Um mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mostrou que as edtechs representam hoje o maior segmento entre startups no País, respondendo por uma fatia de 17,3% do mercado. E foi durante a pandemia que elas ganharam grande relevância, especialmente por conta do isolamento social que culminou no fechamento de escolas e, por outro lado, no impulsionamento das aulas online.

O ensino a distância, nesse sentido, ganhou tração. No período pós-início da pandemia, o aumento no número de matrículas em cursos EAD foi de 50% , de acordo com o Censo EAD BR, apresentado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) durante o 27º Congresso Internacional, ocorrido em março.

O mesmo levantamento mostrou a importância das edtechs para o ensino híbrido: elas foram o ponto-chave para permitir a combinação entre aulas presencias e virtuais — modelo este visto hoje como um dos principais futuros para uma educação mais rica e voltada ao aluno.

Ou como afirmou Marcos Kutova, um dos autores do levantamento da ABED, “as experiências de praticamente todas as instituições em 2020 e 2021 com o ensino online, síncrono ou assíncrono, serão um forte impulsionador dessa modalidade nos próximos anos”.

Mas afinal, quais as principais tendências e desafios do mercado de edtechs? O TecMasters conversou com três líderes de empresas do segmento para entender melhor esses pontos. Os principais insights dos bate-papos você pode ver a seguir.

Delinea e a necessidade da personalização do ensino

O formato de atuação da Delinea consiste na oferta de conteúdos para Instituições de Ensino (IES) e na plataforma Deduca, que ajuda empresas ou IES a produzirem e gerenciarem sozinhas seus materiais didáticos. É assim, por meio da startup, que Larissa Kleis decidiu aportar seus esforços dentro do mercado de educação, no qual ela atua há pelo menos 15 anos.

Para a cofundadora e CEO da empresa, as edtechs ganharam mais força na última década no Brasil e a pandemia foi ponto de virada que transformou a educação online, trazendo grande avanço. “Tivemos críticas, mas essas são base para qualquer crescimento”, enfatizando que críticas também são uma verdade para a modalidade presencial.

A transformação foi tamanha, que o ensino híbrido e a acessibilidade se tornaram duas áreas em crescimento e, hoje, representam um futuro diferente para o ensino. Facilitado pelo acesso a redes sociais e celulares bem disseminado no Brasil, o ensino híbrido tem tudo para ficar. “A acessibilidade dos cursos deve ser pensada pelas Instituições, mas é certo que a realidade hoje permite soluções criativas para atender praticamente todas as necessidades”, explica Larissa.

Edtechs

Imagem: Mars/Unsplash

O ecossistema Simplifica e a relação com o mercado

Fernanda Furuno começou sua empreitada no mercado de edtechs após ter a oportunidade de formação no Vale do Silício. Isso foi em 2014 e, de lá para cá, a paixão só cresceu.

Em 2021, toda a caminhada se consolidou em um ecossistema para promoção desse tipo de empreendimento: “Reuni as empresas Blox, B42, DKS, DreamShaper, Elos, Gomining, Hotscool, Lexp, Realize, Workalove e MyConsulting Brasil e criei o Ecossistema Simplifica“, conta a empreendedora.

Fernanda concorda com Larissa ao afirmar que os últimos anos foram os mais prósperos para as startups do segmento de educação, especialmente no período de pandemia. “Houve uma oportunidade ímpar de crescimento e desenvolvimento das edtechs nos últimos anos e que, de certa forma, foi impulsionado pela necessidade de adoção rápida de tecnologias para alavancar o ensino remoto”, afirma.

Na opinião da executiva, o momento atual após o pico da pandemia é de um mercado edtech mais maduro e organizado.

Edtechs

Imagem: Arthur Lambillot/Unsplash

Fernanda aposta, ainda, no ensino híbrido como principal tendência para os próximos tempos. “Acredito muito na educação e no potencial de cada uma das modalidades, o artigo do professor Celso Niskier sobre os quadrantes híbridos traz um pouco desse cenário”, indica.

Em se tratando de mercado, há sempre um questionamento do papel das Big Techs dentro da educação — e até mesmo uma preocupação com relação às startups conseguirem ou não se sobressaírem em um cenário tão competitivo quanto é o da tecnologia.

Mas, para Fernanda, um bom relacionamento entre startups e gigantes da TI pode resultar em inúmeros cenários de evolução. “Tenho me surpreendido com as oportunidades que grandes organizações têm aberto e no apoio que dão a startups. Vejo tudo com bons olhos”, afirma. “Não é canibalismo, é parceria e geração de novos produtos e negócios.”

EXP For School e a abertura de espaço para as edtechs

Bruno Oliveira está no mercado de edtechs desde 2015. Com dois sócios, fundou o Explicaê, uma startup focada em educação básica, e em 2020 cocriou a holding EXP Education, onde atualmente atua como CEO.

Para ele, um dos principais desafios para as edtechs hoje é que “mais de 80% do setor de educação está nas mãos do poder público (municípios e estados), o que acaba acarretando em mais burocracia, menos agilidade e baixíssimos índices de investimento em inovação”.

Por outro lado, o cenário logo após o pico da pandemia foi o que impulsionou a abertura de portas para as edtechs. Foi também nesse momento que as instituições de educação perceberam que soluções prontas não eram o ideal, pois não resolviam os problemas internos e as demandas particulares.

“De certa forma, as Big Techs abriram caminho para que as instituições adotassem novas soluções, mas em contrapartida, em um dado momento, essas soluções precisavam ser mais personalizadas, e nesse contexto, o espaço se abriu para as edtechs”.

Para ele, a abertura foi tão sólida que, ainda durante a crise sanitária, o grupo conseguiu fechar parcerias com o setor público, como com o Governo do Estado de São Paulo, de Sergipe e do Amazonas. “As parcerias foram muito importantes para nós, e conseguimos oferecer a nossa plataforma para mais de 2 milhões de alunos no Brasil”, comemora o executivo.

Edtechs

Imagem: Edgar Moran/Unsplash

Agora, com as aulas retornando ao presencial, o grupo reconhece o ensino híbrido como uma tendência forte. “É a integração de diferentes momentos de aprendizagem com foco na personalização. Alunos podem aprender em aulas expositivas sim, mas também por meio de projetos, debates, exercícios online, pesquisas teóricas e de campo, entre outros métodos que tiverem uma intenção pedagógica. Alternam-se momentos individuais e em grupo, online e offline, presenciais e à distância”.

Oliveira acredita que o cenário permanecerá favorável às edtechs por muito tempo. A esperança, no entanto, é com relação a uma mudança na mentalidade para proporcionar um ensino mais interessante e personalizado. “O que podemos esperar do futuro é que tenhamos novas soluções para melhorar o processo de ensino aprendizagem. Um mercado e público mais aberto para uma educação mais humana, mais inclusiva, mais democrática”.

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