Você deve ter visto, nos últimos dias, notícias sobre uma “tempestade solar” que promete “acabar com a internet” por semanas ou meses. Esses textos até mencionam estudos sobre o assunto a fim de oferecer maior credibilidade ao alarmismo.

Bom, acontece que esses materiais não passam disso: alarmismo. É fato que uma tempestade solar pode causar um estrago em certos sistemas na Terra, mas as probabilidades de isso acontecer de fato são bem…ignoráveis. Vamos explicar o assunto a seguir:

Ilustração simboliza uma tempestade solar vindo em direção à Terra

Imagem: Lia Koltyrina/Shutterstock

O que é uma tempestade solar

Para começar, é importante estabelecermos: uma “tempestade solar” tem um nome científico correto – “ejeção de massa coronal” ou, simplesmente, “EMC”. Elas acontecem, na maior parte dos casos, quando o Sol está em “alta” de atividades em seu ciclo.

O Sol funciona em ciclos aproximados de atividade, entre “baixa” e “alta”, por períodos de aproximadamente 11 anos. Naturalmente, o período de “altas” é onde nós vemos muita coisa que chama atenção – mais calor, por exemplo (embora o clima atual tenha outro motivo para acontecer – meio que culpa nossa e tal…). E no próprio Sol, isso se traduz em manchas solares fáceis de serem observadas por nossos telescópios – essas, são o que chamamos de “tempestade solar”.

Essas manchas, no entanto, tendem a “se soltar” do Sol e viajarem pelo espaço, em direções aleatórias. E é aí que começa a conversa do “derrubar a internet”.

Uma tempestade solar pode (mas não vai) derrubar nossos sistemas

As ejeções de massa coronal são nocivas a sistemas eletromagnéticos e que funcionam em ondas de rádio – como satélites, por exemplo. “Fisicamente” nocivas, no sentido de “fritar circuitos” e coisas do tipo. E sim, tecnicamente, isso pode acontecer: uma tempestade solar particularmente grande que aconteça de vir na nossa direção seria capaz de derrubar, digamos, um satélite de uma empresa de telecomunicações, afetar suas antenas, mexer com estações de distribuição de energia…enfim, tudo o que conta com um sistema computadorizado estaria a mercê desse tipo de evento.

As notícias mais recentes apelam a esta parte, atribuindo as informações a um estudo que, analisado friamente, nunca afirmou isso: uma pesquisa feita pela Universidade George Mason, nos EUA, cujo sumário diz que uma situação do tipo poderia causar esse efeito, potencialmente.

Pegou a palavra-chave? “Potencialmente”, se uma tempestade for grande o suficiente e vier em nossa direção, isso pode acontecer. Da mesma forma, você pode levar uma surra da sua mãe se um dia, quem sabe, secar a pia com os panos de pratos bordados dela, ou potencialmente quebrar o nariz se lutar boxe contra Mike Tyson, ou ainda cair em cima do próprio rosto se beber álcool demais e praticar slackline. Fomos sutis nas analogias?

O estudo citado, na verdade, nunca cita “vai acontecer”, nem dá alguma estimativa de “quando isso pode” acontecer. Ele simplesmente afirma: se todos os fatores se alinharem, existe o risco. Só que, se esses fatores se alinharem de fato, nós vamos ver tudo com antecedência – teríamos aí algo entre 18h e 24h antes das coisas talvez virarem bagunça.

E isso porque…

Isso já aconteceu antes

Em setembro de 1859, nós passamos pelo que ficou conhecido como “Evento de Carrington” – uma tempestade solar particularmente irritada que veio na nossa direção com a força de uma namorada brava quando você nega a ela um pedaço do seu lanche, chegando a causar até incêndios em algumas estações de telégrafos em vários países – dos EUA a Austrália, causando auroras e luzes celestes não apenas próximas aos pólos, mas também nas áreas equatorianas do planeta.

Um evento desse tipo, hoje, faria um estrago ainda maior, considerando a nossa dependência em sistemas eletroeletrônicos: naquela época, muita coisa era energizada a vapor ou carvão, e continuaram em pé. Hoje, em um mundo de circuitos e placas e sistemas de computador, sim, há que se pensar que uma tempestade solar do tamanho do Evento de Carrington realmente fosse nos deixar “no escuro” em todos os sentidos.

A Terra é bombardeada por ejeções do tipo quase a todo tempo – e nós estamos na fase alta do ciclo solar, então as EMCs acontecem com maior frequência (tivemos pouco mais de 50 só este ano). Por isso, nós aprendemos a antecipar esse tipo de situação para que, quando elas ocorrerem, nós tenhamos relativa proteção: satélites podem trabalhar em modo de segurança, transformadores podem ser desligados para que componentes não fritem, esse tipo de coisa…

E outra: se você está lendo o TecMasters para aprender mais sobre isso, então a sua internet ainda está intacta, e o Sol não deu uma proverbial “cuspida” na cara da Terra. Astronomia e o estudo do espaço são assuntos bem legais – e certamente tem muita coisa lá em cima que não conhecemos ainda – mas a gente não precisa de matérias escritas em tom de alarmismo para complicar o caminho para o nosso aprendizado.

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