A demonstração de Phantom Liberty, expansão de Cyberpunk 2077 que traz uma nova história, personagens, cidade e diversas outras novidades, não foi a única atividade do TecMasters em Los Angeles, durante o Summer Game Fest: Play Days. Além de jogar o conteúdo inédito, também foi possível conversar com Wiktoria Stachowska, a artista de ambiente sênior e coordenadora de cidade, e com Kacper Niepokólczycki, o artista líder de ambiente.

A dupla respondeu diversas perguntas sobre a nova expansão de Cyberpunk 2077, explicando melhor as infinitas possibilidades de interação entre o protagonista V e Solomon Reed (o personagem de Idris Elba), e revelando algumas das principais inspirações para a criação de Dogtown, a cidade onde a história de Phantom Liberty se passa. Entre as referências, o time se baseou em favelas do Brasil e no comportamento das pessoas após o terremoto de Managuá em 1972.

Abaixo, você confere a entrevista na íntegra!

As dinâmicas entre personagens de Phantom Liberty

TecMasters: OK. Começando com algo muito específico: eu senti que aconteceu alguma coisa entre a Myers e o Reed no passado e eles continuam mal resolvidos desde então.  O que vocês podem me falar sobre isso?

Kacper Niepokólczycki: O que eu posso dizer, de uma forma que não estrague a experiência, é que existe uma história para ser desenrolada, e você pode descobrir cada vez mais sobre, conforme for jogando a expansão. 

TecMasters: Certo. É que eu fiquei com essa forte impressão sobre eles.

Wiktoria Stachowska: Em Phantom Liberty você terá mais impressões como esta e com muitos personagens, pois nós realmente não demonstramos as verdadeiras motivações internas deles, e nem seus objetivos. Então cada um deles tem sua própria abordagem para muitas coisas, e você não pode confiar em todos. Na realidade, você provavelmente vai ter que investir em alguns relacionamentos e, em determinados momentos, terá a chance de conhecer esses objetivos e motivações para ter mais certeza [sobre quem confiar].

TecMasters: E eu consigo conhecer essas motivações e objetivos apenas fazendo a campanha principal ou existem histórias paralelas para que eu possa explorar mais sobre esses personagens?

Wiktoria Stachowska: Ambos! O que você viu [na demonstração] é o que faz parte da campanha principal, certo? Isso por si só, já oferece várias missões. Mas também temos muito conteúdo secundário e atividades emocionantes. Adicionamos muitas novidades como armas, equipamentos, novos trabalhos, entregas, rotas e muitos outros detalhes. Então, em geral, há muito o que fazer e descobrir em Dogtown.

Kacper Niepokólczycki: O negócio é que o jogo é bastante focado em história. Então quanto mais você souber agora, menos divertido vai ser quando jogar. Vamos tentar poupar um pouco disso. [Ao mesmo tempo], nossos games são muito abrangentes, sabe? Você vai precisar fazer escolhas, decisões que serão muito difíceis, e cada uma delas leva a resultados diferentes, seja na história, seja nos relacionamentos… ou o que quer que esteja acontecendo. E sim, temos algumas missões secundárias diferenciadas e todas elas levam a caminhos variados.

Os artistas Kacper Niepokólczycki e Wiktoria Stachowska

Os artistas Kacper Niepokólczycki e Wiktoria Stachowska (Imagem: Jessica Pinheiro/TecMasters)

TecMasters: Então haverá ainda mais consequências para minhas escolhas em Phantom Liberty?

Kacper Niepokólczycki: Sim! E todas elas vão conduzir a resultados absolutamente diferentes. É difícil mensurar quão mais “pesadas” essas consequências serão [em relação ao jogo base] porque a história e a ambientação são diferentes. Nossa ideia era colocar o jogador em um mundo de espionagem enquanto tenta se virar. Isso não é fácil. E cabe a você decidir em quem confiar ou não — de novo, as escolhas. Mas de forma geral, é um novo mundo para os gamers… e Johnny [Silverhand] está presente para te ajudar, talvez? É possível que existam personagens que queiram o seu bem, ou não. A história quem faz é você.

Wiktoria Stachowska: Eu diria que isso é essencial em histórias de espionagem. Você pode esperar por mistérios, ambiguidade e diferentes pontos de vista e coisas desse tipo.

