Uma colisão de muito sucesso, é assim que poderá ser definida a queda do foguete do SpaceX na Lua. O pedaço de nave está desgovernado no espaço e o astrônomo Bill Gray já anunciou que ele colidirá com o solo lunar. Isto deve acontecer no início de fevereiro e astrônomos comemoram. O motivo? Mesmo sem intenção, o impacto ajudará a conhecer mais sobre a superfície da Lua.

Conversamos com astrônomos sobre os acontecimentos e o que devemos esperar. Ao que parece, a colisão pode mesmo significar um avanço para a ciência e virar espetáculo ao vivo no YouTube.

Acidente espacial na live

Cristóvão Jacques, astrônomo participante do Observatório Sonear e do canal AstroNeos, afirmou que o acidente espacial poderá, até certo ponto, ser acompanhado e narrado. O AstroNeos deve tentar comentar sobre o foguete e sua queda.

“Possivelmente, no início de fevereiro, 7 ou 8, ele vai ter uma janela de observação aqui da Terra. Muita gente vai tentar observar. O observatório Sonear, que faz observação de asteróides, satélites e cometas, deverá observar. Poderemos até transmitir no AstroNeos no YouTube”, conta ao TecMasters.

Segure a ansiedade pois não vai dar para ver tudo em detalhes, conforme a explicação do astrônomo. “Vamos ver se observamos e, com essas observações, podemos calcular melhor onde ele vai cair na Lua. Deve cair no lado oculto da Lua, o lado oposto, que não vemos da Terra. Assim, infelizmente aqui da Terra não deve dar para testemunhar o impacto. Talvez alguma missão da Nasa, que estiver passando, possa fazer alguma imagem”. E a queda deve acontecer só em 4 de março.

Foguete SpaceX Lua

Imagem: SpaceX

Quem pode ser apontado como condutor responsável pelo acidente é mesmo a SpaceX. “O foguete lançador é da SpaceX, então a responsabilidade pela queda é deles”, explica Jacques. “Caso o foguete caísse com a carga científica (amostras, por exemplo), aí poderia ser de responsabilidade do Programa Espacial dos EUA, mas como é propriedade da SpaceX, o dano é deles, mas não vão ter nenhuma punição por causa disso, ainda mais por ser na Lua”.

Jacques afirma que a queda não terá impacto negativo na Lua. “Apenas vai criar uma cratera, talvez de 10 a 20m de diâmetro”, mas nenhuma mudança na órbita.

Outras naves que pousaram ou colidiram com a Lua fizeram isto propositalmente e com interesse científico. “Sem ser algo programado é a primeira vez”, enfatiza. Os foguetes podem ficar no espaço quando acaba sua missão, isto já aconteceu em missões anteriores.

Professor de astronomia lembra do direito espacial

Quando um veículo desgovernado é lançado no espaço, não tem multa, ainda. O professor de Astronomia e colaborador da Seara da Ciência da UFC, Ednardo Rodrigues, lembra que o poder da lei é limitado no espaço.

O fato é que “o direito espacial ainda é algo que está sendo construído entre as nações”.

“Estamos falando do segundo estágio do foguete Falcon 9 da SpaceX. Mesmo tendo sido lançado ao espaço, o material ainda é propriedade da empresa que foi contratada para colocar um satélite no ponto de Lagrange L1. Não há com o que se preocupar, mas as empresas responsáveis por lançar foguetes são responsáveis pelo o que se possa acontecer com eles e por seus possíveis danos”, explica em conversa com a equipe do TecMasters.

A sorte é que ninguém deve reclamar da batida, a não ser que algum alienígena na Lua decida prestar queixa. “Não haverá impactos negativos. A região onde o segundo estágio cairá será no lado distante da Lua, um lugar já muito atingido por asteroides que podem causar impactos muito maiores. Pelo contrário, o impacto é tão previsível que podemos usar para estudar o ‘subsolo’ lunar”, complementa.

Impacto na Lua

Outros impactos de objetos e naves humanas na Lua (Imagem: )NASA/GSFC/Arizona State University

Ainda assim, é um evento único, diz o professor. “Esse é o primeiro impacto lunar artificial não planejado da história. Outros impactos planejados já ocorreram. Em 2009, a Nasa lançou um foguete e uma sonda sobre a Lua para tentar comprovar a existência de água por lá. Durante o Programa Apollo, era comum lançar os terceiros estágios dos foguete sobre a Lua para testar os sismógrafos deixados por lá”.

E afinal, o que aconteceu? Como o foguete pode ter perdido o prumo? O professor explica que “para um foguete conseguir deixar o planeta Terra ele precisa atingir no mínimo, 40.340 km/h. É provável que o sistema autônomo do Falcon 9 tenha reduzido a velocidade para cumprir sua missão que era colocar um satélite no ponto de Lagrange L1, que fica entre o Sol e a Terra, porém muito mais próximo da Terra”. Pode ter sido aí que o objeto desandou. No entanto, “mesmo que o segundo estágio voltasse para a Terra, ele se desintegraria na nossa atmosfera”.

Alguém vai ter que limpar no futuro

Para Ednilson Oliveira, físico, astrônomo e professor dos colégios Santa Maria e Dante Alighieri, não há impactos imediatos da queda do foguete.

“Não sabemos se futuramente pode significar algo. Como existe a intenção de colonizar Marte e a Lua ser um ponto no caminho, talvez no futuro tenha uma missão para coletar esses destroços”, pontua o professor.

O Falcon 9 lançou um satélite no espaço em 2015 e o estágio 2 “ficou realmente perdido no espaço e foi reencontrado nessa virada de ano”, lembra o professor. “Ele não tava sendo monitorado pois eles perderam mesmo os dados desse estágio”. Ainda que a responsabilidade seja da SpaceX, o professor explica que “não tem muito o que fazer, ainda bem que vai colidir com a Lua e não com a Terra. Embora a Terra absorva bem, pois praticamente ele se incendiaria na hora que entrasse na atmosfera, parte dele ainda poderia cair em algum lugar”.

O professor concorda que a queda pode ser importante para estudar melhor a Lua. Sendo assim, só podemos apreciar o espetáculo e esperar que a ciência faça bom proveito do episódio espacial.

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