Um novo levantamento indica que grupos e usuários extremistas ainda seguem bem firmes no X (ex-Twitter), mesmo depois de quase 400 prisões efetuadas pela Operação Escola Segura, conduzida pela Polícia Federal em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) em abril deste ano.

A Operação Escola Segura investigou e prendeu usuários das redes sociais que participavam em atividades de glorificação de discursos de ódio e assédio – por muitas vezes, físicos. Os extremistas glorificavam ações como ataques armados a escolas infantis, bem como engajaram em discursos de ódio contra populações marginalizadas e exaltavam doutrinas problemáticas como o fascismo.

Captura de imagem mostra postagens extremistas no Twitter

Imagem: X/Reprodução

Em junho, o MJSP divulgou os resultados da operação, afirmando 369 prisões, 1.595 conduções de suspeitos e 901 solicitações de preservação e remoção de conteúdos problemáticos.

Entretanto, apesar das autoridades afirmarem que a Operação Escola Segura não tenha data para acabar e que o monitoramento segue ativo “24 horas por dia”, um levantamento conduzido pelas pesquisadoras Beatriz Lemos, Letícia Oliveira e Tatiana Azevedo (via Núcleo Jornalismo) revela que tais grupos permanecem nas plataformas e, além disso, em alguns casos – como no X – eles ampliaram seus discursos de forma mais evidente e incidente.

Segundo o relatório, os grupos ampliaram seus escopos e, além das ações e discursos passados, eles passaram a exaltar temas como cleptomania (a mania por roubos e furtos), veiculação de conteúdo gore (violência extrema, com exposição de vísceras e partes internas do corpo), automutilação, incentivo a transtornos alimentares e obsessão e perseguição de pessoas.

O levantamento fala em “família digital”, indicando que esses grupos se desmembram em diversas comunidades menores, onde o compartilhamento desses conteúdos lhes dão uma percepção de pertencimento. Uma amostra estatística indica pelo menos 10 mil membros ativos somente no X, e a interação atravessa diversos países – essa questão “além fronteira”, inclusive, é outra parte problemática, haja vista que barreiras linguísticas podem ser quebradas por imagens.

Mais ainda, os temas desses grupos tendem a se cruzar: 81,69% dos usuários que engajam no incentivo a transtornos alimentares também estão, por exemplo, dentro de comunidades de automutilação. Estes, por sua vez, estão 77% presentes em subgrupos de incentivo à violência contra diversos públicos, como negros, LGBTQIAPN+ e afins.

Como solução, as pesquisadoras sugerem o monitoramento contínuo dessas comunidades – algo que supostamente já é feito – além da regulamentação do PL2630 (o Projeto de Lei das Fake News), que regulamenta diretrizes e obrigações para as empresas de tecnologia. Ao contrário do que possa parecer, porém, a exclusão sumária destes grupos não é recomendada, haja vista que isso pode fazer com que usuários apenas migrem para outros canais, com termos de uso mais flexíveis.

Como contraponto, a inserção de conteúdos mais positivos – como a orientação e busca por canais de ajuda para temas de suicídio – podem ser um meio de tomar a frente destas comunidades.

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