TecMasters: Então até mesmo a dinâmica entre V e Reed pode mudar por causa das minhas escolhas, certo?

Kacper Niepokólczycki: Completamente!

TecMasters: Eu estava achando que seria uma dinâmica meio “policial bom e policial mau”, mas então, no fim das contas, tudo depende das minhas escolhas. 

Kacper Niepokólczycki: Sim.

TecMasters: Legal, é muito bom saber disso! E bem, Phantom Liberty é um dos maiores projetos da CD Projekt Red. Eu gostaria de saber quanto tempo levaria em média para terminar a expansão.

Kacper Niepokólczycki: Não gostaríamos de cravar um tempo para você pela razão mais simples: todos jogam de maneira diferente. Existe alguém que gosta de ser mais furtivo e isso pode levar mais tempo, por exemplo. Ou alguém que apenas quer entrar e matar todo mundo para agilizar a história. E também há muito mais conteúdo em Dogtown… enfim, são muitas coisas para se fazer, então não queremos te dar um número específico porque isso varia de pessoa para pessoa, de acordo com o estilo que cada um joga.

Cyberpunk 2077: Phantom Liberty

Imagem: CD Projekt Red/Reprodução

TecMasters: Certo. Bem, não sei se vocês podem me responder a próxima pergunta, mas lá vai. A respeito do Idris Elba, o que vocês podem me dizer da escolha dele para o papel de Solomon Reed? Foi inspirado por algum trabalho específico dele?

Kacper Niepokólczycki: Somos questionados sobre isso vez ou outra, mas não nos envolvemos nesse processo em específico. Da minha perspectiva, o que posso dizer, é que ele se encaixa perfeitamente para o papel.

TecMasters: Absolutamente! Ele é incrível!

Wiktoria Stachowska: Do que eu sei, houve uma busca intensa para encontrar a pessoa perfeita para o papel. E na minha opinião, é ele!

Mergulhando em Dogtown, a nova cidade de Cyberpunk 2077

Após ser questionada sobre o que mais poderia contar ao TecMasters sobre Dogtown, Wiktoria Stachowska revelou inúmeras informações sobre a cidade, desde sua origem até as inspirações e referências que o time de artistas reuniu para a criação do novo local.

Bem, Dogtown é uma parte de Night City, é um distrito. Ela já foi integrada ao Pacifica District, em particular. A característica mais importante desse lugar é que ele é fechado e não fica aberto durante todas as estações. As pessoas não podem simplesmente entrar e sair, a menos que estejam envolvidas com algo, ou tenham um negócio em conjunto, ou sejam exilados, ou talvez foram sentenciadas à morte, ou estão fugindo de alguma coisa, e coisas assim”. 

Como V, o jogador tem a oportunidade de chegar lá, após o fracasso no assalto ao Konpeki Plaza, onde o personagem tem a Relíquia em sua cabeça e fica entre a vida e a morte. “[Song] So Mi pede sua ajuda. Ela precisa escapar de seus próprios problemas e de sua própria jaula, então você forma uma aliança com ela. A partir disso, você tem acesso a este novo mundo”, explica Wiktoria. “Queríamos criar algo novo, algo melhor e com humor diferente do que tínhamos em Night City, e Dogtown é isso. Não é um lugar onde você iria para um piquenique com a família”.

Cyberpunk 2077: Phantom Liberty

Imagem: CD Projekt Red/Reprodução

“Em geral, Dogtown estava progredindo em algum momento, e alguns anos atrás, houve a Guerra de Unificação, onde o Coronel Kurt Hansen veio e ocupou o lugar”, conta a artista. “Este personagem é muito importante para nós. Você não teve a opção de conhecê-lo pessoalmente, mas terá uma chance quando jogar o jogo completo. Ele é o cara que comanda a cidade com punho de ferro e criou uma espécie de estado com leis próprias”. 

Segundo Wiktoria, “não há regras para a civilização” de Dogtown, exceto as que o próprio Kurt criou. Ela prossegue: “Ele está mantendo a cidade como uma área de negócios para si mesmo, onde ele fecha acordos ilegais e assim, ganha dinheiro para manter o Barghest, o exército que mantém a cidade e os distritos intactos”.

