No dia 30 de novembro, o Twitter anunciou que iria expandir sua política de privacidade para incluir o que a empresa chama de “mídia privada”. As regras atuais evitam que usuários do serviço compartilhem informações privadas de outras pessoas, tais como números de telefone, endereços e outros detalhes pessoais que possam identificar alguém contra sua vontade.

Com a nova política, quem compartilhar esses dados pode ter suas conta bloqueada ou restrita de diversas formas. Afinal, o documento atualizado proíbe “o mal uso de mídia que não está disponível em outro lugar como uma ferramenta para assediar, intimidar ou revelar a identidade de indivíduos”.

Entendendo a mudança

O Twitter disse estar preocupado pois imagens pessoais podem violar a privacidade e levar a danos emocionais ou físicos, tendo ainda “um efeito desproporcional em mulheres, ativistas, dissidentes e membros de comunidades minoritárias”.

Uma postagem no blog oficial da rede social descrevendo a nova política afirma que o banimento será aplicado a qualquer imagem, foto ou vídeo que possua ou não conteúdo abusivo. O critério importante, afirma a empresa, é que o conteúdo tenha sido publicado “sem consentimento do retratado”.

A única exceção a esta regra é se a pessoa em questão é uma “figura pública” ou se a imagem é compartilhada “no interesse do público ou adiciona valor ao discurso público”. Como a empresa determinará se o conteúdo é de interesse público é indeterminado. A definição do termo “figura pública” não é clara, o que pode reacender o debate sobre como o Twitter define e amplifica notícias – uma discussão iniciada quando o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, tentava justificar seus tweets abusivos.

Facebook e Twitter

Foto: Pixabay

Mesmo essa exceção não é absoluta. Mesmo se o Twitter determinar que uma pessoa é uma figura pública, ainda poderá remover imagens e vídeos se acreditar que o conteúdo foi compartilhado para “assediar, intimidar ou amedrontar para silenciar”.

A empresa diz que irá “tentar avaliar o contexto em que o conteúdo foi compartilhado”, incluindo se a imagem está publicamente disponível e se está sendo publicada também pela mídia tradicional, entre outros aspectos. A regra enfatiza que a mídia compartilhada sobre indivíduos privados é aceitável desde que “contenha histórias em primeira mão ou relatos de eventos em desenvolvimento.

“Relatos de eventos” parece ser uma exceção criada para o jornalismo, mas como exatamente a rede irá equilibrar o que é padrão para mídia e o que é proteção de privacidade pessoal é incerto. Alguns fotojornalistas dizem que estão preocupados com a nova política e a falta de clareza nos termos, que poderá deixar seu trabalho muito mais difícil, afirmou a Columbia Journalism Review (CJR).

Visões sobre as novas regras do Twitter

Mickey Osterreicher, advogado geral da Associação Nacional dos Fotojornalistas dos EUA, disse que a mudança da política mostra uma falta de entendimento de que “uma pessoa fotografada em um local público não pode ter expectativa razoável de privacidade”. Caso a empresa escolha ser rigorosa com as novas regras, estará enfraquecendo a habilidade de publicar sobre eventos importantes para a mídia ao criar direitos de privacidade inexistentes, analisa Osterreicher.

No dia 1 de dezembro, o expert em cibersegurança e ativista anti-fascismo Chad Loder escreveu que a nova política já tinha sido usada para bloquear uma conta pertencente a um fotojornalista pois ele havia postado vídeo de dois extremistas de direita planejando atacar outro jornalista.

Loder escreveu ainda que vários vídeos postados por uma conta anti-extremista foram removidos do Twitter com a nova política, por causa da reclamação de alguém envolvido com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro. De acordo com Loder, ele e outros foram bloqueados de postar imagens anteriormente com alegações falsas relacionadas à lei do direito autoral americana (DMCA), e a expectativa é que grupos de extrema direita usem esse mesmo tipo de argumento com as diretrizes atualizadas. “Regras vagas e vigilância subjetiva sempre favorece os poderosos”, disse Loder à CJR.

Uma infinidade de outros profissionais da imprensa colocaram em xeque as boas intenções do Twitter com sua nova política de privacidade, questionando sobre quanto do julgamento do que vale ou não vale como conteúdo jornalístico recaindo nas mãos da empresa.

Um histórico de problemas e ambiguidade

Ainda em 2019, o colunista do New York Times, Farhad Manjoo, disse que o Twitter é tóxico para jornalistas. Em um debate, a repórter Ashley Feinberg disse que o Twitter poderia ser problemático, “mas também permitiu algumas coisas que não existiriam sem ele”. Caso nós gostemos ou não, ela disse, o “Twitter é parte do nosso trabalho hoje. Acho que a melhor coisa que qualquer um de nós pode fazer é perceber que alguém sempre ficará com raiva, algumas pessoas sempre vão agir de má-fé, e não há o que possamos fazer, a não ser continuar sendo o mais honesto possível”.

Em 2017, depois de Trump ameaçar a Coreia do Norte em um tweet e o Twitter ter mudado sua política de remover tweets para adicionar uma exceção “de padrão para a mídia”, Nausicaa Renner, ex-editora da CJR, escreveu sobre como a decisão da empresa transformou-a em uma entidade de mídia. “Ao decidir o que é ou não é mídia, o Twitter está efetivamente fazendo decisões editoriais, trazendo sua plataforma mais próxima do papel de uma empresa jornalística”, afirmou Renner. Posteriormente, o Twitter afirmou que tentou esclarecer sua posição como sendo uma “exceção para o interesse público”.

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