No início de 2020, o Twitter, LinkedIn e YouTube exigiram que a Clearview AI deixasse de usar dados raspados de suas redes sociais para alimentar o controverso banco de dados de reconhecimento facial. Neste sábado (12), o mecanismo de busca facial da empresa americana voltou aos noticiários. Agora, sob um instrumento do Ministério de Defesa da Ucrânia e oferecido pela própria desenvolvedora da tecnologia para “descobrir atacantes russos, combater desinformação e identificar mortos”, disse um executivo da Clearview à Reuters.

Ucrânia deve usar reconhecimento facial da Clearview AI durante conflito

Imagem: Tecmasters

O acesso livre ao mecanismo de busca facial permite autoridades ucranianas vetarem pessoas de interesse em postos de controle e entre outros usos, acrescentou Lee Wolosky, um conselheiro da Clearview e ex-diplomata da era Obama e Biden.

Logo após a Rússia invadir a Ucrânia, o chefe executivo da Clearview Hoan Ton-Que enviou uma carta a Kyiv oferecendo assistência, segundo uma cópia vista pela agência de notícias. A empresa norte-americana afirmou não ter oferecido a tecnologia à Rússia, chamando as ações no país vizinho de “operações especiais”.

Antes de começar a usar a ferramenta, o Ministério de Transformação Digital da Ucrânia estava considerando ofertas de empresas de inteligência artificial baseadas nos Estados Unidos, como a própria Clearview. Muitas empresas se comprometeram a ajudar o país, oferecendo hardware de internet, ferramentas de segurança cibernética e outros tipos de apoio.

Além do Facebook, Twitter, YouTube e LinkedIn, a empresa de reconhecimento facial também raspou dados da mídia social VKontakte, coletando inicialmente, de acordo com o fundador da Clearview, mais de 2 bilhões de imagens de um total de 10 bilhões de fotos.

O propósito exato para o qual o Ministério da Defesa da Ucrânia está usando a tecnologia não é claro, disse Ton-That. Espera-se que outras partes do governo ucraniano implantem Clearview nos próximos dias, disse ele e Wolosky.

Ucrânia deve usar reconhecimento facial da Clearview AI durante conflito

Imagem: Mathias P.R. Reding/Pexels

Com as imagens da rede social russa, o conjunto de dados da Clearview se torna ainda mais abrangente ao compará-la com o PimEyes, mecanismo de busca de imagens disponível ao público para identificar pessoas em fotos de guerra, pontua Wolosky.

A VKontakte não retornou ao pedido de comentários da Reuters após a informação se tornar pública.

Ucrânia deve usar reconhecimento facial da Clearview AI durante conflito

Imagem: Stroganova/Pixabay

Identificação e perigos envolvidos

Apesar de Ton-That destacar pontos que podem auxiliar o governo ucraniano no conflito, a ideia de usar reconhecimento facial levanta preocupações. De acordo com um crítico, ela poderia identificar mal as pessoas nos postos de controle e em batalha.

Um descasamento poderia levar à morte de civis, assim como as detenções injustas surgiram do uso policial, disse Albert Fox Cahn, diretor-executivo do Projeto de Supervisão de Tecnologia de Vigilância em Nova York.

Cahn considera a identificação de falecidos como provavelmente a maneira menos perigosa de implantar a tecnologia na guerra. Entretanto, ele acrescenta que “uma vez que você introduz estes sistemas e as bases de dados associadas a uma zona de guerra, você não tem controle sobre como ela será usada e mal usada”.

Clearview luta contra processos judiciais nos EUA; Reino Unido e Austrália consideram prática de coleta de dados ilegal

Ao alimentar o banco de dados com imagens retiradas da web, a Clearview enfrenta vários processos judiciais sob acusação de violação de privacidade nos Estados Unidos — ironicamente as autoridades americanas estão entre as principais clientes da empresa.

Apesar de comparar o serviço de coleta de dados à forma como a busca no Google funciona, países como Reino Unido,  Austrália e vários outros consideram as práticas da Clearview ilegais.

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