Utilizado para perseguir milhares de ativistas, políticos e jornalistas de diversos países, o malware espião Pegasus fez uma nova vítima. A “bola da vez” agora foi Thiago Tavares, presidente da organização de direitos humanos SaferNet Brasil, que decidiu deixar o Brasil após ser infectado pelo spyware.

É verdade que o exílio na Alemanha não foi resultado apenas do Pegasus — o executivo já vinha recebendo ameaças antes disso. No entanto, a descoberta da nova infecção pelo malware foi a gota d’água para que Tavares decidisse sair do país tupiniquim diante do iminente risco à sua segurança.

Malware espião? Pegasus? Quê?

Antes de tudo é preciso entender um pouco mais sobre o que é esse tal de Pegasus. O software é um programa espião criado pelo grupo israelense NSO Group cuja função baseia-se em invadir celulares, notebooks e outros dispositivos para espionar as vítimas, sem que elas ao menos cliquem em algo

O programa é considerado uma das armas de espionagem digital mais modernas da atualidade e, em teoria, é vendido apenas para agências governamentais aprovadas por Israel para perseguir “terroristas e grandes criminosos”, segundo o NSO Group. Mas, bem, não é o que tem acontecido.

Ilustração de spyware Pegasus

Software consegue acessar fotos, mensagens, localização e até dados bancários de dispositivos infectados – Imagem: Tobias Tullius/Unsplash

Isso porque diversos ativistas, políticos, jornalistas, empresários e advogados do mundo todo parecem estar na lista do Pegasus, segundo denúncias recentes. A preocupação cresce à medida que muitos desses alvos chegaram a ser assassinados ou sequestrados independentemente de suas localizações.

Logo, toda essa incerteza sobre “quais governos estão por trás disso” e o “motivo da inclusão dessas figuras na lista” deixam tudo isso ainda mais caótico e talvez explique a decisão de Thiago Tavares.

Exílio voluntário

Dito isso, Tavares enviou uma carta na última segunda-feira (6) para informar seu exílio na Alemanha. O executivo já vinha recebendo ameaças de morte desde outubro deste ano, quando participou de um seminário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em que abordava as campanhas de ódio e desinformação na internet.

Contudo, as coisas pioraram no dia 22 de novembro, quando um de seus funcionários sofreu um sequestro relâmpago em Salvador, na Bahia, e teve seu laptop e celular roubados durante o evento. Vale frisar que o presidente da SaferNet Brasil estava a apenas 800 metros do local durante a abordagem.

O problema é que a SaferNet Brasil, assídua combatente da pedofilia online, encontrou evidências, no dia 2 de dezembro, de que o MacBook de Tavares havia sido infectado pelo spyware Pegasus. A julgar que o software tem perseguido outros ativistas ao redor do mundo, Tavares optou por deixar o Brasil.

“O auto-exílio ou exílio voluntário é medida extrema — e jamais aplicada desde a fundação da instituição em 2005 — quando a segurança pessoal de funcionário, colaborador ou diretor da SaferNet Brasil encontra-se em grave e iminente risco. É justamente o que ocorre”, disse o executivo, complementado que a proximidade dos fatos (no caso, a infecção pelo Pegasus) somada às ameaças não deixaram outra alternativa.

Outras vítimas do spyware

Mas Tavares está longe de ser a única vítima. Em busca de conter essas invasões possibilitadas pelo Pegasus, foi criado um consórcio composto por 17 veículos de comunicação para divulgar uma lista com os alvos de espionagem obtidos pela ONG de mídia Forbidden Stories e pela Anistia Internacional.

Dentre os nomes, o presidente francês Emmanuel Macron, bem como outros 14 membros do governo da França, o político indiano Rahul Gandhi e ao menos cinco de seus amigos e outros parlamentares, ativistas do Arzebaijão a exemplo de Fatima Movlamli são alguns dos alvos.

A lista inclui ainda Loujain al-Hathloul, ativista pelos direitos das mulheres na Arábia Saudita, o jornalista independente Cecilio Pineda Birto, mais de 180 jornalistas internacionais e outros milhares de mexicanos, já que estima-se que ao menos 15 mil números de celulares no país foram infectados.

Dispositivos móveis

Estimativa é de que milhares de aparelhos móveis tenham sido infectados ao redor do mundo – Imagem: Gabriel Freytez/Pexels

Importante ressaltar que não há um número concreto de todos os alvos do Pegasus. As informações foram obtidas com base nos mais de 50 mil números de telefones em mais de 45 países investigados pelo consórcio.

De todo modo, os governos agora devem pressionar o NSO Group para a divulgação de mais informações dos clientes e encontrar medidas para impedir essa perseguição contra alvos predefinidos. Do contrário, os riscos podem tomar dimensões ainda mais preocupantes.

Via: UOL/G1

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