Não queremos apelar para o clichê da expressão “a vida imita a arte”, mas olha que estamos perto, até: um novo fungo parasita foi identificado pelo cientista e micologista brasileiro João Paulo Machado de Araujo, em uma região de mata atlântica.

De acordo com o R7, que entrevistou o especialista, a expedição que levou à descoberta foi um esforço conjunto entre o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Jardim Botânico Real de Kew e o Jardim Botânico de Nova York. A ideia por trás da pesquisa era justamente identificar possíveis novas espécies de vários seres vivos, e reuniu – além de João Paulo – especialistas em sapos, pássaros e plantas, entre outras vertentes.

Segundo ele, a ferramenta de ação do recém-nomeado Purpureocillium aff. atypicola é bastante similar ao cordyceps que levou a humanidade à quase extinção na série The Last of Us – exceto por um detalhe: enquanto o fungo da série controla seus hospedeiros ainda vivos e “morre” junto com eles caso eles sejam derrotados, os fungos do gênero Purpureocillium fazem o mesmo com organismos mortos.

Tal foi o caso na ocasião da descoberta: a nova espécie, de coloração roxa bem evidente, estava hospedada no corpo de uma aranha-alçapão, uma predadora artrópode especializada em capturar suas presas com armadilhas acionadas subitamente.

“Achando o fungo roxo, que é super incomum ter essa cor, só de olhar, eu já pude identificar. E também sabia que só haviam seis espécies descritas, então aquele ali certamente seria uma nova” – João Paulo Machado de Araujo, micologista

Ainda de acordo com ele, o novo fungo, apesar de pertencer a uma espécie previamente catalogada, nos ajuda a entender melhor a biodiversidade nacional. João Paulo explicou que, apesar desse exemplar ter sido descoberto em uma aranha, ele também pode acometer várias espécies de insetos – borboletas, moscas, mosquitos, por exemplo.

A descoberta foi originalmente feita no final de 2022 e está em processo de categorização, para ter um reconhecimento oficial internacional.

Fungo de ‘The Last of Us’ é real

Já falamos aqui uma vez sobre como o cordyceps, a espécie pela qual atende o fungo visto em The Last of Us, existe na vida real e sua ação é exatamente como aquela retratada na série.

A única diferença é que ele é incapaz de fazer com a raça humana aquilo que vimos na produção da HBO Max: a temperatura interna dos nossos corpos é de, em média, 37º C (celsius). Nesta medida, nós simplesmente somos quentes demais para que o fungo consiga sobreviver dentro da gente.

Imagem do fungo Cordyceps, que serviu de inspiração para a série The Last of Us

Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Entretanto, quem viu o primeiro episódio da série percebeu como a sua abertura trata de um tema bem evidente: as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global estão forçando várias espécies de seres vivos a se adaptarem – algumas corujas da Europa estão alterando a pigmentação de suas penas para se adaptar melhor ao derretimento acelerado das áreas congeladas do Velho Continente, e o salmão vem aumentando seu volume de migrações entre água doce e água salgada.

No caso do fungo em si, estamos falando de anos e anos e mais anos de adaptação evolucionária até que eles sejam – se um dia o forem – capazes de nos dominar (e isso considerando apenas os fatores biológicos: especialistas argumentam que os humanos são tão resilientes também por serem os únicos capazes de manterem pensamento lógico e racionalidade). É pouco provável que vejamos algo assim tão cedo…

…ou será que não?

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