O processo de mineração de criptomoedas nos Estados Unidos em 2022 consumiu mais energia do que todos os PCs no país juntos – incluindo Macs e Windows. Ao todo, foram 50 bilhões de kWh consumidos no ano passado, de acordo com um levantamento oficial, realizado pelo próprio governo dos EUA.

Os números relativos ao processo de mineração de criptomoedas nos EUA, ilustrados no gráfico abaixo, foram estimados com base no consumo global de energia em mineração, bem como a participação dos Estados Unidos na mineração de bitcoin e ethereum até o período do processo conhecido como “The Merge”, quando a plataforma da ethereum sofreu uma grande atualização.

Gráfico mostra o gasto de energia nos EUA no ano passado em mineração de criptomoedas na comparação com outros ativos, como televisão e PC

Imagem: reprodução/The White House of USA

O levantamento feito pelo governo teve como objetivo mensurar o consumo de energia médio feito pelo processo de mineração e impor cobranças de impostos de empresas que realizam a mineração. “Atualmente, as empresas de criptomineração não precisam pagar o custo total que impõem aos outros, na forma de poluição ambiental local, preços mais altos de energia e impactos no aumento das emissões de gases de efeito estufa no clima”, afirma o documento, que mostra um resumo do relatório de análise oficial.

O estudo faz parte da proposta de inserir no país uma cobrança por meio da chamada taxa DAME, acrônimo para Digital Asset Mining Energy, ou taxa de Energia para Mineração de Ativo Digital.

“Enquanto as criptos são ativos virtuais, o consumo de energia atrelado à sua produção com alto poder computacional é bastante real e implica em custos reais”, afirma o documento. “O imposto DAME incentiva empresas a começarem a considerar os danos que impõem à sociedade.”

O crescimento do bitcoin e o bloqueio da China

A mineração de bitcoin e de outras moedas digitais se popularizou ao longo do tempo, à medida que os próprio criptoativos passaram de dinheiro virtual usado em atividades ilícitas para moeda de troca aceita em todo tipo de serviço e produto. Na China, em especial, a produção de criptos se tornou bastante popular, transformando a nação em principal detentora de locais que mineravam criptoativos no mundo, com grandes galpões e data centers sendo usados para operacionalizar os processos.

A província de Sichuan, na fronteira com o Tibete, no sudoeste da China, passou de um local remoto e cheio de montanhas para um dos mais economicamente ativos, graças às minerações de bitcoin que aconteciam por lá. Em 2017, por exemplo, o fotógrafo Liu Xingzhe se aventurou pelas entranhas da região para mostrar o que estava por trás da aparente movimentação pacata local, representada majoritariamente por campos de alimentos e pasto.

E hidrelétricas.

As usinas instaladas ao longo dos riachos das montanhas geralmente produzem mais energia do que são capazes de vender para a rede estatal da China, e alguns proprietários de usinas descobriram que podem vender o excedente para minas de bitcoin – para as quais a eletricidade representa até 60 a 70% das despesas -, ou montar suas próprias minas. Isso dá às remotas aldeias nas montanhas uma vantagem sobre as regiões onde a eletricidade é mais cara”, afirma a reportagem do ChinaFile, que mostra os bastidores das fotos tiradas por Xingzhe.

criptomoedas

Imagem: Executium on Unsplash

Foi nessa mesma época que a preocupação do governo do país asiático com a mineração se tornou uma crescente, tanto quanto a intenção de regulamentar o cenário de criptoativos. Para se ter ideia da dimensão, até 2020 a China foi responsável por mais da metade de toda a produção de bitcoin do mundo, segundo dados da Statista.

O resto da história você já pode imaginar: não conseguindo controlar os processos da forma que desejada, a China cortou pela raiz e obrigou mineradoras da região a encerrarem suas atividades, que passaram a ser consideradas oficialmente ilegais.

Sem ter para onde ir, o próximo local em potencial foram os Estados Unidos. A partir de 2021, o país assumiu o posto de maior local com mineração de criptoativos do mundo e, assim, à medida que crescia o interesse e a prática por lá, também crescia a preocupação com o consequente aumento no consumo de energia. Mas vale lembrar: a China, mesmo com a proibição, continua forte entre as mineradoras globais.

O real preço das criptomoedas

O levantamento realizado pelo governo estadunidense é corroborado por uma recente matéria publicada no The New York Times (NYT) sobre os valores reais que a mineração de criptomoedas podem representar em termos de impactos para a população local, visto que o processo, como apontado pelo jornal, “pode exigir tanta eletricidade quanto [o consumido por] uma cidade pequena”.

Mineração criptomoedas

Foto mostra a operação da Compute North, um dos maiores data centers dos EUA e cujos serviços incluíam mineração de criptoativos – Imagem: reprodução/Compute North

No levantamento do NYT, que contou com a análise de dados de fontes públicas e privadas, o jornal identificou 34 mineradoras de criptos no país. No Texas, estado que ficou conhecido por ser um dos locais mais promissores para mineradores e onde 10 dessas 34 empresas se encontram, o valor da energia aumentou quase 5% para os moradores da região.

Em última instância, essa conta representa a soma de US$ 1,8 bilhão anualmente, segundo uma estimativa feita pela consultoria Wood Mackenzie a pedido do NYT.

As implicações vão além dos custos financeiros: o consumo de energia pela produção de moedas digitais também representa impactos significativos ao meio ambiente. A emissão de carbono como consequência da mineração equivale a colocar 3,5 milhões de carros movidos a gasolina para rodar em estradas dos EUA, de acordo com a análise da WattTime, uma empresa de tecnologia sem fins lucrativos, citada pela matéria no NYT.

Ainda de acordo com o mesmo levantamento da WattTime, mesmo que as operações de mineração por vezes se autodeclarem “politicamente corretas” e “amigas do verde”, seu consumo de poder computacional é tão elevado que mesmo usando fontes renováveis para a produção, essas fontes não dão conta de atender a demanda. Assim, as mineradoras são obrigadas a recorrer a fontes fósseis, fornecidas por usinas de carvão e gás natural, que já chegaram a atender 85% da demanda de operações de bitcoin.

Infelizmente, a solução para essa equação ainda está longe de ser encontrada. Há algumas iniciativas como a Crypto Climate Accord voltadas para transformar a energia consumida por mineradoras em fontes 100% renováveis até 2030, mas isso ainda é um esforço em prol de um futuro mais sustentável e que ainda tem muito a ser feito.

Via PC Gamer, The White House, The New York Times, ChinaFile, Crypto Climate Accord, Statista, University of Cambridge Judge Business School

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