Em suas mais ou menos 10 a 12 horas necessárias de jogo, New Tales from the Borderlands busca a todo custo prender a sua atenção. E este novo jogo da Gearbox Software, ambientado três anos após os eventos de Borderlands 3 mas com um novo elenco de personagens (relativamente) carismáticos, até consegue fazer isso.

“Até” consegue, porque rapidamente essa atenção é tão presa, que torna as falhas do título mais evidentes, ao ponto de não poderem mais ser ignoradas. A história, da narrativa, apresentação de enredo, desenvolvimento de personagens e diálogo, é excelente, mas existe uma razão pela qual “filme é filme, jogo é jogo” e, no segundo caso, o controle do jogador no que tange às interações dele com o sistema de entretenimento à sua frente é uma peça tão importante quanto.

E nisso, New Tales from the Borderlands deixa a desejar.

New Tales from the Borderlands, o review

Índice

Enredo

Como dissemos, New Tales from the Borderlands se ambienta três anos após Borderlands 3. Aqui, você assume três papéis: a Dra. Anu, uma cientista Ph.D com aversão à violência e rompantes de crises de pânico; seu irmão Octavio, um moleque recém saído da adolescência metido a malandrão das ruas mas sem necessariamente sê-lo; e Fran, dona de um restaurante que serve iogurte congelado e que luta constantemente para manter seu temperamento, digamos, “acalorado” – nervosamente e libidinosamente – sob controle.

Os quatro se veem envolvidos no mesmo problema quando a fabricante de armas Tediore – a maior entre todas as suas concorrentes – resolve invadir o planeta Promethea, porque “dinheiros”, evidentemente. A companhia busca uma certa nova tecnologia que, transformada em arma, permitirá que conflitos armados continuem sem parar, o que se reflete em mais armas sendo compradas, mais lucro etcetera etcetera etcetera…

Neste pano de fundo, você alterna seu controle entre os três personagens que, durante toda a progressão do jogo, raramente se separam e, juntos, devem enfrentar suas incapacidades para se tornarem versões melhores deles próprios, enquanto evitam que a empresa em questão destrua por completo o planeta onde vivem.

Sim, parece a premissa de um livro de auto-ajuda. E tem motivo para isso: o que dita o progresso da história é o diálogo, construído de forma inteligente e sagaz, com um tom de sarcasmo que beira – só beira – o ofensivo, se não fosse tão bem encadeado e sabiamente introduzido.

Isso fica especialmente evidente nas muitas referências à cultura pop – antiga e moderna: pinceladas de Monty Python, Game of Thrones, piadas que fazem você lembrar do sarcasmo clássico das sitcoms famosas e até uma brincadeira com o OnlyFans fazem com que você se sinta familiarizado com o fluir das conversas entre os personagens, ainda que a referência direta lhe passe no vazio.

São as pequenas coisas que, posicionadas corretamente, tornam os personagens de New Tales agradáveis – este tuíte é um exemplo. Ainda que lhes falte desenvolvimento individual, as interações em grupo mais que compensam isso.

Imagem de New Tales From the Borderlands

Imagem: Gearbox Software/Divulgação

Visual

Não há muito o que dizer sobre a parte gráfica de New Tales from the Borderlands: se você já é fã do visual da franquia – seja nos jogos Borderlands originais, Tiny Tina ou até mesmo o predecessor deste título (somente “Tales from…”, nem o “New”), então este jogo vai te agradar bastante.

Aqui, aquele visual que mistura texturas de alta definição com pintura parecida com tinta guache se amplifica, apostando em cores fortes a todo momento. A ideia é simples: destacar os personagens do cenário mundano. Um fundo preto de uma instalação militar facilmente fica em segundo plano quando, à sua frente, temos um personagem com jaqueta de leopardo e gola bufante e dreadlocks tão coloridos que qualquer clipe da Pabllo Vittar ficaria corado de inveja.

É tudo muito bonito de se observar, mas existe uma razão prática nisso: em New Tales from the Borderlands, a história toda progride por meio de árvores de diálogos e “quick time events” ou “QTEs” (aqueles comandos rápidos que aparecem do nada na tela). Eu vou detalhar essa parte mais abaixo, mas aqui, é importante mencionar ambas as funções, tendo em vista que elas evidenciam os personagens na tela.

Por essa razão, faz sentido que a apresentação visual dos elementos primários do jogo seja meio “cheguei e quero chamar atenção”. É um senso estético bizarro, complementado pelo volume considerável de roupas e acessórios que você pode comprar ao longo do jogo: tudo igualmente escandaloso e, de alguma forma estranha, fazendo muito sentido.

Imagem de New Tales From the Borderlands

Imagem: Gearbox Software/Divulgação

Som

A trilha sonora de New Tales from the Borderlands é…pouco notável, particularmente falando: não porque as músicas são ruins (convenhamos, tem para todos os gostos: eu por exemplo adorei a inclusão de “The Operator”, do Mother’s Cake), mas sim porque uma seleção bem sortida dessas ficou em segundo plano, em virtude dos sons de tiros e efeitos sonoros dos QTEs na tela.

