Assim como relatado em dezembro pelo TecMasters, as provedoras de internet dos Estados Unidos já iniciaram o processo para encerrar seus serviços 3G no país. Pelo menos no discurso, a justificativa parece ser uma só: o redirecionamento do foco para tecnologias 4G e 5G.

A gigante AT&T deu o primeiro passo e já começou a desligar seus serviços 3G desde o final de fevereiro. A T-Mobile, por sua vez, está se programando para adotar a mesma medida no fim de março, enquanto a Verizon deve manter o suporte à conexão móvel até dezembro deste ano.

Como resultado, diversos smartphones, tablets, dispositivos médicos, relógios inteligentes e até sistemas de segurança que utilizam a rede móvel antiga podem perder a capacidade de enviar mensagens de texto, conectar-se à internet e, consequentemente, baixar atualizações de segurança.

Mas claro, a grande preocupação dos brasileiros é saber se a medida, de alguma forma, vai impactar o Brasil. O TecMasters conversou com Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco, para esclarecer algumas dúvidas sobre a mudança.

Eduardo Tude, entrevistado para falar sobre o encerramento dos serviços 3G

Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco

O real motivo por trás do fim do 3G

As operadoras deixaram claro que o encerramento das redes 3G será necessário para voltar esforços ao 5G. No entanto, as bandas do 5G não necessariamente interferem no fornecimento do 3G, já que utilizam faixas de frequências muito maiores. O real motivo pode ser outro: o custo de manutenção.

“A questão é o custo que as operadoras têm em manter uma rede 2G/3G funcionando. Com o tempo, equipamentos, peças de manutenção e suporte a essas tecnologias vão ficando mais caras. Passa a ser uma rede que dá prejuízo. Por isso, muitas vezes as operadoras acabam até pagando para o usuário fazer a migração”, destacou Tude.

A analogia é a mesma de uma versão antiga do Windows ou de um modelo ultrapassado de iPhone, que deixaram de ganhar suporte por seus respectivos fabricantes. Com o lançamento de novos produtos, fica difícil dar uma atenção para itens lançados há 10 anos (ou mais).

Medida não deve impactar o Brasil

Para os EUA, a ação até faz sentido, uma vez que a tecnologia móvel de quinta geração já é realidade no país. Mas a tendência é de que o Brasil pouco sinta — ou, de fato, não seja afetado — a mudança. Isso porque a situação no território tupiniquim é bem diferente da vivida na gringa.

No fim do ano passado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) relatou que 20 milhões de brasileiros ainda estão limitados ao 3G. E isso não se resume a apenas smartphones: diversos dispositivos como máquinas de pagamento ou aparelhos inteligentes ainda são dependentes da conexão.

“No Brasil, 40% dos dispositivos 4G e 3G são usados por dispositivos como máquinas de cartão de crédito ou aparelhos de internet das coisas IoT”, reforça o presidente da Teleco.

Além disso, o 5G ainda está longe de ser, de fato, implementado para que substitua conexões mais antigas. A chegada da conexão móvel de quinta geração para as grandes capitais deve acontecer até julho deste ano, mas a expansão para demais regiões só deve ser concluída em meados de 2029.

Ilustração de conexão 5G, evolução do 3G

5G deve percorrer um longo caminho antes de ser implementado, na prática, aqui no Brasil – Imagem: Rawpixel/Unsplash

Logo, existe um logo caminho — com diversos processos necessários — para que algo parecido ocorra por aqui também.

Mudança similar? Talvez daqui 5 anos…

Por conta disso, Tude acredita que uma medida similar encabeçada por operadoras do Brasil possa acontecer somente daqui cinco anos. As empresas de telecomunicações até possuem interesse em migrar para tecnologias mais avançadas, mas para isso, será preciso zerar a base de usuários do 3G.

“A Anatel não vai permitir o desligamento do 3G enquanto ele ainda tiver algum uso”, tranquilizou o executivo, reforçando que o maior empecilho deverão ser os dispositivos máquina-máquina.

Se isso acontecer no futuro é possível que as operadores daqui sigam os passos das companhias da gringa e ajudem os usuários nesta transição, com a oferta de dispositivos parcialmente subsidiados ou até gratuitos. Tudo vai depender do progresso feito por aqui e da pressa para migrar de tecnologia.

De modo geral, os brasileiros não precisam ficar desesperados de que algo semelhante vá acontecer no Brasil no curto prazo. Os gringos, sim, devem sentir impactos mais fortes e imediatos, mas a tecnologia 3G ainda vai ser realidade em solo tupiniquim por algum tempo.

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