Smartphones considerados de entrada – ou seja, que priorizem o preço baixo mais que as funções e capacidades – viram suas definições mudaram há alguns anos ao adotar alguns recursos dos modelos intermediários. A chinesa realme é uma das principais empresas a abraçar essa ideia, e o novo C55, lançado por ela em abril, é o mais perfeito exemplo disso.

O TecMasters recebeu uma unidade do realme C55 para fins de análise pouco antes de seu evento de lançamento (cujas fotos, ironicamente, foram feitas com ele) e, depois de praticamente um mês com o bichinho em mãos, podemos afirmar que a fabricante acertou a mão com este modelo, ainda que o resultado final tenha vindo só depois de uns tropeços.

Imagem mostra a traseira do smartphone C55 da realme

Imagem: Rafael Arbulu/TecMasters

realme C55, um modelo de entrada com cara de gente grande

Para começar, o design do aparelho foge um pouco dos padrões que você vê na maioria das fabricantes: uma coisa que eu sempre gostei na realme é como ela gosta de testar águas pouco navegadas ao criar smartphones com visuais mais chamativos, fora do “preto, branco ou prata” que vemos por aí.

Com o C55, não foi diferente: do chassis até as cores, a apresentação visual do aparelho salta aos olhos tanto na versão Rainy Night (um preto com visual de…bem…chuva) como na versão Sunshower (imagine o raio de Sol brilhando em cima de grãos de areia). O interessante é que ambas as cores se alteram levemente dependendo de onde você está, ficando mais “chapadas” em ambientes escuros, mas evidenciando as texturas de manhã ou à tarde.

Ok, isso é muito mais uma questão de gosto – e definitivamente não é para todos – mas para quem gosta desse tipo de destaque, esse modelo é um prato cheio.

Há também que se considerar a praticidade do C55: com pouco mais de 7,8 milímetros (mm) de espessura e bordas mais quadradas, ele cabe certinho em vários tipos de mão, das menores às maiores, sem nenhum desconforto. Particularmente, eu prefiro esses modelos do que aqueles de borda curva na dela, que apesar de lindos de se olhar, ficam com marcas bem evidentes da palma da mão nos cantos (o 10 Pro+, também da realme e que também já analisamos aqui, tem esse problema).

No caso deste modelo, o acabamento tem uma serventia maior: além de ser bem agradável aos olhos, a parte mais “polida” da carcaça resiste a manchas mais gerais. Óbvio que uma “pegada” mais firme vai marcar, especialmente se você está com ele em algum evento público ou onde tenha “comes e bebes” para engordurar a mão, mas no dia a dia, você não vai se ver limpando impressões digitais com a barra da camiseta tão cedo – e mesmo quando precisar fazê-lo, o display Panda Glass deixa tudo relativamente fácil de limpar.

Em suma, é um modelo de entrada? Sim, mas você não consegue afirmar isso apenas olhando para ele.

Ok, mas e o recheio?

É, aqui é que as águas ficam turvas: o realme C55 é um ótimo smartphone. Eu preciso tirar isso do caminho agora, então vou reafirmar: o realme C55 é um ótimo smartphone. Ok? Ok.

Isso dito, o seu maior problema é também o seu maior trunfo: ele tenta demais. E há partes onde ele consegue muito resultado, mas quando ele falha, são erros bem notáveis. Começando pelos prós, a câmera de 64 megapixels (MP) do aparelho é bem forte. O sensor fabricado pela Omnivision – uma subsidiária americana com uma proprietária chinesa – é bastante preciso e veloz, e alguns fotógrafos colocam a marca acima de nomes mais conhecidos, como Samsung ou Sony.

Obviamente, não há comparação entre a câmera principal do C55 com, digamos, a de um Galaxy S23 Ultra. São modelos bem diferentes, com propósitos diferentes. Mas considerando ser o aparelho da realme um modelo de entrada, a câmera faz muita coisa que aparelhos intermediários não fazem.

Um dos pontos que mais curti, particularmente, foi o modo “Urbano”: pense nele como uma função que identifica elementos em todos os planos da composição fotográfica, e usa da inteligência artificial (IA) para gerar pequenos melhoramentos em todos eles – na prática: elementos “quebradiços” ou fora de foco ganham uma definição mais refinada. Nada de primeiro mundo, mas é bem interessante uma fabricante querer aliviar a necessidade de foco. Eu não lembro de quando consegui bater imagens tão rápido.

[Review] realme C55 é estiloso e tem conteúdo, mas bateria fica abaixo da média
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Em compensação, os outros modos são, na melhor das hipóteses, bem normais (e o modo noturno é honestamente fraco). Seja no modo normal, retrato (onde a realme promete um efeito bokeh – aquele “desfoque” no fundo para priorizar o primeiro plano – fora do comum, e entrega…bem, só o básico), na selfie… os outros sensores parecem estar lá apenas por uma burocracia: convém um smartphone contemporâneo ter vários sensores, então vamos enfiar dois sensores traseiros simplesmente porque sim (mesmo que o de 2 MP, voltado à profundidade, seja facilmente ignorável).

