Quem não se lembra do bafafá que o U2 causou em 2014, quando liberou o álbum Songs of Innocence de graça para todos os usuários do iTunes, da Apple? Agora, quase uma década depois do ocorrido, o vocalista da banda Bono Vox conta mais detalhes sobre o caso, em entrevista ao The Guardian.

A polêmica do Songs of Innocence, do U2, de graça no iTunes

Apesar de parecer uma boa conseguir músicas da banda irlandesa gratuitamente, a polêmica aconteceu justamente porque o álbum foi inserido na página de compras de toda a base de usuários da Apple.

Ou seja, a situação foi um “não importa se você gosta da banda ou não, toma aí o seu álbum grátis”. E, assim, nem todo mundo ficou feliz à época, já que muitos viram o recebimento das canções como um tipo de “invasão”.

Só para se ter uma ideia do tamanho da indignação de muitos consumidores: a Apple teve de lançar uma ferramenta para permitir que pessoas pudessem remover o disco, caso quisessem revogar o acesso.

Capa do disco Songs of Innocence, da banda U2, liberado gratuitamente via iTunes em 2014

Capa do disco Songs of Innocence – Imagem: U2

À época, Vox veio a público se desculpar pela gafe. Neste final de semana, ele conta ao The Guardian o que aconteceu na época do lançamento. A entrevista à publicação inglesa é, na verdade, sobre o lançamento do novo livro de Vox, intitulado Surrender: 40 Songs, One Story (ou Redenção: 40 músicas, uma história, na tradução livre).

Em um trecho da publicação, o vocal do U2 conta como foi o papo que culminou na negociação sobre a distribuição das músicas. A banda teria encontrado com executivos da Apple e, papo vai, papo vem, Vox fez a sugestão ousada de entregar o álbum gratuitamente para os usuários do iTunes.

Tim Cook, CEO da Apple, que também teria participado da reunião, ficou relutante e teria sugerido em contrapartida que as músicas fossem disponibilizadas de forma que apenas os usuários que gostavam da banda recebessem o álbum.

O vocalista insistiu na ideia inicial dele de abraçar toda a base — fãs e não fãs — e assim foi feito. À época, a base de usuários do iTunes somada cerca de 500 milhões de usuários — e o resto, como você sabe, é história e ele admite: “Assumo total responsabilidade [pelo caso]”.

Veja o trecho em que Bono Vox narra o papo:

“Música de graça?”, questionou Tim Cook, o CEO da Apple, com um olhar de certa incredulidade. “Você está falando sobre música gratuita?”

Dez anos se passaram desde os anúncios de Vertigo [quando a banda vez uma ponta na publicidade do iPod]; estávamos no escritório em Cupertino, Califórnia – Guy Oseary, nosso novo empresário, eu, [os executivos da Apple] Eddy Cue e Phil Schiller – e acabamos de tocar para a equipe algumas das nossas músicas do novo álbum Songs of Innocence.

“Você quer dar essa música de graça? Mas o objetivo principal do que estamos tentando fazer na Apple é justamente não dar música de graça. O objetivo é garantir que os músicos sejam pagos.”

“Não”, eu disse, “Eu não acho que daremos de graça. Acredito que você irá nos pagar por isso e, depois, irá liberar gratuitamente como um presente para as pessoas. Não seria maravilhoso?”

Tim Cook elevou uma das sobrancelhas. “Você quer dizer que pagamos pelo álbum e depois distribuímos?”

Eu disse: “Sim, como quando a Netflix compra o filme e o distribui para seus assinantes”.

Tim olhou para mim como se eu estivesse explicando o alfabeto para um professor. “Mas não somos uma organização de assinaturas.”

“Não são, ainda”, eu disse. “Que o nosso [álbum] seja o primeiro”.

Tim não estava convencido. “Há algo que não está certo em entregar sua arte de graça”, disse ele. “E isso será somente para quem gosta de U2?”

“Bem”, respondi. “Acho que devemos liberar para todos. Quero dizer, é uma escolha deles se quiserem ouvir.”

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