No último final de semana, um asteroide mais ou menos do tamanho de um carro utilitário esportivo (SUV) passou tão perto da Terra que a sua órbita foi permanentemente alterada, de acordo com o sistema de detecção de objetos próximos da agência espacial norte-americana (NASA).

Pela agência, o asteroide identificado como “2023 BU” passou na manhã da última sexta-feira (27), às 9h27 (horário de Brasília), sobrevoando a ponta da América do Sul a uma distância de pouco mais de 3,5 mil quilômetros (km). A NASA disse que essa é uma das distâncias mais próximas de uma passagem pela Terra – para fins de comparação, satélites geossíncronos como os da SpaceX estão a 35 mil km em média.

Análise gráfica do asteroide 2023 BU: nossa gravidade "expulsou" o objeto para longe da Terra, alterando a sua órbita

Análise gráfica do asteroide 2023 BU: nossa gravidade “expulsou” o objeto para longe da Terra, alterando a sua órbita (Imagem; NAS/JPL-Caltech/Reprodução)

A passagem do asteroide foi somente isso – uma passagem – e o objeto apresentou zero risco de impacto com a Terra. Mesmo que fosse esse o caso, no entanto, a NASA informa que seu porte pequeno – algo entre 3,5 e 8,5 metros de diâmetro – não resistiria ao processo de entrada na nossa atmosfera, se queimando e se desintegrando totalmente. No máximo, um ou outro pedacinho poderia chegar ao solo na forma de um meteorito.

“Uma rápida varredura descartou a possibilidade do 2023 BU ser um objeto de impacto, mas apesar das poucas observações, fomos capazes de antecipar que o asteroide faria uma aproximação extraordinária à Terra. De fato, essa é uma das passagens mais próximas feitas por um objeto conhecido próximo à Terra que já registramos.” – Davide Farnocchia, engenheiro de navegação da NASA

O 2023 BU, inclusive, só foi descoberto em sua abordagem, por Gennadiy Borisov, em uma estação de observação na Crimeia. A passagem, no entanto, foi próxima o suficiente para que a nossa influência gravitacional alterasse seu curso para sempre: antes do encontro com a Terra, o asteroide tinha uma trajetória circular, com seu “ano” durante cerca de 359 dias ao redor do Sol – agora, análises após a chegada indicam que a sua órbita tem o formato de uma elipse (imagine sentar em uma bola de futebol até seu peso a deixar oval), com o “ano” dele ampliado para 425 dias de duração.

Algum asteroide oferece risco à Terra?

A agência espacial a serviço do governo norte-americano mantém um sistema bastante robusto de busca e detecção de objetos celestiais que possam ameaçar a Terra. E segundo esse sistema, coisas do tipo ocorrem repetidas vezes ao ano. A isso, damos o nome de “evento de impacto”, mas na maioria, eles são pequenos em escala e não causam alterações que justifiquem qualquer alarmismo. Raramente, no entanto, alguns episódios têm resultados mais intensos.

Um caso relativamente recente – ou tão “recente” quanto 10 anos o permitem ser – foi o Meteorito de Chelyabinsk, que atravessou o céu da Rússia ao entrar pela região dos montes Urais: o classificado “superbólido” de 20 metros entrou em nossa atmosfera a um ângulo bastante acentuado, a uma velocidade aproximada de 69 mil km por hora (km/h) – durante o processo, em alguns momentos a luz de sua descida foi mais brilhante que a do Sol.

O mais interessante é que o Meteoro de Chelyabinsk em si não tocou o solo – ele “apenas” explodiu muito perto do chão, causando uma onda de choque maior que cerca de 30 vezes maior que as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Vários fragmentos, no entanto, fizeram contato.

Imagem de um fragmento do Meteoro de Chelyabinsk

Um fragmento do Meteoro de Chelyabinsk está preservado em um museu na Rússia (Imagem: Lumaca/Wikimedia Commons)

Eventos desse tipo são bem raros de ocorrer, e na maior parte dos casos, a NASA sabe exatamente onde estão, para onde vão e como são os asteroides e objetos mais preocupantes – este mesmo só “escapou” por ter sua passagem próxima demais do Sol (imagine que nossa estrela “o escondeu” até que ele chegasse perto demais).

Mas claro, não foi isso que você perguntou: afinal, um asteroide poderia se chocar com a Terra de alguma forma globalmente preocupante? Bem, sim e não.

Obviamente, quando buscamos na memória histórica, facilmente lembramos do impacto que gerou a Cratera de Chicxulub – que você talvez reconheça como o “asteroide que matou os dinossauros” – debaixo da Península de Yucatán, no México. Comparada ao evento em Chelyabinsk, essa rocha era até menor. O problema é atribuir a ele o fim dos animais que já dominaram nosso planeta, quando na verdade o problema começou “depois” dele.

A bem da verdade, para um asteróide efetivamente destruir a Terra, ele teria que ser…do tamanho da Terra, mais ou menos. Os dinossauros morreram graças aos efeitos do choque de um asteroide (tsunamis, bloqueio do Sol e a era do gelo que matou a comida etc.), mas o planeta ficou aqui, eventualmente abrindo caminho para a dominância dos mamíferos e, eventualmente, do homem.

Existe, inclusive, uma teoria que atribui a isso o nascimento da Lua: há 4,5 bilhões de anos, um corpo planetário chamado “Theia” – mais ou menos do tamanho de Marte, se chocou com a Terra, despejando destroços pelo espaço, até eles coalescerem na forma do nosso satélite. Ao invés de acabar com a Terra, no entanto, nosso planeta e “Theia” meio que fundiram seus núcleos, formando a nossa atual casa.

E é neste ponto que fica a resposta que você procura: estimativas da NASA indicam que uma pancada direta com qualquer objeto de mais ou menos um quilômetro de diâmetro seria suficiente para acabar com a vida na Terra, devido às consequências do choque, tal qual ocorreu com os dinossauros. Em suma, é incrivelmente difícil destruir a Terra, mas é relativamente fácil acabar com a vida dentro dela.

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