Sob o risco de chover no que já está molhado, quando você ouve alguém falar em “OnlyFans”, muito provavelmente a primeira coisa que vem à sua cabeça é pornografia e venda de conteúdo de sexo explícito. Bem, isso pode estar em vias de mudar, segundo a própria plataforma.

De acordo com entrevista de executivos do OnlyFans à Bloomberg, ainda é desejo da companhia se afastar do setor de conteúdo adulto – algo que ela já havia tentado há pouco mais de um ano. Agora, no entanto, uma premissa legislativa favorece a possível manobra: no Reino Unido, está em votação uma nova proposta de lei que, na prática, cria paradigmas para proteger menores de idade de “conteúdo ofensivo ou danoso, ou conteúdo legalizado porém perigoso”.

Imagem mostra adesivo com logotipo do OnlyFans, com notas de dólares embaixo da tela, um batom vermelho à sua direita e uma lingeria também vermelha por cima

Imagem: Mehaniq/Shutterstock

Obviamente, qualquer proposta que ambicione evitar que conteúdos adultos – sejam eles pornografia ou terror mais explícito, para citar dois entre muitos exemplos – caiam nas mãos de crianças receberá amplo apoio. E o OnlyFans já confirmou ser apoiador da nova lei caso ela seja sancionada.

“Nós somos apoiadores vocais do projeto de lei de segurança online, e qualquer sugestão de que nós tenhamos tentado ou tentávamos escapar de seus requerimentos não encontra suporte em análises factuais, evidências ou afirmações feitas pelo OnlyFans.”

Em outras palavras: se a lei for aprovada, a plataforma não tentará buscar nenhuma isenção dela – o que preocupava alguns legisladores britânicos.

É importante ressaltar que, ao contrário do ano passado, a plataforma não buscaria banir o conteúdo sexual, mas sim desassociar a imagem de sua marca a ele. Verdade seja dita, é perfeitamente possível encontrar criadores de conteúdo na plataforma que não trabalhem com material adulto – personal trainers, influenciadores gastronômicos e músicos de variados graus de fama divulgam seus trabalhos por lá (totalmente vestidos).

Há também um outro detalhe a se considerar: nenhum canal oficial do OnlyFans – seu blog oficial, seu perfil no Twitter ou suas newsletters e comunicados de imprensa – promovem criadores de conteúdo pornô. Por mais que a fama da plataforma seja desta natureza – sexo se vende bem por conta própria, goste você ou não -, isso foi algo que simplesmente aconteceu, à revelia do que pretende a plataforma.

Tanto que muito do OnlyFans efetivamente proíbe pornografia: a empresa conta com um app de smartphones focados em vídeos sob demanda, chamado OFTV. Nele, conteúdos eróticos são terminantemente banidos, priorizando apenas as produções tradicionais.

No passado, o OnlyFans tentou efetivamente banir a pornografia de suas plataformas: em agosto de 2021, a empresa firmou parcerias de investimento com diversas operadoras de cartão de crédito e bancos, e uma das exigências dessas companhias era justamente a paralisação da veiculação de material pornô. Embora a ideia tenha sido abandonada meros dias depois, ela ainda levou à popularização de serviços concorrentes (e exclusivamente pornográficos) como o Fansly e, no Brasil, o Privacy.

Houve também um rumor, em março/abril deste ano, de que a empresa estudava fazer a sua oferta pública inicial (IPO) e entrar no universo das marcas de capital aberto e cotadas nas bolsas de valores – outro local onde o tradicionalismo corporativo faz cara feia para o conteúdo adulto. Este, porém, foi um boato que não teve desenvolvimento.

Captura de imagem mostra canal de músico no OnlyFans, que vem tentando se desvincular da pornografia

Apesar de ser conhecida pelo conteúdo de sexo explícito, a plataforma OnlyFans também oferece – e promove – criadores de outras vertentes, num esforço de desvincular sua marca do mercado adulto (Imagem: OnlyFans/Stephen Voice/Reprodução)

Se a situação no Reino Unido vai para frente ou não, ainda não sabemos: a proposta legislativa vem tendo a sua redação editada para contemplar situações mais específicas. Segundo entrevista recente à rádio BBC 4, Michelle Donelan, apontada pela primeira-ministra Liz Truss como a nova líder do Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS) disse que o objetivo primário segue sendo a proteção de crianças contra conteúdos adultos, mas que a lei deve fazer isso de forma que não gere impacto à liberdade de discurso e mídia.

Especificamente, Donelan disse que o rascunho da proposta está em busca de uma entre três opções possíveis: aplicar uma restrição universal (e essencialmente “banir” todo tipo de conteúdo, legal ou não); criar verificações de idade para usuários de todas as faixas etárias, maiores e menores; ou usar algum recurso tecnológico de certificação de idade direcionado apenas a usuários suspeitos de serem menores de idade (e assumir os riscos caso essa tecnologia falhe e o menor acabe acessando os conteúdos fechados de qualquer forma).

Donelan disse, sem oferecer muitos detalhes, que o parlamento britânico terá que escolher um dos três cenários e segui-lo à risca. Mas ela disse também que ainda não há uma data para essa decisão ser tomada pois, segundo ela, são as proteções às crianças que estão discutidas e, por causa disso, é natural que o cuidado e a demora sejam mais evidentes. Convenhamos, ninguém quer errar com o público infanto-juvenil.

Como isso vai se refletir no OnlyFans e outras empresas de produção de conteúdo – com e sem pornografia – só o tempo vai dizer.

via Bloomberg | Techcrunch

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