Então, a Apple quer “registrar” imagens de maçãs  como “marca”. Sim, é sério. A ideia pode soar um tanto quanto estapafúrdia – e de fato o é – mas a fabricante do iPhone está longe de ser a única a tentar tamanha pataquada.

Na verdade, em vários campos e indústrias, a história das marcas e patentes estão recheadas de tentativas de registros bem…questionáveis. E o pior é que muita gente conseguiu, para o bem ou para o mal. Aqui, o TecMasters reuniu 10 exemplos (mas sim, existem incontáveis mais):

USPTO, o escritório de registro de patentes e marca dos EUA

Imagem: Michael Vi / Shutterstock.com

Os 10 registros de marca mais toscos (entre milhares de outros)

New England Patriots

  • O registro: “19-0”
  • Resultado: reprovado

Um dos mais populares times daquele esporte que estadunidenses insistem em chamar de “futebol” mas que jogam com as mãos, o New England Patriots – vulgo ex-time do “ex-Gisello Bundchen” – estava em vias de conquistar uma temporada perfeita de invencibilidade, com a referida numeração sendo o placar final. O Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos (USPTO) recusou o pedido…bem a tempo do Patriots sofrer uma derrota acachapante na semana seguinte.

Na época, o New York Post não conseguiu evitar o sarcasmo e tentou registrar em seu nome o placar “18-1”, também sem sucesso (mas com muita graça).

Tom Brady, ex-jogador de futebol americano

Imagem: Maddie Meyer / Getty Images

Boise State University

  • O registro: a cor azul do gramado de futebol de seu campus
  • Resultado: aprovado

A universidade de Boise State é bastante reconhecida pela cor incrivelmente azul do seu estádio, o Bronco Stadium. Sério, é muito azul…tão azul que a cor azul olhou para esse gramado e disse “tá muito azul isso aí, mano”.

Diante de uma oportunidade de marketing nunca antes trilhada porque a maioria das pessoas têm um pingo de vergonha na cara, a universidade buscou registrar – com sucesso — como marca não a cor, mas a ação de se pintar o gramado de azul. Por esse motivo, nenhuma outra instituição do tipo tem estádios da mesma cor no país (vale citar, no entanto, que outras faculdades seguiram a mesma rota: Eastern Washington, por exemplo, tem a grama bem vermelha).

Imagem mostra o estádio Bronco, da Universidade de Boise, e seu gramado azul

Imagem: Boise State University/Divulgação

Syracuse University

  • O registro: a palavra “laranja”
  • Resultado: pendente

Quase 4 mil quilômetros de distância do item anterior, nosso artigo nos leva a outra faculdade norte-americana. No estado de Nova York, a Universidade de Syracuse tentou registrar a palavra “orange” – inglês para “laranja”. Isso porque seus times esportivos – sobretudo o de futebol americano – são conhecidos por “Syracuse Oranges”: um apelido tão carinhoso quanto “o inegavelmente maior de todos os tempos” para o Corinthians ou “Sem Mundial” para o Palmeiras (chora na cama que é lugar quente, Tissiane!).

Por incrível que pareça, o USPTO informa que o pedido está sob análise, embora várias outras escolas com um apelido genérico como “laranja” tenham entrado com processos em oposição, como é o caso do Tennessee e da Flórida.

Imagem da torcida de Syracuse Oranges, da liga universitária de futebol americano

Imagem: Scott Schild | sschild@syracuse.

Donald Trump

  • O registro: a frase “Você está demitido!”
  • Resultado: única coisa demitida aqui foi o pedido de registro prontamente negado

O ex-presidente dos EUA, ex-apresentador de TV, quebrador profissional de empresas e supostamente bilionário porque-ele-diz-que-sim-confia, Donald Trump, tentou registrar a frase “You’re Fired (“Você está demitido!”) – jargão que ele próprio cunhou quando apresentava o programa “O Aprendiz” no horário nobre da TV aberta dos EUA.

Alguns relatos na mídia afirmam que a intenção era a mesma de todas as outras coisas feitas pelo homem: abrir mais uma via de ganhar dinheiro – “You’re Fired” seria usado por Trump em estampas de camisetas, bonés e até bonecos bobblehead, além de produtos de cassinos…se o pedido fosse aprovado.

