Traços no Angry Birds, sinfonia do Sonic, líderes de grandes desenvolvedoras comandando estúdios produtivos ou buscando novos talentos: brasileiros estão com tudo na indústria de games e trabalham cada vez mais no exterior. Conversamos com alguns desses profissionais que estão arrasando lá fora para descobrir como chegaram lá e quais dicas imperdíveis podem compartilhar com quem pensa em seguir os mesmos passos.

Confira tudo isso e muito mais neste especial de 3 partes, exclusivo do TecMasters — começamos por conhecer um pouco mais sobre o dia a dia desses profissionais. Vem com a gente?

A vista de cima: o dia a dia no desenvolvimento games

Trabalhar com games é o sonho de muitos jogadores. Ter uma carreira longeva e cruzar oceanos é ainda mais incrível e é a história dos entrevistados do nosso especial. Como se não fosse o bastante, os profissionais da indústria de games se destacam por reinventar-se constantemente e tirar de letra desafios muito interessantes.

A percepção do que seria o primeiro obstáculo, inclusive, foi unânime: todos concordaram que dominar o inglês é muito importante para os profissionais. Além disso, há outras skills e dicas trazidas por esses especialistas brasileiros.

Scylla Costa trabalha na BioWare (Mass Effect, Dragon Age), no Canadá, desde 2008. Antes, estava na Finlândia, para onde foi depois de sair da empresa que criou em Pernambuco.

Giordano Lins está no Canadá há 3 anos e faz parte da DontNod Entertainment (de Life Is Strange), um estúdio de jogos francês com uma filial em Montreal. Trabalha atualmente no cargo de Build Release Specialist, literalmente construindo as versões de lançamento dos jogos.

Sara Machado, há 4 anos em Londres, uniu seu talento em conectar pessoas ao seu amor por games e se tornou recrutadora para este mercado, trabalhando atualmente na Hitmarker.

Life is Strange True Colors

Reprodução: divulgação/Square Enix

Perseverança e aprendizado

Os profissionais brasileiros que trabalham com games no dia a dia gostam do que fazem e acumulam conquistas. Para Costa, morar fora é realizar sonhos. Após ter sua empresa de games no Nordeste brasileiro, a Jynx Playware, ele foi trabalhar com games para celulares na Sumea/Digital Chocolate, na Europa. De lá, voltou a cruzar o Atlântico para o Canadá, desta vez para integrar o time da BioWare, que pertence à Electronic Arts.

“Eu sempre me perguntava se brasileiros tinham qualidade para trabalhar em grandes empresas de jogos. Em 2000, não existia nenhum grande desenvolvedor de games no Brasil, apenas pequenos estúdios independentes. Desenvolvi mais de 50 jogos”, conta o desenvolvedor sobre o começo de sua carreira, antes de ir para a Finlândia. Costa começou seu aprendizado com o primeiro computador que teve, aos 9 anos: um TK-90X.

TK-90X

Imagem: Wikimedia

Para Costa, a dica de ouro é acertar no objetivo. “O mais importante não é trabalhar no exterior, e sim trabalhar com o que você gosta”, conta.

Mas, mais do que isso, é ter a mente aberta “para assimilar culturas diferentes”. Com essa dica, ele acredita que o crescimento de qualquer profissional que se arrisque no exterior “será exponencial”.

O desenvolvedor ressalta também que há muitas chances profissionais disponíveis. “Não tenha medo de aplicar para qualquer desenvolvedora. O pior que pode acontecer é você receber um ‘não’. E se quiser trabalhar na BioWare, estamos contratando“, enfatiza.

Já Giordano Lins conta que começou a aprender programação como autodidata. “Quando comecei o curso superior de desenvolvimento de software, eu já tinha uma base de programação.”

Apesar do sonho de trabalhar com jogos, o bom salário que obtinha no mercado tradicional fez com que o dev precisasse engavetar seus objetivos com games por um bom tempo. Lins trilhou a carreira de DevOps até que recebeu o convite do DontNod para trabalhar com games. “Desarquivei o sonho e agora estou extasiado com as maravilhas do desenvolvimento de jogos”, afirma.