Obviamente, o diálogo vai bem e a interpretação do texto pelos seus atores é a grande responsável por isso, mas convenhamos, há formas de sinergizar os dois pilares sem ter que esconder um. Até Call of Duty consegue fazer isso sem muita dificuldade, e New Tales from the Borderlands está bem longe de ser um jogo de tiro.

Deixando isso de lado, você tem uma experiência sonora acima da média, com os efeitos sonoros e o diálogo acompanhando o ritmo de evolução das cenas – personagens de fala mais leve de repente acelerando o discurso porque estão fugindo às pressas de tiros, por exemplo. Uma boa percepção disso vem sempre que uma piada entra em cena: personagens mais sarcásticos respondem a uma pergunta idiota e, entre a constatação da estupidez e a “invertida” recebida, um silêncio, com o volume da trilha sumindo aos poucos.

Pergunte a qualquer roteirista e a qualquer engenheiro de som: é uma ferramenta antiga – mas ainda a melhor de todas – para introduzir aqueles momentos onde o personagem mais tapado para, pensa e…”ah é, verdade”.

Seria perfeito, se a trilha sonora fosse melhor aproveitada.

Imagem de New Tales From the Borderlands

Imagem: Gearbox Software/Divulgação

Gameplay

Aqui é onde a coisa dói. E dói pacas. Principalmente porque, no papel, tudo faz sentido: as interações entre os três protagonistas – e até com alguns personagens coadjuvantes – são ditadas pelo volume de opções de diálogo, estabelecendo panos de fundo que trazem reações diferentes conforme a sua escolha.

Por exemplo: Anu sempre pensou que seu irmão caçula Octavio fosse pouco mais que um moleque, enquanto ele sente falta de ter sua opinião mais ouvida por ela. Nenhum dos dois lados está necessariamente errado e, conforme você progride nos cinco arcos com vários capítulos cada, os dois poderão se respeitar mais, ou se distanciar mais.

Não à toa, New Tales from the Borderlands conta com cinco finais diferentes, todos relacionados a como você insere os diálogos que escolheu.

O problema: muitas dessas escolhas – muitas mesmo – vêm em meio a QTEs temporizados que acabam forçando você a uma tomada de decisão impensada e apressada. Você acaba apertando um botão e…torce pelo melhor. E mais frequentemente do que gostaríamos, você acaba vendo que escolheu sem querer uma opção que foge da ideia que você vinha construindo sobre os personagens na sua cabeça só porque um comando mais afobado na tela lhe obriga a escolher um rumo – qualquer rumo, dane-se se você quer ler as suas opções.

Paralelamente, os minigames de ação também envolvem QTEs extremamente lentos, extremamente repetitivos e extremamente previsíveis, envolvendo apertar uma sequência de botões específica (sempre a mesma) ou esmagar o mesmo botão para cumprir um objetivo.

Jogos que tem a mesma mecânica de New Tales from the Borderlands prezam por trazer um grau de imprevisibilidade, mas aqui, é tudo rapidamente maçante, com o primeiro episódio fazendo um ótimo trabalho em caminhar com você para ensinar as mecânicas, mas com mensagens de alerta sobre como você errar isso ou aquilo trará consequências.

Na prática, porém, não há nenhuma consequência: se você furar um minigame, pode tentar de novo, sem medo. O senso estratégico fica mais para escolher com qual personagem interagir em um ou dois diálogos determinados e seguir por aí. E a ausência de falha (apesar dos tutorias acharem que criaram um senso de urgência) acaba dando uma ideia boba de segurança em um ponto onde você certamente não precisaria – ou mesmo gostaria de tê-la.

Na prática, parece tão entediante que você até esquece que não tem controle nenhum na progressão: à parte dos diálogos, o jogo todo segue um curso pré-determinado, com pouca ou nenhuma variação salvo por umas piadas aqui e ali. Admitidamente engraçadas? Sim. Praticamente inúteis? Também.

Conclusão

New Tales of the Borderlands não é necessariamente uma experiência ruim. Se você consegue passar pelo marasmo que é lidar com as falhas graves de gameplay e conseguir alinhar na sua cabeça um ritmo para a história que se desenvolve na tela, é provável que você se divirta. Um pouco.

Tal qual um filme da antiga Sessão da Tarde, não é exatamente um produto que lhe faria gastar dinheiro, mas uma vez que ele esteja disponível e você não tenha nada melhor para fazer…é, suponho que vá servir.

[REVIEW] New Tales from the Borderlands agrada com diálogo ‘malandro’, mas jogabilidade sem robustez derruba experiência
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Onde encontrar: PC (Steam/Epic Games Store) | PlayStation Store | Xbox

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