A Agência National de Telecomunicações (Anatel) expressou preocupação quanto à construção de uma usina de dessalinização na praia do Futuro, no Ceará. No ofício enviado a órgãos do governo federal, a agência reguladora observa que as atividades pretendidas pelo empreendimento “podem provocar perturbações do leito marinho com reflexo na área atualmente ocupada pelos cabos de telecomunicações”, advertindo sobre um grave risco e a possibilidade dos brasileiros ficarem sem conexão com a internet.

Cabos submarinos

Imagem: Shutterstock

A crítica da agência faz referência a um projeto de uma parceria público-privada do consórcio SPE Águas de Fortaleza e liderada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), do governo local, que pretende construir uma usina de dessalinização para abastecimento na América Latina, com capacidade de retirar sais marinhos por osmose reversa, dessalinizando mil litros de água por segundo.

Por outro lado, a usina representa riscos à infraestrutura crítica de telecomunicações, visto que será construída a apenas 500 metros de distância, o que pode acarretar em uma apagão da internet. “Embora as infraestruturas estejam, em mar, distantes em 500 metros do projeto, as atividades pretendidas pela Usina envolvem dutos com jatos de alta pressão de rejeitos em alta concentração de sal decorrentes do processo de dessalinização, que podem provocar perturbações do leito marinho com reflexo na área atualmente ocupada pelos cabos de telecomunicações”, disse a Anatel em ofício enviado à Secretaria do Patrimônio da União, ao Ministério das Comunicações e ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República na sexta-feira (15).

De acordo com dados já divulgados pela agência, os cabos referidos no ofício e que chegam a Fortaleza são responsáveis por 99% do tráfego de dados, ou seja, caso haja algum rompimento, o país inteiro ficará offline ou com a conexão bastante lenta.

O projeto prevê R$ 3,2 bilhões nos próximos 30 anos sob o edital vencido pela SPE Águas de Fortaleza em parceria com o governo do Ceará.

usina de dessalinização

Imagem: Sinclair Maia/Anatel – 2007, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/>

No sábado (16), a SPE Águas de Fortaleza divulgou uma nota oficial respondendo às críticas da agência reguladora quanto ao projeto, que pode ser lida integralmente abaixo.

O projeto da usina de dessalinização não traz qualquer ameaça aos cabos e nem aos data Centers que existem na Praia do Futuro. Isso está claramente demonstrado, razão pela qual mais de 20 pareceres de órgãos técnicos ambientais aprovaram  a Licença Prévia para a execução do projeto.

O governo e o povo cearense, que convivem com o problema da falta de água, não devem aceitar um parecer sem base técnica, manifestamente parcial, que atende apenas a interesses privados. A Anatel não tem poder de veto no projeto e está apenas sendo porta-voz de empresas interessadas em privatizar a Praia do Futuro.

Enquanto agência reguladora tem apresentado comportamento eivado, de rigor desnecessário no Estado do Ceará, sua conduta destoa de outros Estados, quando fez vistas grossas para os cabos existentes no Rio de Janeiro e do litoral paulista. Será que a Anatel não conhece o que revelam as cartas náuticas desses lugares?

Estamos diante de uma ação coordenada por um grupo econômico, com auxílio do órgão regulador utilizado a reboque, para tentar retirar do povo cearense, em nome de interesses privados, o direito básico do acesso à água. A SPE Águas de Fortaleza mantém a posição de seguir o cronograma da obra.nat

 

Com informações Convergência Digital

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