Um dia após o Supremo Tribunal Britânico decidir a favor do recurso do governo americano de extraditar Julian Assange, Stella Moris, noiva do jornalista, revelou que ele havia sofrido um “mini derrame” em outubro. Médicos confirmaram diagnóstico.

“Acredito que este jogo de xadrez constante, batalha após batalha, o estresse extremo, foi o que causou o derrame cerebral de Julian em 27 de outubro… ele estava em um estado verdadeiramente terrível”. Seus olhos estavam fora de sincronia, sua pálpebra direita não fechava, sua memória estava desfocada”, disse Moris em entrevista ao jornal The Telegraph.

Assange na audiência de 27 de outubro, que acarretou o derrame

Assange na audiência de 27 de outubro, a qual acarretou o derrame. Imagem: DCM/Reprodução

No domingo (12), o Doctors4Assange (D4A), grupo representado por mais de 250 médicos em 23 países, apresentou uma declaração sobre a “perigosa deterioração da saúde do Sr. Assange”. “Esta última emergência médica acrescenta ao já terrível estado de saúde do Sr. Assange, devido à sua prolongada tortura psicológica”, alertaram os profissionais.

Julian Assange está preso em HMP Belmarsh desde abril de 2019, quando o atual presidente Lenín Moreno revogou o asilo na embaixada equatoriana e autorizou a entrada da polícia britânica para prender o jornalista.

Desde então, o editor do WikiLeaks têm enfrentado julgamento sob acusação de violar leis de espionagem após divulgar informações de defesa nacional e publicar milhares de documentos expondo provas dos crimes de guerra praticados pelos EUA no Iraque e Afeganistão.

A decisão da justiça britânica proferida na última audiência, na sexta, rejeitou preocupações sobre a saúde de Assange e condições subumanas que ele poderia enfrentar ao ser extraditado.

Snowden: “Julgamento de Assange está mergulhado em corrupção”

Além da indignação de jornalistas de todas as partes do mundo, o ex-analista da NSA, Edward Snowden, também comentou a decisão do Tribunal britânico.

Julian Assange é um dos prisioneiros políticos mais antigos do mundo ocidental. Todos os níveis do caso contra ele foram permeados por corrupção e vícios de processo.

Ele também criticou a omissão da mídia diante da corrupção com que o caso é conduzido, além desses se utilizarem da indiferença como justificativa. “Ele não é jornalista, vociferam, fazendo pressão involuntariamente para que os direitos de falar e publicar sejam concedidos apenas a uma classe de empresas de mídia corporativa consagradas pelo Estado”, responde.

Assange sofreu derrame em outubro, diz noiva do fundador do WikiLeaks

Imagem: David Shankbone, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons

Caso abre precedente perigoso ao Jornalismo e à liberdade de imprensa

Para Nils Melzer, relator especial sobre tortura das Nações Unidas, a condenação e iminente extradição do jornalista abre um precedente “alarmante”, na prática, a negação da proteção da liberdade de imprensa a jornalistas, e ao mesmo tempo o avanço da mesma narrativa de espionagem contra eles em qualquer parte do mundo.

Ele descreve o julgamento como “nada mais é que criminalizar o jornalismo sobre temas de segurança nacional”.

Antes de buscar abrigo na Embaixada, em Londres, Assange passou mais de uma década em prisão arbitrária, segundo o relator.

Prisão do australiano é prioridade do governo americano; CIA planejou assassinato

Após decisão do Tribunal proferida na sexta (Dia Internacional dos Direitos Humanos), Moris afirmou que a equipe legal vai apelar da decisão. “Como pode ser justo, como pode ser certo, como pode ser possível extraditar Julian para o mesmo país que conspirou para matá-lo?”, questionou.

Em setembro, o Yahoo News divulgou informações sobre planos da CIA de raptar ou assassinar o fundador do WikiLeaks em 2017, ainda sob administração Trump. À época, houve discussão sobre “legalidade e a praticidade de tal operação”, com demandas de “esboços” ou “opções” de como matá-lo.

Segundo a reportagem, “as discussões sobre sequestro ou morte de Assange ocorreram ‘nos mais altos níveis’ da administração Trump. Parecia não haver limites”, disse um ex-funcionário sênior da contraespionagem.

Os planos multifacetados da agência também incluíam espionagem extensiva dos associados do WikiLeaks, semear a discórdia entre os membros do grupo, e roubar seus dispositivos eletrônicos, de acordo com o portal.

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