A tecnologia moderna, com seus avanços exponenciais, revolucionou a forma como vivemos e trabalhamos. Enquanto prometia um mundo de comodidade e eficiência, também trouxe consigo um dilema intrigante: será que a tecnologia nos faz trabalhar mais?

Será que a tecnologia nos faz trabalhar mais?

Imagem: Avi Richards/Unsplash

A duração das jornadas de trabalho ao longo dos anos passou por uma série de mudanças significativas, refletindo transformações sociais, econômicas e tecnológicas. Na Era Agrícola, as pessoas trabalhavam longas horas para garantir a produção de alimentos e sustento para suas famílias. As jornadas de trabalho eram frequentemente extensas e sem a limitação das horas de luz do dia.

Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, houve uma alteração relevante nas condições de trabalho. As fábricas introduziram horários fixos e regulares, e muitos trabalhadores eram obrigados a trabalhar longas horas em condições desumanas.

Ao longo do século XIX e início do século XX, o movimento sindical ganhou força e a luta por melhores condições de trabalho resultou em legislações que limitavam as jornadas de trabalho a oito horas por dia e estabeleciam direitos trabalhistas.

Já durante o século XX, em muitos países industrializados, as horas de trabalho diário continuaram a diminuir devido às reformas trabalhistas, melhorias na automação e avanços tecnológicos, além de ocorrer a introdução de benefícios sociais.

Tecnologia reforça mentalidade do “sempre disponível”

Porém, com o avanço da tecnologia, surgiu uma nova dinâmica que, inicialmente, isso trouxe melhorias substanciais à produtividade. Automação, softwares avançados e comunicação instantânea permitiram a realização de tarefas que costumavam consumir horas preciosas. No entanto, essa mesma eficiência, muitas vezes, resultou em expectativas irrealistas. O surgimento de dispositivos móveis e comunicação constante significa que o trabalho agora permeia nossas vidas além do horário tradicional, tornando difícil desconectar-se.

Além disso, a tecnologia também alimentou a mentalidade de “sempre disponível“. E-mails, mensagens e videoconferências podem nos alcançar a qualquer momento, borrando as fronteiras entre vida pessoal e profissional. O medo de perder oportunidades ou ficar para trás em um mundo em constante evolução nos pressiona a permanecer conectados e produtivos, muitas vezes resultando em jornadas de trabalho muito mais longas.

Por outro lado, argumenta-se que a tecnologia também nos proporcionou maior flexibilidade. O trabalho remoto e as ferramentas digitais permitem que escolhamos onde e quando trabalhar, dando-nos a chance de equilibrar melhor as demandas profissionais e pessoais. No entanto, essa flexibilidade pode se transformar em uma armadilha, pois a linha entre flexibilidade e constante disponibilidade pode facilmente se desfocar.

Torço masculino vestido com roupa social, usando smartphone; da tela do celular é possível ver algumas tecnologias como um globo digital

Imagem: Shutterstock

Em última análise, a resposta à pergunta se a tecnologia nos faz trabalhar mais não é simples. Ela pode proporcionar ganhos significativos em eficiência, mas também criar pressões para estarmos sempre conectados e disponíveis. O desafio está em encontrar um equilíbrio saudável, definindo limites claros e priorizando o tempo para recarregar. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas é essencial lembrar que somos nós que a controlamos, e não o contrário.

 

Alessandra MontiniAlessandra Montini é diretora do LabData da FIA – Laboratório de Análise de Dados; consultora em Projetos de Big Data e Inteligência Artificial, Professora de Big Data; Inteligência Artificial e Analytics; professora da Área de Métodos Quantitativos e Informática da FEA; Coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Núcleo de Estudo de Modelos Econométricos e Núcleo de Estudo de Big Data; e parecerista do CNPQ e da Fapesp.

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