Ontem, 26, a agência espacial norte-americana (NASA) cumpriu com sucesso a missão DART, que ambicionava bater a nave homônima contra um asteroide a fim de responder a uma dúvida de pesquisadores: em caso de necessidade, nós podemos desviar um objeto do tipo que esteja em rota de colisão com a Terra, literalmente, na base da porrada?

A missão DART foi originalmente lançada em novembro de 2021. Após quase um ano em trânsito no espaço, a nave que dá nome à empreitada finalmente avistou seu alvo ao final de agosto e, um mês depois, teve transmitido ao vivo o momento de impacto. O vídeo pode ser conferido no recorte abaixo:

A questão é: e agora? Conseguimos o que queríamos?

A verdade é que…ainda não sabemos. Nas palavras de Bill Nelson, chefe administrativo da NASA, o que cumprimos foi apenas o início de um projeto longevo – a missão DART contará com uma “sequência – e os dados ainda estão sendo coletados para, depois, serem devidamente analisados:

“Completamos com sucesso a primeira parte do primeiro teste de defesa planetária da história da Terra. Eu acredito que isso nos mostrará como, um dia, poderemos proteger a nossa casa contra um asteroide em rota de impacto. Estamos mostrando que a defesa planetária é um esforço global e que é sim bastante possível salvar o nosso planeta.”

Por que precisamos da missão DART

A premissa da DART é uma bem antiga, mas nunca antes testada: veja, na alta, média e baixa órbitas da Terra, a gente tem muito satélite. Muitos mesmo, pouco mais de 6,5 mil, segundo o GeoSpatial World. A mesma fonte diz que pouco mais de 3,1 mil – ou seja: quase a metade – está inativo ou sem algum tipo de uso prático. E isso é sem contar projetos de longo prazo: a SpaceX de Elon Musk quer colocar mais de 4 mil lá em cima, para a sua plataforma de internet Starlink.

Agora, digamos que um asteroide do tamanho do Didymos e seu irmão gêmeo menor – Dimorphos – se coloquem em posição de choque contra o nosso planeta. Dimorphos tem mais ou menos a altura da Torre Eiffel, na França. Naturalmente, um choque direto dele contra a Terra não seria o evento cataclísmico de extinção que Hollywood faz parecer – o objeto que começou a morte dos dinossauros terrestres, por exemplo, tinha cerca de 10 quilômetros de diâmetro (e ele nem foi o evento de extinção mais notável dos cinco ou seis que presenciamos).

Ainda assim, haveria um estrago considerável. E para evitarmos isso, criou-se a ideia de jogarmos um ou mais desses satélites “mortos” em cima do objeto, no intuito de desviar sua rota. Estudos mostram que uma variação de centímetros na elipse (a “volta” que um objeto dá ao redor de uma estrela) de um asteroide, se criada com o devido tempo, pode alterar muito sua trajetória, efetivamente impedindo um choque direto.

Mas para isso, precisamos testar tudo antes: daí a missão DART. Anos de observação mostraram que o Didymos é um sistema que simularia com maior precisão a premissa de um impacto planetário, sem que a gente precisasse de um risco real para avaliarmos a opção.

O sistema binário Didymos consiste de um asteroide relativamente grande e um satélite menor – foi no “baixinho” que nós batemos. A ideia da missão DART é que a força do choque cause um desvio no centro de gravidade que mantém os dois objetos presos um ao outro e, se tudo der certo, a variação de trajetória do menor vai mexer na do maior, desviando o conjunto.

A expectativa é que o impacto da nave reduza o período orbital (o tempo que o asteroide menor dá uma volta no maior) em 10 minutos. Entretanto, qualquer coisa a partir de 73 segundos será considerada um sucesso para os controladores da missão.

Certo, mas nós conseguimos?

De novo: difícil dizer agora. Falando em números práticos, faz sentido que sim, a missão DART teve sucesso. A nave que bateu no asteroide pesava quase 600 quilogramas (kg) – na prática, imagine que você jogou uma das máquinas de vendas de doces e petiscos que você por aí contra uma parede. A 22,5 mil quilômetros por hora (km/h), e uma parede muito, muito, muito grande.

Isso na teoria. Entretanto, há muitas variações para considerarmos antes de uma confirmação: ambos os objetos – a nave da missão DART e o asteroide – estavam se movendo a velocidades bem altas no padrão da Terra (lembre-se, no espaço, falamos em escalas astronômicas, então mesmo os maiores números podem ser pouca coisa). A inclinação do asteroide também é outro ponto a ser avaliado.

E quando vamos saber?

Entre 2024 e 2025, mais ou menos. Embora algumas informações venham antes, o panorama mais definitivo será nessa época.

O primeiro número corresponde ao lançamento da missão HERA, da agência espacial europeia (ESA). E ela deve levar mais ou menos um ano para chegar ao asteroide Dimorphos. A ideia é levar dois satélites CubeSats (em resumo: dois “cubinhos” do tamanho de um microondas) equipados com material fotográfico, de telemetria e análise de composição química para, surpreendentemente, aprendermos mais sobre os asteroides dos quais conhecemos tão pouco.

A missão deve servir como um complemento refinado às observações feitas nas equipes de controle na Terra sobre a evolução do “pós impacto”. Neste espaço de dois anos, a poeira da pancada já terá baixado consideravelmente, então teremos um panorama – com o perdão do trocadilho – muito mais limpo.

Isso porque, sobre os dois asteroides, nós sabemos seus tamanhos, a velocidade de trajetória e órbita de cada um e outros fatores pertinentes aos seus movimentos. Mas não sabemos muito sobre eles: de que são feitos, de onde vieram e afins. Por alto, sabemos que ambos têm uma forma “esferoidal” (não chega a ser “oval”, mas imagine que você sentou em cima de uma bola e ela “espalhou” para os lados). E ao menos um deles tem concentrações relativamente moderadas de dióxido de silício (a sílica) em sua superfície.

Mas existe, por exemplo, algumas suspeitas que ainda não confirmamos: Didymos – o maior – pode ser uma pilha de pedras reunidas pela gravidade ao invés de uma só rocha maior. Isso poderia impactar, por exemplo, a classificação de “satélite” dada a Dimorphos. São esses pormenores que, com sorte, serão respondidos nos próximos dois anos e além, quando os dados coletados renderem estudos mais aprofundados nesses temas.

A missão DART (e a HERA) são parte de um projeto conjunto capitaneado pela NASA, mas que conta com o apoio da ESA.

via NASA | GeoSpatial World | Space

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