Do ponto de vista ambiental, a CD Projekt Red também queria oferecer algo que não existia em Night City. Wiktoria explica que, para isso, foi necessário criar um tipo de “circunstância em que o personagem chega a um lugar e não pode simplesmente sair, e daí, [como pode acontecer em situações reais]”, partindo daí para a compra ou o aluguel de um apartamento ou a ida até uma construtora para conseguir uma casa própria. “Aqui, você precisa recriar seu próprio espaço com coisas que se encontram aqui e ali, pegando alguns remanescentes da guerra da unificação e restos jogados em construções, etc. Nós nos inspiramos muito em arquiteturas como favelas” revela a artista polonesa.

[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas

“Você não entrou no centro do nosso distrito civilizado, mas teve um vislumbre disso quando estava morando em um esconderijo com Myers e o pelotão invadiu”, Wiktoria se refere aqui à demonstração que foi jogada um pouco antes da entrevista. 

“Existem apenas dois distritos [em Dogtown]. A primeira é a parte brilhante e cintilante com esculturas e cassinos e coisas assim, contraposta à parte rebaixada de Longshore Stacks. Queríamos entregar esse cenário com sensação de autossustentabilidade altamente funcional e densamente povoada que precisa de quem mora nas favelas. Sabe?”

Ela continua: “A classe trabalhadora de Dogtown com pessoas que saem de lá e precisavam se adaptar a esta nova situação após a Guerra da Unificação, quando não havia nada parecido. Então, eles estão reciclando criativamente coisas que encontram aqui e ali em canteiros de obras para construir suas casas. Há muitas construções de casas nesse estilo em meio a containers de obra, e tudo isso forma uma rede suspensa de recortes dançantes. Este é só um pedaço de Dogtown. A cidade é muito, muito densa”. 

[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas

Basicamente, isso significa que cada uma dessas áreas é diferente. “Então, você viu principalmente o cassino, com vigas e arquitetura peculiar com muitas cores e outras inspirações”, relembra a artista, novamente fazendo menção à demonstração jogada. “Também temos o estádio com um clima completamente diferente, temos os distritos superiores mais cobertos de vegetação, enfim… é realmente um lugar repleto de atividades em mundo aberto. Muitas coisas estão acontecendo lá”. 

As favelas não foram a única inspiração para Dogtown

TecMasters: E existe mais alguma coisa que vocês tiraram inspiração do Brasil, além das favelas?

Wiktoria Stachowska: Não queríamos focar em determinados países, propositalmente. Em vez disso, focamos em alguns comportamentos de pessoas de locais como Argentina, Brasil, Nicarágua e Manágua. Depois do terremoto que aconteceu nos anos 1970 em Manágua, nos inspiramos em como as pessoas se comportam por lá. Observamos o que é mais importante para eles. E por exemplo, a ditadura tomou o poder [político] e mudou a vida dessas pessoas. Elas precisaram se adaptar a essas circunstâncias e nós coletamos algumas informações em fotos. O que elas fizeram no início? Precisavam, por exemplo, de suprimentos. Então eles varreram os detritos das estradas e criaram algumas rotas principais para coletar o que era necessário. E nós apenas estávamos observando os comportamentos de pessoas dessa época, pois elas viviam em circunstâncias parecidas com a população de Dogtown. Os habitantes de Longshore Stacks fazem parte do grupo que, provavelmente, vive em uma situação similar em favelas, onde não existem opções. Não há como comprar materiais em lojas, então essas pessoas criam seu próprio espaço, à própria maneira. E dependendo de que lado da cidade você está e das pessoas que vivem nessas áreas, a situação é diferente, bem como as inspirações que tivemos e os recursos que reunimos.

[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas
[Entrevista] Artistas de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty revelam que Dogtown foi inspirada em favelas

TecMasters: E qual é o significado do nome Dogtown?

Kacper Niepokólczycki: Dogtown em si está enraizada no passado de Kurt, então não vamos contar muito sobre porque a cidade é chamada assim, você vai ter que terminar o jogo para entender.

TecMasters: Uh, mistério! (risos)A expansão Cyberpunk 2077: Phantom Liberty está prevista para 26 de setembro de 2023 e será lançada para PC (via  Steam e Epic Games Store), Xbox Series X|S e PlayStation 5.

Comentários

0

Please give us your valuable comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments