Já faz alguns anos que levantamentos da indústria apontam que o Brasil é, sim, um país gamer. E por muito tempo foi natural associar jogos com videogames (PlayStation, Xbox e afins). Mas a verdade é que o cenário de jogadores e jogadoras brasileiros hoje é bem diferente.

O motivo é bem fácil de se imaginar: o preço elevado dos consoles por aqui. Não à toa, um console next-gen nos dias atuais chega a custar entre R$ 3.500 e R$ 5.500 — de três a cinco vezes o salário mínimo que atualmente beira os R$ 1.302.

Para piorar a situação reajustes de preço (para cima) são vistos vez ou outra. Em 2021, a Sony simplesmente encareceu o PS5 em R$ 100 pelas bandas brasileiras. Já mais recentemente, a Microsoft decidiu aumentar o preço do Xbox Series S em quase mil reais.

Videogames PS5 e Xbox Series X

Imagem: Jack Skeens/Shutterstock

Felizmente, o cenário adverso para amantes de videogames de mesa não diminui a paixão pelos games. Mas a distância entre o desejo e aquisição de um console parece cada vez mais distante para os brasileiros.

Por que os videogames no Brasil são tão caros?

O primeiro ponto para analisar a situação é observar e entender os fatores que levam a isso. O entendimento que consoles no Brasil são caros parece óbvio. Mas é importante entender quais são os fatores que interferem nessa matemática.

E nesse assunto, não há como não falar de impostos. É preciso lembrar que todos os videogames são importados — o que significa que não são produzidos em território nacional. Consequentemente, os consoles já ficam mais caros do que os preços sugeridos na gringa ao chegarem no país.

Mas não para por aí: além do tributo de itens importados, há também o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos estados e, dependendo da cidade, o Imposto Sobre Serviços. Por fim, o lojista tem de subir o preço um pouco mais para obter o mínimo de lucro.

Ilustração de impostos

Imagem: StellrWeb/Unsplash

Outro ponto a ser considerado — e que de certa forma está relacionado com o fator acima — é a relação do real com o dólar. Lembra que todos os videogames são importados? Pois bem, isso significa que eles são precificados com base nos preços da moeda norte-americana.

E isso significa que quanto maior a diferença entre o real e o dólar, mais caro será o preço do console — antes mesmo de entrar na questão de impostos.

Cédulas de dolar

Imagem: Alexander Grey/Unsplash

Não menos importante, deve-se observar que os videogames estão cada vez mais caros no mundo todo. E a lógica é bem simples: hardware mais moderno, novas tecnologias e mais recursos culminam em preços mais altos.

Nos computadores a situação é diferente, uma vez que é possível fazer pequenos upgrades à medida que surgem novas necessidades. Mas isso não existe nos consoles. É basicamente comprar o hardware com preço fixo até esperar por alguma atualização ou próxima geração.

Preços elevados dos consoles abrem caminho para outras plataformas

Explicados alguns dos fatores que encarecem os videogames no Brasil, é hora de entender o que isso muda para o gamer médio brasileiro. E a principal consequência disso é justamente a aderência a outras plataformas além dos consoles.

Não à toa, a Pesquisa Games Brasil (PGB) 2023 aponta como a preferência pelos consoles caiu fervorosamente nos últimos anos: de 31,1% em 2015 para 20,5% em 2023. E apesar do lampejo oriundo da pandemia, é nítido como a plataforma perdeu prestígio entre a comunidade.

Pesquisa PGB mostra índice de preferência pelos videogames

Imagem: divulgação/PGB

Como consequência, os perfis dos gamers brasileiros também se modificam. É claro que indivíduos com alto poder aquisitivo vão continuar comprando consoles de última geração normalmente, mas quem tem uma situação diferente pode partir para videogames de gerações passadas — que têm preços significativamente mais baixos.

“Um ponto que pode favorecer essa experiência no console são as antigas gerações da plataforma. Atualmente tanto o Playstation 4 como as versões do Xbox One são as que possuem maior volume percentual quando perguntamos sobre qual console as pessoas jogam em casa. Possivelmente uma migração acontecerá quando essas plataformas deixarem de ter suporte ou lançamentos que gerem o engajamento do público” destacou, sócio da Go Gamers e coordenador da PGB.

Carlos Silva, sócio da Go Gamers e coordenador da PGB que participou da pauta sobre videogames

Imagem: reprodução/Go Gamers

Já partindo para um contexto geral, o que se vê é uma liderança (com folgas) dos dispositivos móveis como a principal plataforma gamer do Brasil. Afinal, além de serem utilizados para funções como redes sociais e comunicação em geral, esses aparelhos funcionam muito bem para jogatinas e são relativamente mais acessíveis.

“Hoje os smartphones se tornaram a plataforma preferida dos brasileiros. A proposta e modelo de negócios se tornou interessante e mais acessível, além do fator mobilidade”, completou o executivo.

Jogos pelo smartphone

Imagem: Onur Binay/Unsplash

Não, os consoles não vão acabar

Isso significa que os consoles estão com os dias contados? Longe disso. Quem prefere essa plataforma e tem poder aquisitivo para os novos hardwares possivelmente não vai “largar o osso”. Mas a tendência é de um público cada vez mais nichado.

“Console e PC possivelmente vão disputar a atenção de um perfil mais específico como o hardcore gamer que, por comportamento de consumo, está disposto a investir mais na experiência”, finalizou Silva.

Enquanto isso, os smartphones tendem a crescer cada vez mais “carregando” o público gamer e sendo a plataforma mais democrática para jogos digitais — no Brasil e no mundo.

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