O Brasil Game Show (BGS 2023) contou com diversas presenças internacionais ao longo de seus cinco dias de evento. Entre as figuras, esteve o célebre produtor e diretor de Final Fantasy XIV (FFXIV) e de Final Fantasy XVI (FFXVI), Naoki Yoshida, mais conhecido como “Yoshi-P”.

O produtor da Square Enix veio à feira acompanhado do diretor de localização de FFXVI, Michael-Christopher Koji Fox, e juntos, eles participaram de diferentes atividades, tais como meet & greet com o público e palestras. Além disso, a dupla também conversou com o TecMasters.

Por meio desta oportunidade, não poderia deixar de questionar a Yoshi-P como FFXVI se difere de seus antecessores, já que não apresenta um mundo aberto, ao mesmo tempo em que traz Valisthea como um mundo expansivo e rico em mitologia. Seria este um aspecto essencial de qualquer Final Fantasy?

A importância da narrativa para a Square Enix

“Cada jogo tem características distintas”, afirma Yoshida-san. Em sua fala, o produtor diz que alguns games da franquia se aproximam mais de um mundo aberto, mas não o são, como é o caso dos FFX, FFXIII e FFXVI.

Final Fantasy XVI

Imagem: Square Enix

“[Esses jogos] têm uma espécie de área determinada, só que bem grande, com características similares (mas não exatamente) a de um mundo aberto. Mas independente do sistema do jogo, seja open world ou não, é importante que a gente crie uma história para cada gamer continuar jogando por dezenas de horas”, complementa o produtor.

Na visão de Yoshida-san, a narrativa precisa ter profundidade e propriedades bem elaboradas. Por isso, os desenvolvedores com quem ele trabalha tomam muito cuidado com todo o conteúdo, incluindo personagens e cenários. Afinal, é importante que os jogadores continuem se aprofundando no mundo do game. 

“Todas as equipes, independente de terem trabalhado em um Final Fantasy no passado, numerado ou não, sempre se focam na narrativa”, responde Yoshida-san.

Por falar em narrativa, Final Fantasy XVI foi um sucesso comercial e recebeu muitos elogios, mesmo com uma história que aborda “tópicos mais sombrios” e/ou voltados para adultos. Por isso, questionamos Yoshida-san como foi criar uma história que poderia surpreender os jogadores de uma forma que nenhum outro jogo da franquia fez, com temas difíceis e cruéis apresentados no enredo.

Cena do trailer "Ascension" de Final Fantasy XVI, da Square Enix

Imagem: Square Enix/Reprodução

“Eu não diria cruel, mas mais maduro, sabe?”, rebate Yoshi-P. “Mais voltado para adultos. Isso [aproxima mais o jogo] da realidade do mundo contemporâneo”. Segundo o produtor, o objetivo era realmente fazer os jogadores sentirem emoções verdadeiras com o game.

Para tanto, Yoshida-san argumenta que a série Final Fantasy começou há 35 anos, quando não havia internet; então muito do conteúdo vinha da própria cabeça dos criadores. Hoje em dia, porém, qualquer pessoa tem um celular em mãos com acesso à internet, incluindo crianças. “Não adianta [os pais] ficarem proibindo ou escondendo a realidade das crianças”, relata o produtor. “No FFXVI, não queríamos mostrar apenas belas cenas, mas também trazer momentos negativos, brutos e violentos, porque isso faz parte da realidade. A beleza e a crueldade causam mais emoção nos jogadores”. 

O produtor de FFXIV e FFXVI também brinca: “Para passar esse conhecimento, eu realmente preciso prestar esse tipo de entrevista, sabe? Porque é meio difícil passar essa mensagem só através do jogo”.

A localização de FFXVI

Falando especificamente com Koji-san, o diretor de localização de FFXVI se aprofundou nas diferenças regionais e em fatores específicos. Como exemplo, citei que na versão em inglês, parece que Clive e Jill dialogam mais durante as batalhas, enquanto na versão japonesa, eles simplesmente chamam seus nomes e prosseguem com o combate. 

Koji-san primeiramente ressalta a diferença entre localização e tradução: “chamamos de localização porque queremos criar uma experiência localizada para uma determinada região”.