O pior, no entanto, não é a recusa, mas o motivo dela: os oficiais do USPTO simplesmente pensaram que “You’re Fired” soa muito parecido com “You’re Hired” (“Você está contratado”), um jogo de tabuleiro educacional popular nos EUA.

Donald Trump

Imagem: Business Insider/Reprodução

 

MGM Studios

  • O registro: “aquele” rugido de leão
  • Resultado: aprovado

É. Aparentemente, um estúdio de cinema é dono de um rugido de um grande felino. Ênfase, contudo, no “um” rugido. E não foi por falta de briga: a empresa vinha tentando isso desde 2008, mas apenas em 2012 é que a autoridade de patentes e marcas do Canadá (CIPA) permitiu – por meio de decisão judicial – que a ideia seguisse em frente.

A MGM levou a “briga de gente grande” para isso, aliás: o estúdio providenciou espectrogramas, arquivos de som e até desenhos de storyboards detalhando a gravação do felino de grande porte. Apesar da propriedade ser reconhecida, no entanto, a disputa sobre ela causou o entendimento de que um barulho pode ser usado por várias pessoas – culpa da Capitol Records, que operou a gravação com o animal e desafiou o registro.

Aliás, o leão tem nome: Leo, the Lion. Mas outros cinco trabalharam na posição antes dele: Slats, Jackie, Bill, Tanner, George e, atualmente, Leo, de 67 anos (sim, é sério!). Olha ele aqui sendo charmoso em 2009 – a “voz” da vinheta é dele.

Jason Gambert

  • O registro: a sigla “SEO” e seu significado
  • Resultado: reprovado pacas

Entrando de leve no campo da tecnologia e produção de conteúdo, Jason Gambert – um cara de quem quase ninguém ouviu falar antes disso – tentou registrar a sigla “SEO” (inglês para “Otimização Para Mecanismos de Busca”).

A sigla remete a uma prática de produção de conteúdo bastante usada por sites de notícias, blogs e canais corporativos que buscam uma boa posição nos resultados de busca do Google, o que se converte em maiores audiências…você entendeu.

O motivo dessa entrada na lista, no entanto, é outro: Gambert tentou fazer o registro “na surdina”, sem muito alarde. Foi uma blogueira especializada em SEO, Sarah Bird, que tropeçou na informação durante seu trabalho como conselheira técnica da empresa SEOmoz, quem viu a situação.

Rapidamente percebendo o problema (Gambert tentou o registro várias vezes, sempre sendo derrotado) que progride de uma pessoa tentar ser “dona” de uma ciência digital – essencialmente, todo mundo ia dever dinheiro pro cara e ele poderia processar todo mundo – Bird fez o que qualquer comunicadora sensata faria e…xingou muito no Twitter e outras redes sociais.

A internet, que adora um barraco, respondeu com diversos usuários preenchendo contra-pedidos ao USPTO, que corriqueiramente emite negativas a Gambert. Rumores indicam que a última tentativa de registro dele foi em 2009.

SEO

Imagem: myboys.me/Shutterstock

Twitter

  • O registro: a palavra “tweet”
  • Resultado: hahahahaah eles perderam a palavra que era só deles, mano!

Imagine você criar uma plataforma social mundialmente reconhecida a ponto de ser uma das “três grandes” – as outras duas sendo o Facebook e o Instagram – e a única coisa que remete diretamente a você lhe ser impedida de usar legalmente.

É, esse é mais ou menos o caso do Twitter: desde pelo menos 2014, a empresa fundada por Jack Dorsey e atualmente liderada por Elon Musk vem tentando obter os direitos registrados pela palavra “tweet” (o “tuíte” que você vê aqui). E sempre a empresa falha…por causa de um cara que costumava trabalhar em parceria com ela.

Essencialmente, o Twittad, um serviço de publicidade digital que já foi parceiro do Twitter, registrou a palavra antes, para usar em seu slogan “Let Your Ad Meet Tweets” de 2008. Por essa “propriedade reclamada” antes que a rede social pensasse em registrar o termo, o Twitter sempre perdeu. Em 2011, rolou até processo – e o Twitter chegou a suspender a Twittad da plataforma. Eles voltaram pouco depois, mas a empresa não é mais ativa (seu último tweet – trocadilho intencional – é de 2017)  e o uso da palavra acabou universalizado, e hoje todo mundo consegue dizer “tweet” sem medo de levar uma ação judicial nas costas.

