A democracia passa por momentos de total transformação e os avanços tecnológicos têm sua parcela de responsabilidade nisso. Atualmente temos dados que ajudam o político em toda a estratégia de campanha, como a inteligência artificial que pode ser uma aliada para disseminar informações sobre proposta de governo e as tecnologias de informação e comunicação (TICs), que permitem mudanças sociais profundas e influenciam todas as camadas da sociedade.

Mas nem os políticos e muito menos a sociedade estão usando o potencial tecnológico para fazer algo inteligente e que beneficie a população durante as eleições de 2022. Pelo menos não é isso que temos acompanhado. Ao contrário, uma disseminação de ódio, perfis falsos e fake news estão assolando e comprometendo a democracia, o que é lamentável.

Se não for bem usada, a tecnologia pode ameaçar a democracia

Imagem: Shutterstock

Com a transformação digital acelerada e com a quantidade de dados que temos, sem dúvida, era para estarmos seguros diante das eleições deste ano. Mas nos sentimos ameaçados com a quantidade de informações que recebemos diariamente e com a dificuldade de descobrir a veracidade de cada uma.

Inteligência artificial, manipulação e campanha eleitoral

Provavelmente, você já deve ter percebido como nas redes sociais não se fala de outro assunto que não seja política. No entanto, não importa o lado que você defenda, é bem possível que você sofra nesse ambiente que se tornou propício para que discussões, informações, palpites e até mesmo para que as fake news se disseminem.

Acontece que no Brasil existem mais de 141 milhões de usuários (aproximadamente 67% da população) nas redes sociais, segundo a CETIC, o que faz com que o país seja colocado entre os cinco maiores em termos de número de usuários dessas plataformas no mundo.

Lá, as pessoas encontram um jeito de colocar sua voz, sua opinião, abraçar alguma causa e defender o que acreditam. Embora isso seja bom, já que aumenta a participação na política e cria conexões diretas, é muito mais fácil cair em alguns perigos, como ser alvo de contas autônomas programadas (conhecidas por bots) para espalhar mensagens, manipulando a opinião pública.

Facebook e Twitter

Foto: Pixabay

De acordo com o Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade (Ipea) Tropas cibernéticas passaram a utilizar inteligência artificial durante campanhas eleitorais, com o objetivo de moldar o discurso público, muitas vezes suscitando sentimento de ódio.

Além disso, algoritmos utilizados em redes sociais, como o Facebook, podem causar o chamado “efeito ressonância”, isto é, sugestões personalizadas para cada indivíduo levam a “bolhas”, podendo ampliar a polarização e brutalização do comportamento social em círculos virtuais e físicos.

Ainda temos as fake news por toda parte. Segundo levantamento feito pela Poynter Institute, escola de jornalismo e organização de pesquisas americanas, com apoio do Google, no Brasil, quatro em cada 10 pessoas recebem notícias falsas todos os dias, sendo que 43% dos brasileiros afirmaram já ter enviado um post, vídeo, imagem ou notícia e só mais tarde terem percebido que se tratavam de informações inverídicas.

O momento é desafiador e ainda travaremos muitas brigas entre a tecnologia do bem e do mal. É sempre bom lembrar que as ferramentas tecnológicas vieram para ajudar o ser humano a passar por importantes questões, resolver diversos problemas e trazer mais qualidade de vida para toda a sociedade.

Na democracia, a tecnologia é fundamental e precisamos usá-la a nosso favor. Os políticos conseguem fazer uma campanha e traçar um plano de governo muito melhor sabendo que terá toda a população munida de dados, informações e tecnologias que ajudam a cobrá-los por cada promessa. Além disso, a sociedade consegue se organizar e ter maior participação política.

A democracia e a tecnologia são fortes aliadas para melhorar todo o processo político do nosso país. O nosso voto é para que ambas sejam usadas para o bem de toda a sociedade.

 

Alessandra MontiniAlessandra Montini é diretora do LabData da FIA – Laboratório de Análise de Dados. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), Doutora em Administração pela FEA (2003), Mestra (2000) e Bacharel (1995) em Estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística IME-USP. A executiva é Consultora em Projetos de Big Data e Inteligência Artificial, Professora de Big Data; Inteligência Artificial e Analytics, Professora da Área de Métodos Quantitativos e Informática da Faculdade de Economia; Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Núcleo de Estudo de Modelos Econométricos e Núcleo de Estudo de Big Data e ainda parecerista do CNPQ e DA Fapesp. Ao longo desses 20 anos de carreira Alessandra já recebeu 40 vezes o prêmio de “Desempenho Didático do Departamento de Administração da FEA”, foi 4 vezes premiada como “Melhor Docente do Departamento de Administração” e recebeu mais de 20 vezes o prêmio de “Professora de melhor avaliação dos cursos de graduação e pós-graduação na FEA”.

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Haroldo
11 de outubro de 2022 22:31

Não há razão para atribuir a um ente “imaterial” como agente de causa e consequências. A “tecnologia”, associada ao que nos proporciona, permite meios e maneiras de fazer o que já fazíamos? Pessoas se apropriam desses meios (tecnológico) para dinamizar o “fazer”, nada mais que isso. Analogias a parte, tomamos aquela que diz: “armas matam”. Ilógico. Pessoas portanto e as manuseando para esse fim é que matam. Uma ferramenta, um utensílio,…? a “tecologia” da informação ou da comunicação, nada mais é que um meio, nunca um ente capaz de transformar estímulos em lógica (matemática ou filosófica). Pessoas mentem, de diversas maneiras, com ou sem meios “tecnológicos”. A realidade que nos cerca condiciona não condiciona a percepção humana, mas a percepção humana condiciona a realidade a um estado de circunstâncias.