A agência espacial norte-americana – a NASA – vai veicular um experimento que busca simular as condições ambientais de Marte. Não contente, a simulação ainda vai…enfiar quatro pessoas lá dentro só pra ver o que acontece.

A estrutura está toda instalada em um hangar da agência em Houston, no Texas, e embora não seja “exatamente” o planeta vermelho (que aliás, nem vermelho é, mas isso é outro assunto), a NASA disse à BBC que é a imitação mais próxima que ela já construiu.

Imagem ilustrativa mostra Marte, o planeta vermelho em estudo pela NASA

Imagem: joshimerbin/Shutterstock

Essencialmente, toda a estrutura conta com montanhas feitas de papelão pintado, muitas dunas improvisadas de areia, algumas esteiras e headsets de realidade virtual (VR). A ideia é colocar neste ambiente três grupos de quatro pessoas – cada grupo sendo formado por dois homens e duas mulheres – durante um ano inteiro.

A premissa: absolutamente zero contato com o mundo externo, a fim de ter a ideia mais fiel de vivência por meio do isolamento, tal qual seria se nós já pudéssemos povoar Marte. Convenhamos, “mandar um zap” para qualquer pessoa é meio difícil em uma distância interplanetária. O sinal do roteador acaba um pouquinho antes.

A ideia vem sendo chefiada pelo programa CHAPEA, ou “Análogo de Exploração de Performance e Saúde da Tripulação”:

“À medida em que a entrega de suprimentos a Marte será limitada por fatores como volume, massa e custos, nós podemos começar a entender como apoiar as pessoas com o que vamos prover, e isso nos trará valiosas informações para tomar essas decisões tão importantes.” – Grace Douglas, chefe do CHAPEA na NASA

Mais ainda, o programa também vai avaliar o impacto que o experimento trará para a saúde mental dos participantes, e usar esses dados para ampliar a gama de ação das missões tripuladas para Marte. Segundo estimativas, a NASA e várias agências do mundo pretendem mandar a primeira tripulação para lá em 2028.

Mas a NASA quer colonizar Marte?

Por mais que Marte tenha muitas similaridades com a Terra – o tempo do dia tem quase a mesma duração (alguns minutos a mais lá) e a composição química do planeta vermelho tem vários elementos parecidos com os nossos – é importante ressaltar que a “colonização” de Marte é praticamente impossível.

O motivo mais óbvio: a atmosfera de Marte é totalmente hostil à vida como a conhecemos: ela é totalmente impossível de respirar, e sua temperatura média fica entre -70º C (Celsius) e 0º. Mais além, o planeta inteiro vê constantes tempestades de poeira, que podem não só representar riscos para astronautas, como também destruir equipamentos. E isso tudo, ignorando a constante ionização planetária causada pela radiação – perigosa como ela é, a atmosfera de Marte é extremamente fina, e oferece virtualmente zero proteção contra os raios ultravioleta do Sol.

Entretanto, existem fortes possibilidades de que Marte tenha recursos naturais exploráveis em algum grau. Desta forma, embora a colonização – que implica na vida a longo prazo no planeta vermelho – seja uma impossibilidade, missões exploratórias podem render resultados interessantes.

Por essa razão, o experimento da NASA quer simular todas as possíveis variáveis para que missões do tipo, quando executadas, possam ter todos os seus cenários antecipados: “conforme nos movemos da órbita baixa da Terra, passando pela Lua e indo até Marte, nós vamos ficar muito mais restritos em relação a recursos do que, digamos, na Estação Espacial Internacional [ISS], e estaremos também muito mais longe da Terra e de qualquer auxílio que possamos oferecer”, explica Douglas.

Em média, uma viagem para Marte tende a levar cerca de seis meses para chegar daqui para lá.

A estrutura montada pela NASA, então, levará tudo isso em consideração, e tudo o que tem em seus 160 metros quadrados (m²) é montado especificamente para lidar com isso: serão quatro quartos, uma sala comum com uma cozinha equipada somente com um microondas, videogames, uma TV e alguns jogos de tabuleiro. Ironicamente, um dos jogos disponibilizados é Catan, um jogo multiplayer onde o objetivo é…explorar um outro planeta.

Além disso, um jardim verticalizado permitirá que os voluntários plantem ingredientes. Fora isso, um escritório comunal, uma mini academia e um posto de saúde também foram instalados. Semanalmente, esse posto será usado para checkups clínicos e psicológicos. Pela natureza voluntária do projeto, os participantes poderão sair quando quiserem caso desejem. A NASA tem candidatos de reserva para o caso de algum deles desistir.

O projeto deve começar no verão norte-americano, o que, traduzindo em meses, corresponde ao período entre junho e setembro de 2023.

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