A compra de um produto qualquer pode ser concluída em questão de minutos. Mas quando esse “produto” envolve outras empresas, o processo pode durar meses (até anos). Em setembro do ano passado, a Nvidia anunciou a aquisição da Arm por cerca de US$ 40 bilhões. Um ano depois e a transação ainda depende de aprovações regulatórias.

Não que isso não fosse esperado. Fundada em 1990, a britânica de tecnologia é mundialmente conhecida pelo desenvolvimento de microprocessadores e, se fosse classificada em um ranking formado por empresas da indústria de processadores móveis, ela certamente estaria no topo.

E por atender gigantes como Apple, Qualcomm e a própria Nvidia, a missão da fabricante de GPUs não seria nada fácil. A lógica é simples: ao adquirir o equivalente à uma “fonte de tecnologia” que alimenta toda a indústria móvel, as gigantes do setor temem que a Nvidia amplie seu poder e passe a dominar outros mercados.

Aliados e inimigos

Naturalmente, a grandiosidade dessa transação criou uma divisão entre empresas que apoiam e companhias que são contra a aquisição. Mas assim como na política ou em qualquer segmento do mundo de negócios, tudo é baseado em interesses.

Gigantes como Qualcomm, Huawei e a Samsung são publicamente contra a compra, já que, por estarem no topo de seus respectivos mercados, tenderiam a perder se o negócio fosse concretizado — se a Apple comprasse o McDonald’s, Burguer King e outras concorrentes também ficariam com “medo” do investimento, não?

Logo da empresa Arm

Arm é considerada uma verdadeira fonte de tecnologia para o mercado móvel. Divulgação: Arm

Por outro lado, a Nvidia ganhou apoio da Broadcom, Marvell e Mediatek, por exemplo. Se a compra desacelerar as concorrentes do topo, a tendência é que essas empresas menores diminuam a distância às companhias da primeira prateleira.

Existem ainda as empresas que demonstram neutralidade sobre o processo, como a Apple. A big tech tem trabalhado para o desenvolvimento de seu próprio trabalho, de maneira a se tornar menos dependente da Arm. Ainda assim, empresas que não se posicionaram em nenhum dos lados são minoria.

Autoridades

Os aliados e inimigos até podem influenciar na conclusão da negociação, mas serão as autoridades regulatórias quem darão a palavra final. Mesmo que nenhuma das empresas envolvidas sejam chinesas, a China está analisando a compra por ser um grande mercado da Arm. Mas fato é que o país asiático tem agido lentamente para aprovar (ou não) a compra.

Já a Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido parece não estar muito confortável que todo esse “poder” ficará em mãos de uma empresa americana. Não que isso fosse novidade, já que a Arm é de propriedade da japonesa SoftBank desde 2016.

Apesar dos pesares, o órgão britânico sugere que a aquisição da Nvidia traria prejuízos a competitividade e perda de inovação, ponto que é considerado como um grande risco para barrar a negociação.

Foto de martelo do tribunal

Aquisição precisa ser aprovada por Reino Unido, União Europeia e China. Foto: Bill Oxford/Unsplash

O que diz a Nvidia

Naturalmente, a Nvidia tenta convencer os órgão reguladores afirmando que a empresa pretende “manter o modelo de licenciamento aberto da Arm, atendendo clientes em qualquer indústria em todo o mundo”. A tese é de que a junção dos serviços de ambas as companhias criaria ofertas mais amplas para todos os clientes.

A fabricante de GPUs afirma ainda que:

  • colocar em risco o fluxo de receita da Arm não seria do interesse da empresa;
  • os contratos de longo prazo em vigor protegem os licenciados da Arm;
  • a empresa precisa dos atuais licenciados da Arm como parceiros para enfrentar a Intel e a AMD no mercado de servidores;
  • contribuirá para as licenças da Arm;
  • um esforço conjunto será necessário para construir um novo ecossistema em torno da Arm, incluindo desenvolvedores de software, fornecedores de hardware e outros designers de chips.

Estes são bons argumentos, mas existem grandes parênteses no meio de tudo isso. A Nvidia reforça a manutenção do licenciamento aberto da Arm, mas isso não significará que “todos os clientes recebam exatamente os mesmos produtos ou acesso”.

Além disso, em um possível cenário de aprovação, a companhia poderia adicionar uma pequena taxa de licenciamento aos processadores da Arm. Na prática, isso significaria chips vendidos a preços maiores. Bom para a Nvidia e para seus investidores. Péssimo para os atuais licenciados da Arm.

As cartas estão na mesa e a decisão agora dependerá dos órgãos reguladores. A Nvidia tem bons argumentos em seu favor, mas o burburinho da oposição pode complicar o processo. Por ora, é difícil cravar algo. Somente os próximos episódios da aquisição vão demonstrar qual lado acabará com um final feliz.

Fonte: ZDNet

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