Em greve desde julho deste ano, os membros do SAG-AFTRA – o sindicato por trás de atores e roteiristas de Hollywoodanunciaram votação para autorizar a extensão da paralisação também para profissionais dos videogames. A organização nomeou marcas como Activision, EA, Epic Games e Disney, entre outras, como empresas que “falharam” em atingir termos trabalhistas adequados em discussões recentes.

Segundo Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA, a medida novamente vem em contraponto à adoção da inteligência artificial (IA) como substituição para o trabalho de profissionais humanos, embora o comunicado do sindicato não tenha mencionado instâncias específicas sobre o assunto nos videogames. Pelo X (ex-Twitter), a organização está chamando seus membros para uma reunião “informal” para tratar os termos de autorização da paralisação.

É importante ressaltar: “votação pela autorização da paralisação” não implica necessariamente na realização de uma greve. A medida, se aprovada, prevê duas coisas: que os profissionais dos games que sejam membros do SAG-AFTRA poderão paralisar se quiserem, e que, caso eles façam isso, contarão com o apoio da organização.

“Além de proteções trabalhistas contra a IA, o SAG-AFTRA busca pelos mesmos aumentos salariais para profissionais dos videogames em relação a aqueles sob contratos de televisão e cinema: 11%, retroativos ao estabelecimento da greve e aumentos de 4% no segundo e terceiro anos do acordo – uma necessidade para que as remunerações dos membros permaneçam alinhadas à inflação nacional.” – Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA

Outra exigência da organização é a proporção de descanso por hora trabalhada – especificamente, cinco minutos de descanso por cada hora – tal qual pedido para atores e roteiristas de filmes e séries. Essa demanda, especificamente, atende atores e dubladores que atuam em jogos, seja no aspecto dramático ou em partes mais técnicas, como a captura de movimento.

O SAG-AFTRA odeia a IA? Não é bem assim

A adoção da inteligência artificial vinha sendo encarada como um benefício que facilitaria o processo de desenvolvimento de obras audiovisuais como filmes, séries e games. Entretanto, foi com a entrada da chamada “IA generativa” – categoria onde entram ferramentas como ChatGPT, Midjourney e diversas outras – que a coisa começou a “degringolar”.

Uma das capacidades da IA generativa é simular rostos, vozes e outros tratos humanos específicos, mas com inserções feitas por máquina. Em termos práticos: usar o rosto, feições e voz de um ator, sem que aquele ator seja contratado e, consequentemente, ele não seria pago.

Foto mostra os atores Steve Buscemi, Brendan Fraser e Christian Slater durante piquete grevista organizado pelo SAG-AFTRA

Os atores Steve Buscemi (esq.), Brendas Fraser (centro) e Christian Slater (dir.) durante piquete organizado pelo SAG-AFTRA: greve dos atores e roteiristas de Hollywood começou em julho e pode se estender aos videogames (Imagem: lev radin/Shutterstock)

Além disso, as mesmas ferramentas também poderiam ser utilizadas na criação de roteiros e enredos de produções, efetivamente eliminando as posições humanas deste tipo de trabalho. Assim como nos filmes e séries, os games também usam roteiristas e atores, então era questão de tempo que a greve de um chegasse no outro.

A votação pela autorização ainda não tem data para ocorrer, mas nas redes sociais, os posicionamentos estão majoritariamente favoráveis. Resta saber, no entanto, se depois de aprovada a ideia, os profissionais do setor de jogos vão de fato escolher parar ou se vão ignorar a medida.

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