Octopath Traveler 2 chegará semana que vem às prateleiras e lojas virtuais e, depois de algumas semanas com o jogo em mãos, finalmente podemos publicar a nossa análise de mais este lançamento da Square Enix – adiantamos o spoiler: é muito, mas muito bom, ainda que não seja para qualquer jogador.

Não, aqui, temos uma sequência indireta justa ao primeiro jogo, que expande conceitos que os maiores saudosistas do RPG vão amar revisitar: batalhas por turnos, um enredo bastante longo e intrincado, dezenas e dezenas de horas de jogo com conteúdos opcionais e muito, mas muito grind para compensar as curvas de dificuldade inesperadas.

Intensidade narrativa é o motor principal

Por que dizemos que o jogo não é para qualquer um? Bem, ao contrário dos Final Fantasy e Dragon Quest mais recentes – onde a Square Enix flerta com elementos de ação para modificar o gameplay – em Octopath Traveler 2 a linearidade é praticamente inexistente. 

Você escolhe um entre oito personagens – cada um representando uma classe de combate diferente – para ser o seu “protagonista” (daí o “octo” no nome), e vai trilhando as histórias pessoais de cada um até chegar em um enredo denso, amarrado e, acima de tudo, que se revela só no final.

Aqui já se vê o primeiro elemento que remonta aos jogadores de RPGs mais antigos: o “personagem principal” que você escolher não sai do seu grupo de quatro lutadores – você troca os outros, conforme vai necessitando dessa ou daquela pessoa para avançar capítulos, mas o primeiro personagem com o qual você jogar – todos os oito estarão disponíveis desde o início – será aquele que vai comandar a narrativa.

Imagem mostra cena do jogo Octopath Traveler 2

Imagem: Square Enix/Divulgação

E a história de cada personagem é bem variada, com razões variadas pelas quais cada um partiu em sua jornada: um príncipe traído, um aspirante a comerciante em uma luta pelo fim da pobreza, uma médica amnésica, um investigador religioso, um feiticeiro em busca de vingança, a ladra, a dançarina, a caçadora que não entende nuances da comunicação social…eventualmente, todos eles cruzam seus caminhos.

A bem da verdade, uma ou outra parcela da história apela para clichês bem batidos, mas isso acaba sendo bem compensado com o visual HD-2D, com modelos em sprites ao invés do formato ultrarrealista dos jogos mais recentes do gênero.

Uma experiência sensorial igualada por poucos

Tudo o que falamos até aqui é imerso em uma ambientação 3D de cenário que passa uma boa impressão de perspectiva e profundidade – em resumo: o visual “fofinho” dos personagens é bastante detalhado, mesmo sendo uma caricatura que em nada fica “chapada” na tela – você consegue entender o que está à frente e o que vem ao fundo.

Sim, Octopath Traveler 2 é um jogo muito bonito. Mesmo com os sprites dos personagens do mundo do jogo se apresentando de forma simples, há um volume de detalhes que denuncia o esmero da Square Enix (e que provam que a empresa não esqueceu como fazer um RPG à moda antiga): sinais ambientais, como o vento nos cabelos e nas árvores, uma variedade de cenários que vai do verdejante de uma floresta, passando pelo deserto imensamente alaranjado e vazio e chegando à metrópole industrializada com temática steampunk, absolutamente nada é repetitivo.

E a progressão de câmera facilita muito isso: quando você usa as habilidades mais poderosas nas lutas (mais sobre elas logo abaixo), o foco no seu olhar é direcionado para pontos de vista diferentes do plano aberto da tela, exibindo um ângulo por trás dos personagens que reforçam a percepção de que o jogo é 3D, em alta definição, embora a abordagem artística seja mais abstrata e menos realista.

Imagem mostra cena do jogo Octopath Traveler 2

Imagem: Square Enix/Divulgação

E os sons…um deleite de cada cenário, com suas idiossincrasias exclusivas: o deserto com ventos mais evidentes, folhagens balançantes nas florestas…o clangor de espadas e adagas batendo nas lutas, tudo isso traz um volume de imersão que poucos jogos conseguem reproduzir sem abusar dos seus ouvidos.

Claro, nem sempre a intensidade da exploração e dos combates é o que procuramos, mas Octopath Traveler 2 também nos cobre nisso: em todas as cidades do jogo, há tavernas que, depois de uma certa missão de um certo personagem, habilitam a escolha de sons para mudar a vibração do ambiente – indo desde trilhas sonoras dedicadas aos personagens principais, até canções de interpretação mais aberta – tudo pelas mentes brilhantes de Yasunori Nishiki, Keisuke Miyauchi e Masashi Takahashi (respectivamente, compositor, diretor e produtor do primeiro jogo, que retornam para esta sequência).

Gameplay de responsa

No que tange à jogabilidade, Octopath Traveler 2 pode até ter um número no nome, mas ele segue um preceito de “sequência isolada” – você não precisa ter jogado o primeiro para entender o segundo. Entretanto, muitas mecânicas do título anterior voltam aqui e, como toda experiência que você tenha passado antes, um conhecimento prévio pode te adiantar algumas coisas.

Boa parte disso se faz notar durante as lutas: o sistema de boost segue intacto – você ganha um sinal extra a cada turno do combate, podendo usá-los de forma parcial ou esperar todos os sinais chegarem, no intuito de lançar versões mais poderosas de seu arsenal de golpes.

