito.

Imagem de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name

Imagem: Sega/Reprodução

Como de praxe em um jogo da franquia Yakuza (ou Like a Dragon), The Man Who Erased His Name também traz reflexões profundas sobre a condição humana e a sociedade, de forma geral.

O propósito do ser em uma civilização cada vez mais moderna e tecnológica e menos sensível às questões humanas, as diferenças e os preconceitos sócio-econômicos, apreciar e passar tempo com as pessoas que se ama, o arrependimento por trás de certas escolhas. Tudo isso está incluso no pacote Like a Dragon: The Man Who Erased His Name.

Dito isto, The Man Who Erased His Name se tornou uma das experiências mais marcantes em toda a minha saga com a franquia Yakuza (considerando, claro, que eu ainda não joguei Yakuza: Like a Dragon e nem Judgment e a sequência Lost Judgment).

Eu apenas não recomendaria o game como porta de entrada para jogadores de primeira viagem, já que The Man Who Erased His Name não perde muito tempo retomando acontecimentos prévios da franquia e, portanto, exige certo conhecimento — mesmo que mínimo — sobre alguns eventos. Por outro lado, os fãs veteranos de Yakuza vão se deleitar.

E quem começou a se envolver com a série a partir de Yakuza: Like a Dragon certamente vai entender melhor quem é Joryu e porque ele está em Like a Dragon: Infinite Wealth. Por sinal, vale mencionar que, ao concluir a história principal de The Man Who Erased His Name, você desbloqueia uma demonstração do próximo jogo da saga e se preparar para o que está por vir.

Imagem de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name

Imagem: Sega/Reprodução

Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name chega em 9 de novembro com legendas em português para PC (via Steam e Windows Store), Xbox One, PlayStation 4, Xbox Series X|S e PlayStation 5. O game foi analisado na Steam por meio de uma cópia antecipada cedida pela Sega.

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