“As culturas são diferentes em todos os lugares e algumas coisas se traduzem muito bem, mas outras são culturalmente muito diferentes. E se você tentar traduzi-las [de forma literal], não é exatamente incorreto, mas fica uma sensação de estranheza”, explica o diretor de localização.

“Acredito que o que é mais importante em um roteiro são menos as palavras reais e mais o significado por trás das palavras. Que tipo de emoção o escritor deseja evocar? Ele quer que as pessoas riam? Eles querem que as pessoas chorem? Querem que as pessoas fiquem surpresas? Todas essas palavras desencadeiam um tipo diferente de emoção”, Koji-san complementa.

Para exemplificar, o diretor de localização diz que algumas palavras em certos idiomas podem desencadear certas emoções, mas caso elas sejam traduzidas literalmente para outra língua, a emoção provocada não será a mesma. No fim, tudo se resume às diferenças culturais.

Final Fantasy XVI

Imagem: Square Enix

“Em japonês, tudo bem [se Jill e Clive chamarem um pelo outro]. Isso funciona como uma conversa. Isso acontece porque você pode colocar uma frase inteira em uma única palavra em japonês e fazer com que isso implique coisas”. Em inglês, porém, isso não funciona da mesma forma.

Ainda assim, Koji-san garante que foi dada bastante liberdade às outras equipes para decidir qual seria a maneira mais natural de localizar os textos em alguns idiomas. Todo o processo, segundo ele, não é exatamente feito separadamente, mas sim internamente, então os times têm contato uns com os outros, permitindo trocas de informações.

“Não estamos traduzindo e localizando às cegas. Temos as informações para termos certeza de que podemos obter a verdadeira intenção dos personagens e transmitir isso de uma forma interessante e natural em inglês. Assim, as outras línguas também podem fazer isso”, completa o diretor de localização.

O futuro com FFXIV (e a Square Enix)

Yoshi-P sempre comenta em transmissões que Final Fantasy XIV é o trabalho de sua vida. E com o anúncio da expansão Dawntrail e a chegada do MMORPG para a família Xbox, fica claro que FFXIV continuará em produção por muito tempo. Mas como figura chave no desenvolvimento do jogo, será que o produtor pretende continuar supervisionando futuras expansões, ou será que este capítulo online da saga pode estar se aproximando de sua conclusão?

Quando questionado sobre seu futuro com este capítulo, ou com projetos futuros de Final Fantasy (ou até mesmo com diferentes franquias da Square Enix), o produtor reafirma que pretende continuar trabalhando com o MMORPG da saga até o fim.

“Até o fim da minha vida ou então até o fim da minha carreira… Talvez um chegue mais cedo do que o outro, né?”, ele brinca. “Mas isso já está decidido: enquanto eu continuar trabalhando na Square Enix, permanecerei trabalhando com FFXIV”. 

A respeito de outros projetos, Yoshida-san diz que nesse momento, acha difícil pensar em trabalhar em outro título numerado da franquia. “Acho que nunca aconteceu, nem mesmo dentro da empresa, de alguém trabalhar em três jogos diferentes [da série]”, ele diz.

“Quando lançamos um novo jogo, é melhor que entre uma geração mais nova para trazer novas ideias, certo? Isso é muito importante para o desenvolvimento de um jogo”, afirma Yoshi-P. 

Entrevista do TecMasters com Yoshi-P e Koji Fox sobre FFXVI e FFXIV

Naoki Yoshida à esquerda e Koji Fox às direita (Imagem: Jessica Pinheiro/TecMasters)

“Quando alguém pergunta: ‘ah, então você quer voltar a trabalhar em um outro tipo de jogo ou em algum já existente?’, na realidade eu não estou a fim porque eu já trabalhei com Dragon Quest”, relembra Yoshida-san.

Ainda assim, o produtor não descarta a possibilidade de trabalhar em outra propriedade intelectual, caso a Square Enix decida lançar uma. “Se surgir um projeto assim, eu gostaria de fazer uma parte. Eu já estou com 50 anos, no finalzinho da carreira”, brinca Yoshi-P mais uma vez.

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