“Trabalhar para um estúdio maduro também conta muito. Todos os processos estão bem estabelecidos e está sendo muito proveitoso o aprendizado sobre a área. Eu não desenvolvo o projeto diretamente, mas o processo completo passa necessariamente por mim, já que eu sou o responsável por garantir que a construção do jogo aconteça com sucesso diariamente e que esse produto esteja compatível com as plataformas PC, PlayStation e Xbox. Estou adaptando todo meu conhecimento da área de negócios para criar pipelines de distribuição de jogos, o que está sendo bem interessante”, relata o desenvolvedor.

A dica de Lins para se dar bem no mercado é apostar nas habilidades. “Para o mercado de jogos, aprender uma engine como Unity ou Unreal faz muita diferença”, enfatiza. “Além disso, as empresas costumam utilizar Jira, Perforce e Git. Aprender essas ferramentas e tê-las no currículo provavelmente irá atrair os olhos de um recrutador”, completa.

Brasileiros: necessários para diversificar o mercado de games

Para Sara Machado, o caminho trilhado para trabalhar com games foi jogando. “Eu sempre fui muito fã de Age of Empires e games de estratégia em geral”, conta a profissional formada na UFRJ.

“Estudei defesa e gestão estratégica internacional e vim fazer um intercâmbio no King’s College. Nem sabia que games era uma área que se podia trabalhar, comecei na área de recrutamento para tecnologia e quando me especializei em games, consegui unir meus interesses favoritos”, conta.

Agora, Sara procura abrir as portas para outros profissionais brasileiros que queiram seguir carreira no mercado de games. “Temos de repensar como encontrar e selecionar pessoas, pois esse mercado tem características muito específicas”, explica, citando como exemplo um processo seletivo recente que realizou para uma empresa especializada no desenvolvimento de jogos sobre trens. “Entender e gostar desse universo era muito importante”, pontua.

Brasileiros Hitmarker

Imagem: Hitmarker

Como chefe de recrutamento na Hitmarker, empresa com vagas para o setor de games com mais de 100 mil vagas no Brasil e no mundo, Sara afirma que uma das demandas mais urgentes é diversificar a indústria. “Quando comecei, percebi a dificuldade no mercado de encontrar profissionais latino-americanos, sendo que nos eSports, por exemplo, somos até 12% da audiência mundial”, analisa.

“Diversificar a indústria é uma demanda urgente”, diz.

Atualmente, Sara é embaixadora do Women in Games, uma organização que promove mais diversidade no mercado de jogos eletrônicos. “Há novos grupos de gamers LGBTQIA+ e de acessibilidade para games que são muito importantes para conseguirmos expandir o mercado”, explica.

Autora de uma pesquisa sobre diversidade nos games para a Hitmarker, ela aponta que as empresas de jogos eletrônicos também estão mudando a forma de recrutar para atrair diversidade e profissionais com mais interesses na progressão de carreira.

Ela conta no estudo que cerca de 50% dos gamers vêm da região Ásia-Pacífico, 15% do Oriente Médio e África, 14% da Europa, 10% da América Latina e 7% da América do Norte. Gêneros também variam: 45% dos gamers nos EUA são mulheres, número que sobe para 50% no Reino Unido e na Europa.

“No entanto, quando olhamos para desenvolvedores e pessoas trabalhando na indústria dos games, elas não representam a audiência para a qual criam”, afirma a recrutadora, no estudo.

Ainda de acordo com o levantamento feito pela especialista, no censo da indústria de games do Reino Unido em 2020, 70% de todos os membros da equipe eram homens, 28% mulheres e apenas 2% não-binários. Sua divisão étnica estava em 90% brancos, 6% asiáticos, 2% negros e 2% mestiços.

Assim como o mercado de recrutamento para empresas de games está mudando, as próprias companhias estão se reinventando. A necessidade de inovar em cenários nascentes ou emergentes, como os criptogames, tem transformado a indústria. Brasileiros estão envolvidos em várias iniciativas inovadoras no setor, fazendo até mesmo com que a composição de uma sinfonia para um personagem célebre se tornasse um marco na história dos games.

Curtiu? Saiba mais no próximo texto da série – Imagem, som e blockchain: como os brasileiros estão inovando nos games

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