Imagem feita com o realme C55

Imagem: Rafael Arbulu/TecMasters

O resultado disso: uma câmera que responde maravilhosamente bem em um modo específico, mas falha ou é mais do mesmo no restante. O zoom do aparelho também não facilita isso: já nas aproximações intermediárias, dá para ver a quebra de pixels da imagem, e o resultado parece mais um quadro com cores misturadas do que uma foto com elementos destacáveis.

[Review] realme C55 é estiloso e tem conteúdo, mas bateria fica abaixo da média
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Felizmente, o vídeo tenta compensar isso com relativo sucesso, capturando detalhes primários da imagem mesmo que seu movimento seja veloz – tipo um carro – ou imprevisível, tipo um gato de rua que pode ou não parar para fazer pose para você (não me pergunte como eu fiz isso, o bichano simplesmente quis colaborar). Ah, e suas resoluções vão entre 720p (30/60 fps) e 1080p (30/60 fps), mas ele não faz 4K.

Sistemicamente, também há alguns percalços na interface: a realme UI 4.0 (Android 13) parece não ter sido feita para esse aparelho, e há alguns gargalos de navegação nas áreas mais evidentes: aplicativos com feeds de atualização mais pesados – como o Instagram, que é 90% vídeo – têm uma expectativa normal de “comer” mais do processamento para exibir as coisas na tela. Mas isso é mais acentuado aqui.

Isso seria facilmente ignorável, se não se repetisse em aplicações onde isso deveria ser bem rápido: no Spotify, por exemplo, mesmo sem nada estar tocando, é bem comum que uma rolagem rápida por uma lista de reprodução veja “buracos”: primeiro a tela mostrava os números da ordem das músicas, depois os títulos, os artistas, o álbum e assim por diante…um de cada vez, como se estivesse “carregando” a tela. São letras e números. Isso definitivamente não deveria acontecer.

Mais além, efeitos de transição na tela principal também deixavam uma percepção de movimento mais devagar. Quando me refiro a eles, caso você não saiba, falo de quando você passa o dedo de um lado da tela a outro, saindo da parte do “relógio” e indo para onde você tenha organizado seus apps. Os efeitos que trocam a tela são bem bonitos, é verdade, mas não compensa ficarem acionados se deixarem o celular lento. Ou seja, desliguei tudo.

No C55, a realme inaugurou o que chamou de “mini cápsula” – essencialmente, a versão dela para a “ilha de notificações” dos iPhones mais recentes da Apple. Mas ao contrário da Maçã ou da versão “Samsung” do recurso, posso afirmar com segurança que você não vai nem lembrar que ela existe – no meu caso, antes de eu dedicar atenção especificamente a ela para esse review, eu só a percebi quando conectava o aparelho no carregador, onde ela exibe um design mais “invocação” para dizer que o recurso SuperVOOC foi acionado (mais sobre ele ao longo do texto).

No que tange ao hardware, a realme investiu bem: armazenamento de 256 GB com 8 GB de memória RAM, com gerenciamento processual inteligente (cortesia do chip Helio G88 da Mediatek, o que aponta outra falha: não há 5G neste modelo). A bateria, no entanto, não é “aquelas coisas”: apesar de 5.000 miliamperes-hora (mAh) de capacidade, ela descarrega relativamente rápido.

Calma, você ainda vai usar o aparelho mais de um dia e meio sem nem olhar para a tomada na parede. Mas você também vai notar o percentual de carga baixando de forma incomum – especialmente se você veio de outras baterias ou usa apps com alta demanda, como o TikTok. Felizmente, erra de um lado, compensa no outro: o recurso SuperVOOC de recarga traz 33W de potência, o que na prática se traduz para “vai de 1% a 100% em um pouquinho mais de uma hora”. Isso foi especialmente útil quando eu queria, digamos, sair de forma inesperada e cismei de carregar o C55 por uns 10 minutos, ganhando dois dígitos percentuais de energia extra.

Conclusão: vale a compra ou não vale?

Como disse lá em cima, o realme C55 é um ótimo aparelho. Dos modelos de entrada atualmente disponíveis no mercado, ele não é o mais robusto, mas ele demonstra esforço em corresponder às expectativas com fotos razoáveis no sensor principal, boa recarga (mas não “boa energia”) e um processamento que, mesmo com gargalos, não vai lhe fazer arrancar os cabelos de tanto esperar.

Ele acerta bem, mas também erra onde não precisava errar. Atualmente oferecido no Brasil a R$ 2.299, ele pode ser uma opção interessante para quem tem um orçamento meio curto, mas ainda quer algo que inspire uma apresentação mais trabalhada. Se você conseguir ignorar os pormenores apontados aqui, então essa pode ser mais uma marca para você colocar no seu radar.

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