Acusado por vazar informações confidenciais da agência de espionagem norte-americana ao WikiLeaks, Joshua Schulte, ex-engenheiro de software da CIA foi condenado na última quarta-feira (13) por violar a Lei de Espionagem por um júri federal em Nova York.

Desde março de 2020, Schulte enfrenta acusações sobre os vazamentos relacionados ao caso que ficou conhecido por ‘Vault 7’, cujo material revelou como a CIA invadia iPhones, Androids e televisores Samsung e convertia microfones dos dispositivos em escutas para espionar pessoas visadas.

Júri considera ex-programador da CIA culpado por vazar material ao WikiLeaks

Imagem: Reprodução/WikiLeaks

As ferramentas de hacking usadas pelo o que o WikiLeaks descreveu como “uma rede isolada e de alta segurança situada dentro do Centro de Inteligência Cibernética da CIA” também incluíam malwares desenvolvidos para infectar usuários de Windows, além do acumulado de  vulnerabilidades de segurança em software e hardware que poderiam ser usados em operações secretas em vez de notificar empresas e usuários não alvos que corriam risco de serem invadidos por quaisquer outros autores.

O julgamento da quarta-feira foi o segundo do ex-funcionário da CIA. Embora na primeira audiência, em março de 2020, tenha havido anulação de várias acusações contra a Lei de Espionagem, Schulte foi culpado por desrespeito ao tribunal e de mentir ao FBI.

Na quarta, ele também apresentou argumentos de defesa do seu caso, ao contrário do primeiro julgamento. Ele negou novamente que não foi a fonte de vazamento de informações publicadas pelo WikiLeaks em 7 de março de 2017, data em que o site começou a liberar os documentos.

O caso marca um dos maiores vazamentos de informações na história da CIA, arranhando a reputação do então diretor da agência, Mike Pompeo, que respondeu rotulando o WikiLeaks como uma “agência de inteligência hostil não estatal”. Mais recentemente, foi descoberto que Pompeo e pessoas do alto escalão da inteligência chegaram a desenvolver “planos secretos de guerra” contra a organização de mídia, os quais incluíam sequestro e até mesmo assassinato de Julian Assange, fundador do WikiLeaks.

Júri considera ex-programador da CIA culpado por vazar material ao WikiLeaks

Imagem: LapaiIr Krapai/Shutterstock.com

Embora já se tenha anunciado o veredito, deliberado pelo júri por quase três dias, o juiz Jesse M. Furman no Distrito Sul de Nova York não marcou a data de sentença por haver outras acusações pendentes contra Schulte.

Falta de provas

Apesar de condenado sob oito acusações de espionagem e uma acusação sendo de obstrução sobre o vazamento do Vault 7, os promotores norte-americanos nunca apresentaram nenhuma prova forense que ligasse especificamente o ex-funcionário à publicação de hacking da CIA no WikiLeaks.

No argumento final, Schulte insistiu seguramente que o procurador assistente norte-americano Michael D. Lockard estava “preocupado com a falta de provas” porque havia dito ao júri que “a falta de provas não é prova de inocência”.

Embora sem provas, Lockard afirmou que o ex-programador “roubou toda a capacidade de inteligência cibernética altamente sensível da CIA” em 20 de abril de 2016, poucos dias após a CIA trancar o réu fora da área segura e restrita da rede.

“Ele estava preocupado que não houvesse artefato forense de um log-in no servidor Confluence [o servidor que permitia aos funcionários compartilhar informações]”, declarou Schulte. “Ele está preocupado que não houvesse artefato forense de um comando de cópia”. E ele está preocupado que não houvesse artefato forense da transmissão para o WikiLeaks. E, finalmente, ele está preocupado que não houvesse nenhum artefato forense de qualquer comunicação entre mim e o WikiLeaks”. Ele deveria estar preocupado ‘porque isso é uma dúvida razoável'”.

A CIA, segundo Schulte, “não tinha ideia de que suas jóias da coroa” tinham sido roubadas até o material aparecer no WikiLeaks. “A CIA estava sob pressão – direi uma tremenda pressão – para descobrir o que foi vazado, como foi vazado e quem o vazou. Eles queriam responsabilizar alguém pelo vazamento, e assim começaram imediatamente uma investigação, uma investigação que se concentrou em mim”.

O vazamento deixou a agência de inteligência em “más condições” em novembro de 2016. “O agente principal do FBI admitiu que eles não tinham sequer entrevistado uma única testemunha da CIA. Eles ainda nem haviam terminado de apreender a rede DevLAN [que armazenava todo o código fonte para ferramentas de hacking], quanto mais de fato a revisaram. Eles não haviam conduzido nenhuma investigação, e ainda assim eu já era o alvo de sua investigação”, disse.

“Então, dentro de uma semana, o FBI inventou uma teoria impossível de que o crime do WikiLeaks ocorreu em 7 de março de 2016, porque foi precisamente um ano antes dos vazamentos. Foi um dia em que muitas outras pessoas estavam em um gerente fora do local, e eu fiquei sozinho no escritório sem ninguém para ver o que eu estava fazendo. E assim o FBI argumentou que eu devo ter roubado os arquivos da CIA”, acrescentou Schulte.

O ex-funcionário era conhecido como a “opção nuclear”, segundo Frank Sedman, colega de trabalho de Schulte. “Não tinha nada a ver com alguém propenso a vazar informações confidenciais”. Ele não se fazia de simpático”, testemunhou.

“Se havia, tipo, um projeto ou algo que não queríamos fazer ou achávamos que era uma má ideia, a piada era que podíamos trazê-lo para a reunião e ele dizia ao cliente na cara deles que eles eram estúpidos, que a ideia deles era estúpida, que nós não íamos fazer isso”, disse Stedman.

Durante ambos os julgamentos, em certos momentos, Schulte chegou a expressar ser contra vazamentos, sugerindo que Edward Snowden era um traidor que merecia ser executado, de acordo com os testemunhos.

Houve por parte dos promotores uma tentativa de impedir a insistência de Schulte de que havia informações no material do ‘Vault 7’, já disponíveis publicamente. Logo, o governo não havia tomado medidas para protegê-lo e ele não poderia ser culpado por violar a Lei de Espionagem.

Em janeiro, Schulte também reclamou do tratamento cruel e desumano no Metropolitan Correctional Center de Nova York (MCC). (A prisão foi fechada em função da deterioração das condições em agosto de 2021).

Júri considera ex-programador da CIA culpado por vazar material ao WikiLeaks

Imagem: Jim.henderson/Wikimedia

“Os presos do SAM (medidas administrativas especiais) são trancados em caixas de concreto do tamanho de vagas de estacionamento com vistas propositalmente obstruídas do exterior. As prisões são sujas e infestadas de roedores, excrementos de roedores, baratas e mofo”.

“Não há aquecimento ou ar condicionado nas prisões. Não há encanamento funcionando. As luzes queimam intensamente 24 horas por dia, e é negado aos detentos a recreação externa, o comissário normal, a visitação normal, o acesso a livros e material legal, cuidados médicos e odontológicos”.

Outras condições restritivas ainda continuam sob imposição do procurador geral Merrick Garland, como veto à comunicação com jornalistas e qualquer preso, além do monitoramento de um agente do FBI nas comunicações com familiares próximos.

 

Com informações de Shadowproof e Reuters

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