“Inútil”, “mentirosa” e “vergonha alheia” são alguns dos termos que funcionários do Google vêm utilizando para se referir ao Bard, a sua inteligência artificial (IA) generativa lançada em fevereiro deste ano em concorrência com o ChatGPT da Microsoft/OpenAI.

A informação vem de fontes anônimas ouvidas pela agência de notícias Bloomberg, que ressaltou em matéria que os empregados da gigante tecnológica de Mountain View estão desgostosos com o que a tecnologia vem apresentando até agora. Vale ressaltar que esse tipo de crítica interna tem precedentes.

Google Bard, inteligência artificial

Imagem: Shutterstock

De acordo com a matéria, os funcionários – alguns, responsáveis por testar o próprio Bard – relatam que a IA não apenas “erra”, mas sim que erra grosseiramente, de forma até arriscada. Em um caso citado, o usuário o questionou sobre como pousar um avião, afirmando que as respostas oferecidas “certamente causariam uma queda”, enquanto noutro, as dicas de mergulho marítimo dadas pela plataforma “resultariam em morte certa”.

Houve ainda quem chamasse o Google Bard de “mentiroso patológico”:

“A confiável gigante das buscas da internet está fornecendo [ao Bard] informação de baixa qualidade em uma corrida para se manter emparelhada à concorrência, ao mesmo tempo em que dá menos prioridade aos seus compromissos éticos, de acordo com 18 funcionários e ex-funcionários da empresa e documentação interna vista pela Bloomberg.

A empresa subsidiária da Alphabet Inc. se comprometeu, em 2021, a dobrar seu time de estudo da ética na inteligência artificial e fornecer mais recursos nas avaliações dos potenciais danos da tecnologia. Mas o lançamento do rival da OpenAI em novembro de 2022 fez o Google se destrambelhar para colocar a IA generativa dentro de suas linhas de produtos mais importantes em uma questão de meses.

Isso foi decididamente mais rápido do que o mercado reconhece para o desenvolvimento da tecnologia, e pode ter um impacto social aprofundado. O grupo que trabalha na parte ética do Google está agora sem poderes e sem moral, segundo os empregados e ex-empregados.” – Bloomberg

A matéria continua, relatando que, segundo as fontes, a equipe responsável pela averiguação ética e da segurança dos produtos de IA do Google receberam ordens expressas de “não entrarem no caminho” nem que “tentassem matar” nenhuma das ferramentas generativas atualmente em desenvolvimento.

O Bard tem a intenção de ser integrado ao Google Search como uma ferramenta de conversação para informações complementares – não muito diferente do que o ChatGPT faz com o Bing, na Microsoft. Entretanto, até mesmo seu evento de revelação parece, hoje, ter sido o precursor de problemas, já que a ocasião acabou marcada pela tecnologia compartilhando fake news.

A diferença entre os produtos concorrentes é que, se o Google cumprir seu planejamento, o Bard será permeado em todas as plataformas que se valham do Search – incluindo smartphones Android, um campo em que o Bing tem uma presença bem fraca. E desenvolvimentos recentes prometem não facilitar a vida do Google: conforme noticiamos recentemente, empresas como Samsung já estudam trocar o buscador de Mountain View pela opção da Microsoft, justamente porque a integração com o ChatGPT parece estar…menos turbulenta, digamos.

Especialista e ex-gerente do Google diz que Bard é ‘jogar a IA no banco de trás’

De acordo com Meredith Walker, que já foi gerente de equipes de desenvolvimento no Google e hoje preside a Signal Foundation, o que a empresa de Mountain View está fazendo é, de uma forma resumida, incorporar a popular expressão “jogar a carroça na frente do boi”.

Para ela, o Google está priorizando colocar o Bard como um produto viável a qualquer custo, sacrificando até mesmo o tempo necessário para que a tecnologia responda de forma satisfatória a testes de proteção contra condutas moralmente questionáveis – tudo isso está ficando em segundo plano.

“A ética da IA foi para o banco de trás. Se a ética não se posiciona de forma a ter prioridade sobre o lucro e o crescimento, então a tecnologia não vai funcionar no final.”

Em resposta à matéria da Bloomberg, o Google disse que o uso responsável da IA segue como a maior prioridade da empresa, afirmando que ela segue um “investimento continuado” nos times que trabalham na aplicação de princípios éticos da tecnologia. Entretanto, é importante ressaltar que, dos 12 mil demitidos pela empresa em janeiro deste ano, uma parcela era justamente dessa equipe de IA – e não há informação de que novas contratações tenham sido feitas para suprir esse buraco.

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