O ataque comum, por exemplo, se repete por quantas vezes você deu um boost (no máximo de quatro vezes), ao passo em que certas magias que normalmente atacam apenas um inimigo, passam a atingir todos com maior intensidade, enquanto habilidades de cura ou buffs/debuffs (status positivos ou negativos), respectivamente, aumentam a quantidade de vida restaurada e a duração dos efeitos.

Imagem mostra cena do jogo Octopath Traveler 2

Imagem: Square Enix/Divulgação

Novo mesmo é o sistema de habilidades latentes: similar aos “limit breaks” de Final Fantasy, este consiste de um pequeno contêiner circular que vai se enchendo conforme você sofre danos na luta. Uma vez cheio, você consegue acesso a uma lista de habilidades ou efeitos avassaladores e bem variados – o samurai Hikari tem três golpes com lança e espada que causam dano massivo a um ou mais inimigos, enquanto o comerciante Partitio pode encher, de uma só vez, todos os sinais de boost e ampliar seus ataques comuns rapidamente. Estes são apenas dois exemplos – são oito para você brincar.

Tudo isso serve para adicionar densas camadas de estratégia que servem para “quebrar” seus oponentes – literalmente: todo inimigo em Octopath Traveler 2 conta com um “escudo” – essencialmente, um número de ataques que eles aguentam sofrer de uma arma ou elemento correspondente à sua fraqueza.

Trocando em miúdos: suponha que um oponente é fraco contra a espada de Hikari e tenha cinco pontos de escudo. Depois da quinta espadada, esse oponente “quebra” – a forma que o jogo encontrou de “atordoar” um inimigo. O benefício mais óbvio disso é que você continuará atacando, com danos acrescidos, sem ser atacado de volta, por cerca de um turno por cada personagem.

O lado ruim é que, depois de se recuperar, o inimigo vai atacar imediatamente, independente da ordem dos turnos na tela. O lado bom é que, se você gerenciar direitinho o uso dos poderes latentes, dos boosts e da quebra de escudo, pode se ver em uma posição onde você estará com boost cheio, acesso liberado às habilidades mais poderosas e um inimigo virtualmente sem nenhuma defesa.

Imagem mostra cena do jogo Octopath Traveler 2

Imagem: Square Enix/Divulgação

No que tange a exploração, essa parte estratégica também é traduzida: Octopath Traveler 2 inaugura um controle do ciclo de noite e dia, para que as habilidades sociais de seus personagens possam ser usadas de forma inteligente. Osvald pode cometer assaltos de noite ou analisar o perfil de pessoas de dia, ao passo em que Agnea pode “convencer” pessoas a seguirem você (e lutarem ao seu lado) durante o sol exposto, mas ao cair do luar, as pessoas simplesmente darão itens à dançarina dependendo do nível dela.

Por um lado, isso estabelece um senso estratégico interessante, de múltiplas abordagens: se você não evoluiu Agnea o suficiente para que um determinado personagem lhe dê o item, então troque-a pelo seu Osvald “boladão na mágica” e roube o cara. Por outro, ao mesmo tempo em que isso favorece uma amplitude de soluções para o mesmo problema, essa mecânica também incentiva o jogador a não cair na zona de conforto de “um grupo hiperpoderoso” versus um grupo de personagens auxiliares não desenvolvidos.

E como a história se ramifica entre todos eles, você vai precisar que todos os oito guerreiros estejam em suas melhores formas: o jogo não facilita na dificuldade e, às vezes, simplesmente mudar de tela eleva o poder dos oponentes a uns 20 níveis acima do seu, rapidamente tornando a sua aventura “controlável” um pesadelo.

Imagem mostra cena do jogo Octopath Traveler 2

Imagem: Square Enix/Divulgação

Octopath Traveler 2 é a sequência simples mais densa que já vimos

Jogos que trazem continuações comumente tentam “reinventar a roda”, alterando elementos de sua fórmula original em busca de uma constante inovação. Naturalmente, essa é uma aposta perigosa, já que você pode sair ganhando muito, ou perdendo tudo.

Octopath Traveler 2 é a prova de que nem sempre isso é necessário: comparado ao seu predecessor, o jogo traz muito pouco no que tange a novos recursos. Em compensação, as benesses originais foram bem mais ampliadas aqui, e tudo o que você gostou antes, agora está bem maior, bem mais evidente e bem mais proveitoso. Paralelamente, os problemas do primeiro jogo foram corrigidos ou, pelo menos, reformulados de forma a não impactar a experiência geral do jogo.

O sacrifício vindo disso é o de que este lançamento da Square Enix pode acabar afastando jogadores mais casuais do gênero dos RPGs, em um favorecimento claro ao fã da velha guarda. Não que isso seja ruim, mas limitar a sua abrangência de público, no mercado atual, acaba relegando uma jóia lapidada como esta a uma posição mais secundária no catálogo de produções da japonesa.

Tudo, ao final, depende de como você encara: “modinha” nem sempre é uma coisa ruim, e se o jogo vai bem comercialmente, a continuidade da franquia é praticamente assegurada. Ainda assim, para quem prefere um modelo mais antigo de RPG, este é definitivamente o melhor jogo da atualidade para se curtir.

Octopath Traveler 2 será lançado em 24 de fevereiro de 2023, para PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch e Windows (PC).

Galeria de imagens

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