Twittad

Imagem: Twittad/Reprodução

Apple

  • O registro: a expressão “App Store”
  • Resultado: aprovado (??)

É, não é a primeira vez que a Apple tenta a sorte com o registro de propriedade sobre uma palavra que todo mundo usa – e pior, na outra vez, ela conseguiu. Tecnicamente, a palavra “App” de “App Store” refere-se a “aplicativo”, mas de alguma forma, a dona do iPhone conseguiu remeter a propriedade do termo completo para o seu rol de patentes.

O assunto ocasionalmente retorna ao noticiário porque, apesar da propriedade, a Amazon e a Microsoft desafiaram o termo na justiça, argumentando que “app” é algo genérico demais para ter um dono específico. O processo ainda está correndo, pendente de julgamento, mas isso não impediu que a Amazon lançasse uma “App Store” própria para o Android.

Vale citar que, embora o registro ainda conste em nome da Apple, a empresa não lista mais o termo em sua página de marcas e patentes.

Imagem mostra ícone da App Store, da Apple, na tela de um iPhone

Imagem: BigTunaOnline/Shutterstock

Facebook

  • O registro: a palavra “face”
  • Resultado: Aprovado, depois reprovado

É, aquela pessoa irritante que ainda insiste, em pleno 2023, em pedir para que você a “adicione no Face” não está errada. A rede social co-criada por Mark Zuckerberg conseguiu o registro da palavra – que literalmente significa “rosto” – em meados de 2010. E não teve nenhum desafio para isso, vale citar.

Na verdade, a “permissão” é o que o “legalês” da coisa chama de “Notice of Allowance”, que é o termo jurídico para “vai usando aí enquanto a gente dá uma olhada”. Bom, muitas “olhadas” depois, o registro definitivo foi recusado, ainda bem. Já não basta os caras venderem nossos dados para quem pagar mais, já imaginou devemos royalties para o “tio Zuck” sempre que a gente quisesse falar “Rosto” abertamente? O cara luta jiu jitsu, você não quer dever para alguém assim…

O empresário e um dos grandes bilionários do mundo, Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook e da Meta, acenando

Imagem: Frederic Legrand – COMEO/Shutterstock.com

 

King

  • O registro: a palavra “Candy”
  • Resultado: Pré-aprovado, depois recusado porque pegou mal pacas

Sim, aquela do Candy Crush Saga. Essencialmente, eles preencheram a papelada para obter registro da primeira palavra do título do jogo e…em uma fenomenal mancada do USPTO, conseguiram.

Aqui, vale um esclarecimento: segundo especialistas, não há nenhum impedimento legal que evite que uma marca registre uma palavra genérica como propriedade. Entretanto, como tudo na vida, o contexto é importante: a palavra registrada só vale para um uso bem específico, não pela sua aplicação indefinida.

Neste caso, a palavra “Candy” foi registrada como “em uso” especifico para o título do jogo. E mais além, isso não impediria ninguém – nem mesmo outros desenvolvedores de jogos – de usar a mesma palavra, no mesmo contexto. A condição seria apenas para que eles não a usassem no título.

Pense assim: se você inventar um novo teclado de computador chamado “Candy”, outras empresas ainda continuariam usando o termo para seus produtos, mas só você poderia aplicá-lo em teclados de computadores. E pelo fato da palavra, apesar de genérica, não ser automaticamente associada a um produto da informática, não haveria nenhum problema.

A parte do “erro”, no entanto, é o fato do USPTO ter permitido o registro de uma palavra que se traduz para “Doce”, em um jogo cujo tema central é…”doces”. Normalmente, eles recusariam isso por padrão: no caso da King, isso passou.

Não que tenha feito muita diferença: cerca de um mês depois da pré-aprovação, a própria King confirmou ter abandonado o pedido em caráter formal, sem citar o motivo (mas obviamente foi a chuva de críticas que a marca sofreu).

Entretanto, ela é dona do termo “Saga”, ou seja

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